Não é preciso muito esforço para encontrar problemas no sistema de saúde do Brasil ou do município. Basta uma visita aos prontos-socorros, principalmente quando ocorre mudança no clima ou na ocorrência de acidentes graves para ficarmos cara a cara com o inferno. No entanto, quando olhamos a saúde brasileira ao longo dos anos e além da área de pronto atendimento, percebemos que a fama imputada à saúde pública pode vir do exagero jornalístico ou da distorcida politica interesseira que passam a ideia de que o atendimento emergencial é uma ação preponderante, aproveitando-se do clima sensível que a situação estabelece. Podemos avaliar os avanços do sistema público de saúde quando verificamos que a esperança de vida aumentou cinco anos desde 2000. A mortalidade infantil que em 1990 registrava 53,7 mortes por mil, hoje caiu para 17. Em Itapira, a última taxa divulgada alcançou nível de primeiro mundo, acima dos EUA, 6,1 crianças mortas para cada mil nascimentos. A região marca 9,5 e o estado de São Paulo, 11,4.

 

Nenhum país do mundo tem um sistema de saúde maior que o brasileiro. Saltamos de 30 milhões atendidos em 1988 para mais de 200 milhões em 2014. Estamos distribuindo mais de 140 milhões de doses de vacina por ano. Realizamos cerca de 2 milhões de partos, 2,4 bilhões de procedimentos ambulatoriais e 135 milhões de atendimentos de alta complexidade. Isso para ficarmos com os números mais extravagantes. Setenta por cento da população brasileira depende exclusivamente do SUS. Trata-se de um sistema complexo para ser gerenciado e mantido.

Nem a maior economia do planeta tem um sistema público de saúde tão abrangente. Barack Obama foi eleito com a promessa de reformar a saúde americana e está apanhando. A Europa, sempre citada como exemplo de qualidade nessa área – o que é verdade - para cobrir os mesmos 200 milhões de habitantes teria que juntar Inglaterra, França, Itália, Bélgica, Portugal e Suíça, cujo PIB somado, supera três vezes o desempenho econômico brasileiro. Gastamos cerca de 100 bilhões de dólares por ano com saúde. Gastávamos em 2000, 25 bilhões.

 

Eu não estou discorrendo sobre esse assunto para dizer que devemos nos conformar com as falhas do sistema de saúde pública, nacional ou itapirense, mas para tentar evitar que transformemos o que é ruim em coisa muito pior, no lastro da ignorância. Às vezes eu me pergunto: será que a imagem que nós temos dos nossos hospitais públicos é fruto da vivencia ou vem das informações terceirizadas? Será que a sociedade quando abusa do consumo de álcool ou drogas, dirige perigosamente, não atende as exigências de segurança, não segue os tratamentos indicados não estariam dificultando ainda mais o nosso sistema de saúde?

 

Lembro-me do tempo em que os hospitais que conciliavam atendimentos particular e público ofereciam serviços dispares desumanos: quartos com quatro camas ou mais; banheiros coletivos; comida de qualidade inferior; etc.. Quem não se lembra das famosas diferenças apresentadas friamente que nos colocava contra a parede? Há de se registrar: no Hospital Municipal de Itapira, tais precariedades nunca foram registradas.

 

Depois de cinquenta e nove anos de vida, nos últimos dias, pela primeira vez, conheci além da porta de entrada do Hospital Municipal: conversei com alguns médicos e profissionais e vi como funciona a UTI. Demorou vinte anos para que a imagem que eu tinha do HMI evoluísse.