Carregando aguarde...
Itapira, 29 de Mar�o de 2024
Artigo
12/05/2013 | Nino Marcati: Órfão de pai e mãe.

Nada mais me aterrorizava, quando criança e adolescente, que a possibilidade de ficar, de uma hora para outra, sem pai ou mãe. Apesar de serem poucos os órfãos da minha área de relacionamento, naquela época, quando os via, a paúra da orfandade me rodeava.

Eu não sabia a razão, mas tal preocupação - pensando com os olhos maduros de hoje - não estava relacionada, necessariamente, à privação, ao futuro incerto, à saudade... Lembro-me, por exemplo, que ao observar os meus heróis preferidos – como Super-Homem, Batman, Fantasma... – todos eram órfãos, tinham encontrado os seus lugares e se destacavam na minha imaginação. Mas eles eram imortais.

O mês de maio, sempre foi para mim, o período do ano mais importante. Tinha o dia do meu aniversário e a festa de maio. Mês em que nasceu o filho que leva o meu nome, sete dias após a marca do meu nascimento. Maio sempre foi e sempre será o mês da minha vida.

Mas o que é a vida senão a luta que nasce antes da fecundação e se estende até a última atividade cerebral? Schopenhauer, filósofo alemão, quando buscava explicações para o sentido da vida, concluiu que ela não nos pertence. É a morte que nos pertence.

O mês da minha vida de repente começou a se apresentar funéreo, ganhou novos ingredientes carregados de simbolismo. Há onze anos, meu pai, um trabalhador incansável, escolheu o dia dois para morrer. Nos meus devaneios, penso que ele esperou passar o Dia do Trabalho, tamanho era o gosto e o compromisso que ele tinha para com essa ação humana. Minha mãe, que me colocou no mundo como seu único filho, faleceu na segunda semana deste mês, um dia antes do meu aniversário. Será que ela escolheu esse dia, para não ter que me abraçar desapoiada das próprias pernas, sem estar em pé e altiva como sempre fez? Maio passa a ser, também, o mês das minhas mortes.

Aprendi com o tempo, que perder os pais ou pelo menos um deles, na infância ou adolescência, apesar da tristeza e saudade, não condena ninguém ao insucesso e nem forma cidadãos de segunda classe. Dentre os conhecidos, a maioria aceitou e superou o desafio impingido.

Mas não posso deixar de considerar que é uma benção ter nossos pais por perto – no maior tempo possível - para perceber detalhes das suas experiências, entender determinadas decisões ou situações, resolver casos do baú e compreendê-los à luz da nossa própria experiência de vida e de pais.   Vi seu Geraldo enfrentar uma enfermidade xereta com serenidade. Vi dona Lourdes perdendo a energia que tinha, às vezes exagerada, abrindo mão da independência e do poder de decisão, entrevada num leito, assistida por cuidadores de uma casa de repouso até o último suspiro. 

Eis me, então, órfão de pai e mãe. O futuro, sem eles, não me amedronta mais. Eles puderam cuidar da minha preparação e me ensinaram a viver sem eles. Com meu pai - digo - aprendi a viver na simplicidade, com alegria e serenidade. Com a minha mãe, a lição de casa foi mais complicada, comecei a aprender a morrer.

Este é o meu primeiro Dias das Mães, sem a minha mãe. Que Deus a tenha!

Fonte: Nino Marcati

Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.

Outros artigos de Nino Marcati
Deixe seu Comentário
(não ficará visível no site)
* Máx 250 caracteres

* Todos os campos são de preenchimento obrigatório

1314 visitantes online
O Canal de Vídeo do Portal Cidade de Itapira

Classificados
2005-2024 | Portal Cidade de Itapira
® Todos os direitos reservados
É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste portal sem prévia autorização.
Desenvolvido e mantido por: Softvideo produções