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Itapira, 17 de Abril de 2024
Artigo
19/12/2010 | Alô, alô telefonista!

Meus filhos e seus contemporâneos não conhecem esse mundo sem televisão. Eu e minha geração nascemos com o rádio. Apesar da pequena diferença entre a transmissão televisiva inaugural da Tupi e as ondas principiantes da Rádio Clube de Itapira - não mais do que seis meses pró Clube - a telinha foi por alguns anos luxo restrito dedicado aos mais abonados, primeiro aos da capital, depois, do interior. Compramos o nosso primeiro aparelho de televisão (Empire, preto e branco) em 1967, graças ao empenho do primo Zé Marcati, na época, vendedor da Casa Rogatto.  Mas isso é outra história. A ZYR-38 me acompanha, desde sempre.

Minha mãe contava que enquanto ela costurava as roupas da sua distinta freguesia, eu ficava acomodado numa bacia de alumínio, ao lado da máquina de pedal Singer, ouvindo o ritmo das batidas da agulha e as programações da Rádio Nacional e da Radio Clube de Itapira. Ali eu brincava com os retroses vazios, outros badulaques e, quase sempre, acabava dormindo no final.

Mais crescido, a “tardinha” era marcada pela cara na rua. Era a hora que meu pai chegava da Fábrica de Chapéus Sarkis. Nós dois, de banho tomado e cheirando a sabonete Gessy, ficávamos na soleira do alpendre olhando para cima e para baixo. Meu pai cumprimentava e conversava com quase todo mundo que por ali passava. Era um pedaço movimentado.  Quase todas as crianças saiam para as suas calçadas naquele horário. O tempo limite era o início do programa Oração da Ave Maria, na Clube. Era a hora da janta.

Parte do meu quarteirão já estava dominada. Eu saía para a rua, sozinho, com desenvoltura. Íamos para as frentes das casas dos amigos que ainda não estavam alforriados. Assim, juntávamos mais gente. No ar uma leve cortina de fumaça se formava do Cubatão à Vila Isaura, cheirando lenha queimada nos fogões que preparavam o jantar. Todos, quase ao mesmo tempo. O fogão a gás chegava devagar. Muitos, apesar de tê-los, não abriam mão do conservadorismo culinário. Dácio Clemente tinha um programa vespertino que depois de afagar os egos das telefonistas, conclamava os ouvintes para acionar a manivela, solicitar a conexão com a Rádio Clube e, depois, falar com o apresentador, pedindo músicas e dedicando-as aos parentes, amigos, namorados e pretendidos. Da rua ouvíamos os rádios ligados na Clube, em todas as casas.    

Nunca fui madrugador, mas sempre que a situação, espontânea ou necessária, propiciava, não perdia a chance de ouvir o grande Zé Coqueiro e os seus comentários bem humorados e engraçados.  Mais tarde compreendi a importância desse comunicador: ele encaminhava os trabalhadores para a dura jornada de trabalho do dia, mais leves, mais felizes, com sorrisos estampados nas faces. Minorava a luta.

Quando comecei a ver a música como lazer e arte da minha época, Paulo Roberto Marin era uma grande referência. Nos meus primeiros passos no pensamento político e social, Toy Fonseca lá estava com seu programa matinal entremeando músicas, notícias e comentários audaciosos para a época, no cerne da ditadura militar.

Em Itapira quase todo mundo conhecia quase todo mundo. A Rádio Clube, além da informação e do entretenimento, unia todos os itapirenses, cuidava até dos laços menos apertados. Hoje, a cidade cresceu, somos mais estranhos uns para os outros. Eu ouço na Clube: parte do noticiário da manhã, entrevistas e as transmissões ao vivo que me interessam.

Parabenizo a Radio Clube de Itapira pelos sessenta anos.  Desejo que seus diretores e funcionários busquem a modernização, adequando-se aos tempos sem abandonar o espírito comunitário do qual foi destinada, usando a agilidade e a amplitude que o meio oferece, efervescendo o nosso sentimento de povo.

Rádio Clube de Itapira: a voz do leste paulista e sul de Minas. O melhor som do interior. Uma vinheta que sempre me encheu de orgulho.  

 

Fonte: Nino Marcatti

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