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Itapira, 19 de Abril de 2024
Artigo
30/10/2011 | As vidas das ruas itapirenses.

 

As datas comemorativas têm a função de nos levar à reflexão. No dia 24 de outubro,  data escolhida para festejarmos o aniversário da nossa cidade, acabei fazendo um passeio imaginativo pelas minhas ruas, nas importâncias construídas em toda minha vida. Imagino, que cada um de nós, itapirenses, temos histórias semelhantes, na composição pessoal, familiar, profissional, cidadã. Histórias que nos colocam no seio do povo, de um povo que somos nós. Assumindo a riqueza dos espaços que ocupamos cotidianamente.

 
Lembrei dos vinte e sete anos que vivi no meu quarteirão da Embaixador Pedro de Toledo, antes da descida para o Cubatão. A antiga Rua do Pescador. Caminho para o Ribeirão da Penha, dos tempos que ele era limpo e piscoso.  A rua que me viu crescer, conquistar as primeiras amizades, os primeiros passos para os estudos, trabalho, passeios, namoros, encrencas, porres... Até o casamento, foi testemunha ocular da minha vida. Ela só não penetrava no meu quarto de dormir.
 
Foi na Pedro de Toledo que conheci as primeiras pessoas estranhas ao seio familiar. Gente diferente, com outros sobrenomes e costumes, mas que agregavam familiaridade pela constância dos encontros. Gente que me levava a sensação de que o mundo era algo maior daquilo que, até então, eu imaginava. Lá estavam os Pelegrinis, Castelanis, Miquilinis, Limas, Antunes, Iorios, Rovaris, Maiatos, Pivas, Donatis, Stefenons, Campos, Moraes... Meus primeiros amigos: João de Lima, Dato, Enio, Jorginho, Helinho, João Carlos, Paulo, Paulinho, Sávio, Sonia, Sueli, Clara, Liliana, Isabel... Nossa! Um monte de gente para as brincadeiras de rua: bolinha de gude, pião, pega-pega, mãe da rua, esconde latinha, balança caixão, rodas, cantorias, histórias normais e de “medo”, piadas e as conversas secretas.
 
Casado, com casa nova financiada pelo SFH, transferi domicílio para a Rua Francisco de Paula Ferraiol, no Bairro São Vicente. Quase oposto à primeira moradia. Os novos vizinhos, os Avancinis, os Francos, os Bianchesis, lá estavam quando cheguei. Foi nessa rua que meus filhos nasceram e viveram suas infâncias e suas brincadeiras. Brincadeiras diferentes das que eu tinha vivenciado, nas mesmas idades. Mas, também, divertidas e contagiantes. Nela meus filhos tiveram contato com o mundo exterior, as caminhadas nas calçadas, travessia de ruas. Aprenderam a andar de bicicleta no pátio da Indústria Pegorari. Soltavam pipas, de vez em quando. Onde fizeram amigos, antes da escola. Lá, recebia minha turma com frequência, fiz reuniões politico-partidárias e configurei a minha família. Foram 13 rápidos anos.
 
Em 1995 me fixei na Rua Ipê. Minha filha mais nova se aproximava dos cinco anos. Os demais, mais velhos, já enturmados, queriam bater asas. Caminhavam decididos para o futuro. No princípio, os vizinhos eram escassos. O bairro era pouco povoado. Contava-se nos dedos as construções em meio a uma porção de terrenos vazios. No meu quarteirão, os Orcinis,  os Borettis e uma casa vizinha, dos Telinis, em construção. Na Rua Ipê veio a consolidação familiar. Meus filhos concluíram o ensino médio, partiram para os cursos superiores, trabalho e ensaiam a vida própria.       
 
Ruas que hoje pouco guardam dos tempos iniciais. Todas foram alteradas. Pessoas queridas faleceram, outras buscaram novos endereços. Seria impossível querer que o mundo parasse para que mantivéssemos a memória visual viva. No entanto, algumas coisas podem e devem ser preservadas para que os nossos pés sintam a nossa presença nos tempos que por lá passamos. Como é difícil ao poder público entender como isso é importante na vida da gente.
 
Quando, no início do texto, eu me referi às reflexões sobre as minhas ruas, em nenhum momento prevaleceu o sentimento nostálgico. Mas o compartilhamento e a cumplicidade que cada pequeno trecho dessa cidade representa à minha história, dentro do contexto familiar. Outras ruas, outros pedaços, de igual importância, cada qual com seu motivo e determinação, completam a história da vida da gente. Mas isso é outra história...
Fonte: Nino Marcatti

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