Carregando aguarde...
Itapira, 20 de Abril de 2024
Artigo
17/09/2011 | A minha primeira coca-cola.

Bem que se diz. Tudo na vida tem a primeira vez. Todos passam por isso e continuarão passando até o fim dos tempos. Já dizia uma propaganda famosa, que o primeiro sutiã a mulher nunca esquece.  De fato. Certos acontecimentos, quando inaugurados, permanecem presentes na nossa memória, como um filme bem armazenado.  

Lembro-me, como se fosse hoje, do dia em que eu consegui nadar crawl, no Porto do Luca, de onde chamei meu amigo João para que compartilhasse a alegria daquele momento. Tive um aprendizado solo à custa de várias tentativas e decepções. Naquela hora nem passou pela minha cabeça que estávamos “de mau”, estávamos há dias sem se falar, e ele, também, não fez questão desse detalhe. Assim como nunca me esqueço do primeiro beijo na primeira namorada, num quartinho com menos de dois metros quadrados, que ficou menor ainda, depois do inchaço da paixão. E como eu poderia apagar da minha memória, o meu primeiro porre?  Meu pai não era abstêmio, mas detestava bêbado que dava trabalho para as outras pessoas. Naquela noite, diante dos meus exageros de principiante, ele cuidou de mim, limpou as consequências retroativas da minha comilança e - não sei se foi de caso pensado ou por feeling paternal - me ensinou com o silencio, sem sermão, e quando acordei e pedi água, no dia seguinte, ele não veio com um copo, mas com um belo canecão, quase cheio. Enfim, tenho tantas primeiras vezes gravadas nas minhas lembranças, as confessáveis e as não, como todo mundo. Mas uma, considero especial, talvez por imaginar certa originalidade:  o dia que bebi a primeira coca-cola.

Pois é, eu me lembro desse dia. Eu estava no sexto ano de vida. Naquela época, talvez nem tivesse coca-cola por aqui, eu, pelo menos, não a conhecia. O único bar que eu frequentava de passagem, com o meu pai, de vez em quando, era o do armazém do Beppe Sartori, na esquina da Francisco Glicério com a General Osório, pertinho da minha casa. O máximo que eu fazia lá era saborear um refrigerante itapirense, o tutti-frutti da Itamira. Eu pedia sempre uma garrafa que a gente chamava de “quartinho” e seu Beppe furava com um prego a tampinha, cujo orifício assemelhava-se ao de um canudinho estreito. Era uma delícia. Aquela garrafinha demorava um “tempão” para secar.

Meu pai trabalhava na Fábrica de Chapéus Sarkis e havia um intercâmbio anual - desconfio que fosse organizado pelo sindicato da categoria – entre as cidades de Itapira e Campinas. Um dia os trabalhadores de lá vinham para cá. Noutro os de cá iam para lá.

Numa dessas viagens, eu, meu pai e minha mãe, mais um monte de gente, pegamos o trem da Mogiana, na estação, em direção à cidade de Campinas. A primeira cena que vem aos meus olhos foi quando ao passarmos sobre um rio - não faço a menor idéia de que rio é esse – vi a água lá embaixo e como era muito alto agarrei na janela e puxei, com toda força, o trem inteiro para dentro, para que ele não caísse daquela altura. Salvei todo mundo e chegamos ao destino.

Em Campinas fomos recepcionados na fábrica de chapéus Cury, com um farto lanche matinal, depois, visitamos a fábrica, com meu punho direito colado na mão forte de meu pai, que não me largava de jeito nenhum. Ele era alto e eu ficava o tempo todo com o braço e ombro direito levantados. Depois fomos ao Brinco de Ouro, estádio do Guarani, das cabines avistamos o gramado bonito, esverdeado, o campo inteiro.

Mais tarde, almoçamos, visitamos o Bosque dos Jequitibás e finalizamos o passeio num clube - talvez a sede do sindicato – onde havia música ao vivo e um bar, lá no fundo do salão. Foi nesse lugar que eu experimentei, pela primeira vez, uma coca-cola. No primeiro gole, senti queimaduras leves na boca e por onde ela passava ao descer. Mas não abandonei a garrafa, continuei, e pouco a pouco fui me acostumando com aquele refrigerante de cor diferente e gosto estranho. O sabor daquela coca-cola - acreditem ou não - eu guardo até hoje na minha memória gustativa. Ele nunca se repetiu. Mas ficou muito mais do que um gosto de refrigerante.

Fonte: Nino Marcatti

Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.

Outros artigos de Nino Marcatti
Deixe seu Comentário
(não ficará visível no site)
* Máx 250 caracteres

* Todos os campos são de preenchimento obrigatório

1076 visitantes online
O Canal de Vídeo do Portal Cidade de Itapira

Classificados
2005-2024 | Portal Cidade de Itapira
® Todos os direitos reservados
É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste portal sem prévia autorização.
Desenvolvido e mantido por: Softvideo produções