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Itapira, 23 de Abril de 2024
Artigo
25/11/2012 | Nino Marcati: Consciência Negra

Nenhuma outra posse na presidência do Supremo Tribunal Federal repercutiu tanto como a do ministro Joaquim Barbosa. Seria o julgamento do mensalão ou a cor do novo presidente?

Tem gente aplaudindo o primeiro negro no cargo mais alto da justiça brasileira. Outros lamentam o ineditismo daquilo que não deveria ser mais destaque: a cor da pele. Sem falar naqueles que estão torcendo o nariz ao ver aquele negro “metido a besta” que não sabe o lugar dele. Não faltam piadinhas racistas, nem o nome do tal lugar: a senzala. Não! O mensalão nada tem a ver com essa história. Falamos de preconceito.

O senso de 2010 totalizou 190.749.191 brasileiros. Desses, 93.953.897 se declararam brancos e 96.795.294, negros ou pardos. A população brasileira, como se vê, é predominantemente negra. Votos mais do que suficientes para eleger governantes e legisladores.

Na última terça-feira, comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. Em muitas cidades brasileiras, esse dia, virou feriado. Noutras tantas, organizaram-se manifestações patrocinadas por entidades públicas ou não governamentais. Por aqui, só o PSOL destacou na folhinha e realizou debates. Nenhum vereador usou o pequeno expediente para prestar uma singela homenagem aos negros de Itapira.

O Brasil até 2003 dedicava o dia 13 de maio para reverenciar os negros, atribuindo aos brancos a benesse da libertação, na tentativa de encobrir a barbárie até então cometida e elegendo a Princesa Isabel como heroína dos afrodescendentes por ter assinado, em 1888, a Lei Áurea. A fixação do dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra teve outro norte: homenagear a data da morte de Zumbi, líder do Quilombo dos Palmares, criador das áreas de proteção dos escravos refugiados. Os quilombos contribuíram para o aumento das fugas e despertaram o sonho de liberdade. Os escravos eram maltratados como animais. Apanhavam e ficavam amarrados dia e noite em troncos. Eram castigados perversamente, muitas vezes, sem água, nem comida. Viviam em senzalas, dormiam no chão de terra.

Itapira pegou carona na história da libertação dos escravos ao construir uma grande festa popular católica. Hoje, a maior festa da cidade luta para manter a referência religiosa, mas perde, a cada ano, a cultura negra itapirense. Patrocinado pelo poder público municipal, em nome da tradição, realiza-se um concurso, politicamente incorreto, que elege a mais bela negra do ano. Caracterizando a exclusão.

Desde cedo aprendemos a valorizar os personagens históricos de cor branca, principalmente, os representantes do poder econômico, como se o Brasil tivesse sido construído apenas pelos europeus que aqui aportaram e proliferaram.  Sabemos que não foi bem assim.

O dia da consciência negra pede que nos lembremos do sofrimento dos negros ao longo da história, tanto durante a colonização, como nos dias de hoje, sem levar o tema para o campo da comiseração, mas como afronta à humanidade. Um dia que deve prevalecer a luta contra o preconceito racial e contra a inferioridade estabelecida pela sociedade.

O povo germânico carrega a chaga do nazismo que exterminou milhões de judeus. Nós, das Américas, dizimamos povos indígenas e patrocinamos a escravidão negra. Talvez, este dia 20 de todos os anos, nos faça sentir o peso da consciência negra dos brancos: ora como cumplice, ora indiferente, ora preconceituosa.

Fonte: Nino Marcati

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