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Itapira, 28 de Mar�o de 2024
Artigo
22/09/2013 | Nino Marcati: Mensalão, 12, Brasil, 13. Por enquanto?

 

Foi-se o tempo em que o país colocava noventa milhões de brasileiros em ação torcendo, única e exclusivamente, para o escrete canarinho. “Bons tempos aqueles” em que a gente não estava nem aí com esse negócio de corrupção, de STF ou com os arranjos palacianos. Achávamos que a classe política era honesta e glamorosa. Lembro-me, por exemplo, do dia em que Carvalho Pinto visitou Itapira, era um domingo de manhã. Praça lotada. Do que foi falado, nada guardei. O meu interesse era tomar um sorvete de nata, no Bar Central, com meu pai.
 
Carvalho Pinto veio de helicóptero. Desceu na praça central. Eu nunca tinha visto helicóptero tão perto. Uma densa poeira, como uma fumaça vermelha, virou efeito especial para anunciar tão prestigiosa visita. A praça Bernardino passava pela reforma que lhe deu a configuração, ainda resistente. Os políticos eram sinônimos de distinção. A gente era feliz e sabia. O que a gente não sabia era o que acontecia fora das aparições públicas.
 
Hoje, nem visita de presidente da república causa tanto frisson. Somos diferentes de antigamente. Faltam, ainda, muitos passos para a classificação de povo desenvolvido, mas a evolução é sensível. A ânsia de recuperar o tempo perdido – ou subtraído à força – parece querer matar a cobra, cortando lhe só a cabeça.
 
O principal assunto desta semana foi o mensalão. Será que tem brasileiro que acredita que antes dos aloprados petistas, esse sistema de remuneração parlamentar não existia? Será que tem gente que ainda desconsidera a participação dos detentores do poder econômico, a peso de ouro, nas mais variadas decisões que afetam o pão nosso de cada dia? Não há corrupção sem os corruptores.
 
Em qualquer país sério, político corrupto, pego com a mão na botija, é punido, exemplarmente. No Brasil isso, ainda, não acontece do jeito que muitos gostariam. Seria muito mais fácil entender e resolver essa questão se apenas os políticos corruptos gozassem de tal benefício. Na prática, bem sabemos, só os pobres mal assistidos juridicamente vão para a cadeia, sem pena nem dó. Quero dizer: os recursos que protegem parte da sociedade protegem, também, os políticos corruptos, os grandes traficantes, os grileiros, os criminosos do colarinho branco, os assassinos no trânsito...
 
O STF é o órgão máximo da justiça brasileira. Sua principal tarefa é garantir os nossos direitos constitucionais. Apesar das incursões como legisladores, cabe aos ministros o julgamento com base na legislação construída pelos deputados e senadores, escolhidos por nós. Questiono, então, será que queremos, de fato, uma legislação que puna exemplarmente todos os nossos deslizes? Eis uma decisão que a Sociedade Brasileira precisa tomar, urgentemente: assim como não existe a condição meio grávida, não existe meio justiça.
 
O voto do ministro Celso de Mello, o mais antigo julgador do STF, desta quarta-feira, se transformou, aos meus olhos, em algo como uma final Flamengo versus Corinthians, por mexer com todas as torcidas, inclusive com as ferrenhas adversárias de um dos dois lados. A semelhança chegou ao tal ponto, que a torcida se esqueceu das regras, colocou toda responsabilidade sobre o último julgador, como se um time não existisse e que o jogo estava empatado aos quarenta e quatro minutos do segundo tempo. Para uns, vitória. Para outros, derrota. Poucos pensaram em justiça ampla, geral e irrestrita. Queriam uma decisão a ferro e a fogo, já! Sabemos que isso não funciona. Não sabemos?
Fonte: Nino Marcati

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