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Itapira, 25 de Abril de 2024
Artigo
03/07/2011 | Inteligência, bendita seja!

Neymar, Ronaldinho, Deborah Secco, Rodrigo Lombardi, Ivete Sangalo, Luan Santana, dentre tantos famosos, figuram, provavelmente, familiares para a maioria dos brasileiros. Nada tenho contra isso. Mas me incomoda a ausência de divulgação mediática dos brasileiros que se destacam pelas inteligências que carregam. Nasce nas pequenas comunidades, alastra-se pela nação.

Apesar dos avanços dos últimos anos, continuamos a renegar a inteligência, a sentir medo dos intelectualmente desenvolvidos – e o que é pior - valorizamos a ignorância disfarçada de sapiência. Nem sabemos o quanto estamos perdendo com isso.

Quantas pessoas já ouviram falar de Miguel Nicolelis? Ele é um neurocientista brasileiro destacado na comunidade científica internacional. Mora nos EUA desde 1990, trabalha na Universidade de Duke, estado da Carolina do Norte. Apesar de ganhar a vida lá fora, não desgruda do Brasil. Mantêm no Rio Grande do Norte projetos sociais para o desenvolvimento científico no Nordeste. Torce pelo Palmeiras. É paulistano, da gema. 

Qual é a importância desse cidadão para todos nós? Nicolelis quer nada mais, nada menos, que um tetraplégico seja o primeiro a movimentar a bola, na primeira partida da Copa de 2014. Antes que alguém imagine que eu esteja falando de um louco sonhador, esclareço: não ria - a probabilidade desse acontecimento é grande.  

O neurocientista brasileiro, em questão, está entre os maiores estudiosos internacionais sobre o cérebro. Dedica-se à interação das máquinas com o sistema nervoso. Quer ver o cérebro comandando equipamentos eletrônicos e mecânicos. Assim, um tetraplégico usando um exoesqueleto: uma veste robótica, que reveste o corpo, possibilitará que um ser humano mova os membros, antes paralisados. Desse jeito, essa pessoa poderia sair do banco, caminhar para o centro do gramado, dar o pontapé inicial e voltar, sem ajuda de ninguém. Além da seleção canarinho, Nicolelis já tem a minha torcida.

E por que usar o pontapé inicial da Copa do Mundo? O projeto tem pelo menos uns dez anos pela frente, logo não estará concluído em 2014, mas Nicolelis quer mostrar, através de um protótipo, a importância da inteligência brasileira e inserir o Brasil, de vez, na tecnologia mundial.  Ainda este ano, macacos passarão pelos primeiros testes com a veste robótica.

Esse importante pesquisador paulistano integra uma corrente conhecida como “distribucionista”. Eles defendem que um neurônio não deve ser visto, cientificamente, de forma isolada. Entendem que o cérebro trabalha de forma democrática, quer dizer, os neurônios, em conjunto, elegem e decidem a ação a ser tomada. Com base nesse princípio, fios metálicos inseridos entre os neurônios conseguiram captar detalhes da atividade neural de macacos.

Um das experiências foi feita com um equipamento semelhante a um videogame. De posse de um joystick, a macaca Aurora deveria posicionar um cursor dentro de um círculo. Como recompensa, ela ganhava um pouco de suco de laranja. Enquanto ela tentava executar tal tarefa, os cientistas registravam as atividades cerebrais desencadeadas. Na sequencia, retiraram o joystick e um braço mecânico passou a ser controlado pelos pensamentos de Aurora. Não demorou muito para que a macaca fizesse a mesma atividade com os pensamentos, sem mexer qualquer músculo.

Outra experiência coordenada por Nicolelis fez com que um braço virtual controlado pelos pensamentos de um macaco conseguisse tatear objetos. Levando os símios do laboratório de Nicolelis a emitir sinais nervosos pela internet. Daí, um macaco nos EUA que andava numa esteira comandava um robô humanóide, no Japão, para fazer a mesma caminhada. Não é bonito isso?

Informações dessa natureza parecem complicadas. Oferecem, talvez, dificuldades para entendimentos. Faz algumas pessoas mudarem de canal ou interromperem o que está lendo. A grande mídia, por essa ração, se exime em oferecer mais espaços para assuntos mais sérios, mais elevados. Mas será que as tais dificuldades não estão justamente ligadas na inabitualidade da frequência desses temas? No vocabulário pobremente construído? 

Baseando-se nos testes positivos com animais, Nicolelis é um brasileiro confiante de que os seus estudos farão com que um paraplégico ou um tetraplégico possam andar novamente, desde que a lesão seja na medula, e não no cérebro. Esse projeto tem o envolvimento de quatro países: Brasil, EUA, Suíça e Alemanha. Podemos tentar imaginar as outras implicações que essa idéia poderá gerar?

Para que o mundo veja o Brasil, além das belas mulheres, futebol e violência, é preciso que nós, brasileiros, vejamos, também, além dos nossos narizes.  

Fonte: Nino Marcatti

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