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Itapira, 29 de Mar�o de 2024
Artigo
01/09/2013 | Nino Marcati: O médico que carrega o destino pra lá...

Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu.  A gente estancou de repente ou foi o mundo então que cresceu? Esse verso de Chico Buarque vem rondando meus pensamentos nos últimos dias diante das babaquices corporativas escancaradas desde o anúncio pelo governo federal da adoção do programa “Mais Médicos” e a intenção em trazer, de fora, os profissionais que aqui não têm ou que não se habilitam.

Pelo menos, a celeuma em torno do assunto me fez ver que a responsabilidade da deficiência no sistema de saúde deste país não deve ser atribuída, exclusivamente, aos governantes brasileiros, deixando os profissionais da área apenas como vítimas. A julgar pela reação destemperada e desprovida de argumentos razoáveis, quem poderá me garantir que em outros momentos planos semelhantes, diante do torpedeamento síncrono e pesado, não teria levado o poder público a se retrair, mantendo o status quo? Nenhuma generalização é justa. Sempre há exceções, nesse caso, talvez, insignificantes.

Ninguém, em sã consciência, abraçante do sistema capitalista, se colocará contrario a que médicos ou qualquer outra categoria profissional ganhem muito dinheiro como resposta à qualidade do serviço que presta. Quanto melhor, mais procurado, mais bem remunerado.

O assoberbamento da classe médica está referendando uma velha desconfiança: o controle de mercado a qualquer custo. Nada é novidade nesse front. É fácil reunir, em pouco tempo, inúmeros relatos de ações corporativas que restringem a quantidade de vagas nas faculdades de medicina e nas áreas de atuação profissional. Reclamações, oriundas dos próprios médicos, falam da dificuldade de integração aos corpos clínicos de hospitais filantrópicos e privados ou do impedimento do uso forasteiro remunerado dos centros cirúrgicos dessas entidades. Não bastasse isso, há a reclamação constante de usuários dos planos de saúde sob a quantidade de especialistas disponíveis, levando-os à espera de trinta a noventa dias para uma consulta.

As ações dos dirigentes das entidades médicas brasileiras apoiadas pela categoria, seja pelo silêncio, sejam pelas manifestações públicas nas ruas ou nas redes sociais ou pela concretização de atos administrativos protelatórios ou maliciosos, por conta dos exageros e da indefensabilidade, estão ganhando repúdios crescentes da opinião pública.

Eis alguns disparates: 16 mil médicos se inscreveram no referido programa, desses, mais de 14 mil adulteraram dados e fraudaram o princípio básico da boa fé em clara demonstração de boicote ao projeto; praticam terrorismo da pior espécie ao desqualificar os médicos estrangeiros, como se os nossos fossem o suprassumo da medicina mundial; sem falar na campanha sórdida de que os médicos cubanos, por conta da cor da pele, se parecem com empregadas domésticas, associando-os à incompetência e ao despreparo, quando a ONU coloca a medicina cubana entre as melhores do mundo, com ações positivas em países pobres e em áreas devastadas por catástrofes e epidemias.

O mundo cresceu. Há cinquenta e oito anos Itapira não tinha pronto socorro, nem unidades de atendimento. Eu era bebê de colo e desenvolvi uma infecção viral contagiosa chamada crupe. Desesperada, minha mãe saiu em busca do Dr. Achiles que naquele instante assistia um filme no Cine Paratodos. Chamado, prontamente a atendeu e iniciou o tratamento.  Em seis horas controlou o quadro que era grave. Se eu tivesse nascido numa das tantas localidades sem médicos deste país, provavelmente não estaria aqui para recontar a história.  A letra de Roda Viva termina assim: o tempo rodou num instante, nas voltas do meu coração... Médicos cubanos sejam bem vindos!

Fonte: Nino Marcati

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