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Itapira, 18 de Abril de 2024
Artigo
18/08/2013 | Nino Marcati: A primavera que não devemos querer.

 

Quando a Primavera Árabe eclodiu, o mundo ocidental se colocou em glorias, era o fim das ditaduras mais sangrentas da atualidade que judiaram do mundo inteiro por conta das instabilidades que influenciaram as cotações dos barris de petróleo ao sabor dos humores ditatoriais abestalhados. O início dessa revolução se deu quando um jovem que vendia frutas teve os seus produtos confiscados pela polícia e se recusou a pagar propina. Revoltado, ateou fogo em seu próprio corpo, abalando a população e fomentando a revolta popular. A onda de protestos alcançou Líbia, Egito, Argélia, Iêmen, Marrocos, Bahrein, Síria, Jordânia e Omã.

A Revolução do Egito - também denominada “Dias de Fúria”, “Revolução de Lótus” e “Revolução do Nilo” - foi marcada pela luta da população contra a longa ditadura de Hosni Mubarak. Os protestos começaram em janeiro de 2011 e se encerraram um mês depois, com Mubarak anunciando que não seria mais candidato. Em junho do mesmo ano, Mohammed Morsi foi eleito presidente egípcio. Era para ser o fim da ditadura egípcia.

Um movimento horizontal, sem partido, nem liderança, tendo a internet como principal meio de divulgação dinâmica e barata, poderia se apresentar como um instrumento de mudanças efetivas na vida política de países incrustados em anos de histórias e desleixos? Há quem já classifique a Primavera Árabe como uma ilusão por prenunciar a democracia, mas que acabou trazendo desordem generalizada. Assim como alguns caracterizam os árabes e muçulmanos como incapazes de promover a democracia, não devemos negar os fatos, o movimento destronou três ditadores. Porém, outros fatos também não podem ser negados, para a maioria dos que foram às ruas, suas vidas continuam as mesmas, não viram melhoras, alguns atestam pioras. O Egito, com muito sangue derramado, em dois anos retornou à ditadura.

E as manifestações brasileiras que se inspiraram, de certa maneira, na primavera árabe, o que vamos colher?

É ingênuo imaginar que nos dias de hoje as revoluções, aqui ou acolá, possam sair vitoriosas sem o apoio majoritário da população. Sem isso, xô revolução. Mas há quem acredite que dá para mudar governos e políticos da noite para o dia. Se o mundo árabe continua preso ao sectarismo, nós somos ávidos em enaltecer a democracia, sem abrir mão das velhas autocracias. Dá para sair às ruas tresloucadamente, sem as ferramentas construídas ao longo da história, menosprezando partidos e lideranças de qualquer natureza?

Não foi por acaso que de repente no meio das manifestações surgiram vândalos, guerrilheiros modernos, bandidos e agressores violentos. Todos esses, do ponto de vista ético, vestindo a mesma carapuça. Não foi a toa que nas redes sociais entraram grupos de direita exortando os ideais da ditadura militar, de triste memória, reclamando das injustiças cometidas contra nomes como Médici e Figueiredo e declamando saudades.  Também não foi a toa que lideranças de partidos classificados como esquerdistas - defenestrados nas urnas - copiaram estratégias usadas na Primavera Árabe, que nada tem a ver com a nossa realidade, para angariar simpatizantes jovens não tão esquerdistas.

Não vejo a menor possibilidade de o Brasil retroceder e ver brotar ditaduras novamente, porém, todo cuidado é pouco. Vejo com preocupação a manipulação constante, mesmo que aparentemente bem intencionada, das manifestações populares, pois pode destruir o sonho da juventude e endurecer a desesperança dos mais velhos.   

Fonte: Nino Marcati

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