Estávamos, no sábado, comemorando o sexagésimo aniversário de Marylton. Entre os familiares dele, o nosso grupo de amigos formado há quatro décadas. Em certa hora, olhei um por um, do mais velho para o mais jovem e perguntei para mim mesmo como aquelas amizades tinham começado. O que teria despertado a tal reação química? Todos moravam em Itapira e frequentavam quase os mesmos lugares; fatores contribuintes. Fiquei sem resposta, mas pensei! Depois de tanta gente que passou pelos mesmos pontos e modos, por que nem todo mundo viu a mesma amizade prosperar?

Dois dias depois, na segunda-feira, recebi a triste notícia de que o meu amigo italiano, Gino Durante, de Venegazzú (TV), tinha falecido. Nos últimos tempos só nos falávamos ao telefone, senti meu coração apertado. Uma amizade que não nasceu por conta da proximidade, muito menos na afinidade de costumes ou na parceria etária. Nasceu - eu diria - no acaso.

No início dos anos noventa, eu, Carlinhos e Zé da loja, encabeçamos a organização da festa que comemorou os cem anos dos Marcatis, no Brasil. Foi uma grande e típica festa italiana, com macarronada, frango, polenta, salada de radici, tudo preparado pelas mulheres da fa­mília. Não faltou vinho, evidentemente. Uma festa que reuniu mais de oitocentos descendentes e agregados no salão social da Santa Fé. Até os músicos animadores eram da família. Construímos a nossa árvore genealógica e editamos um livro. Tudo fotografado e filmado. A TV Campinas fez uma matéria e divulgou nos telejornais.

Passados dois ou três meses, um senhor, morador em Presi­dente Prudente, ligado às tradições italianas, Orlando Zaratieri, nos telefonou dizendo que estaria em nossa região e queria nos conhecer – ele tinha visto a reportagem na TV. Em Itapira, com ele, visitamos os pontos marcantes, como o Sitio do Tanquinho, o nosso berço, e os Marcatis mais antigos. Conversa vai, conversa vem, seu Orlando quis saber das nossas origens na Itália. Respondemos que não tínhamos muitas informações, apenas o passaporte de 1892. Ele respondeu: “então eu vou dizer a vocês uma coisa, eu tenho alguém que poderá ajudar.”

Não demorou muito, o italiano Gino Durante nos encaminhava, graciosamente, todas as informações familiares italianas e as certidões de nascimento, entre elas a do meu nonno Alessandro Luigi. Documentos que sustentaram, mais adiante, a nossa dupla cidadania. Continuamos trocando cartas e telefonemas. Só conhecemos Gino, pessoalmente, selando uma grande amizade em 1994.

Acho que posso afirmar, sem medo de errar, que as amizades, aquelas que calam na vida da gente, inde­pendem das origens, das distâncias, das ideologias, da frequência dos encontros, das condições sociais, da raça, do time, da religião, da língua, das diferenças... Senão, não é amizade e muito menos eterna. Descanse em paz, Gino, velho de guerra.