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Itapira, 19 de Abril de 2024
Artigo
20/10/2013 | Nino Marcati: Ombro a ombro

  

Como é bom escorar num ombro amigo. Dias desses, o Marylton me procurou. Estava alegre, ora planava nas nuvens, ora parecia querer explodir por não se caber em si, ora se mostrava perdido, sem saber o que fazer, parecia faltar-lhe algo. E faltava...

O cara já ostentava o título de ter estreado a paternidade no nosso grupo. Uma turma de amigos solteiros, depois casados, que cultiva amizade há mais de quarenta anos, ininterruptamente. Agora o danado cravou a marca de ser o primeiro avô, dentro dessa mesma turma. Um ato normal aleatório que ganha dimensão num grupo que se acompanha. Cada um virou amigo-avô.

Marylton vive uma situação quase surreal, uma singela história que vale a pena ser registrada. Mesmo se achando preparado, ele ficou maravilhado – quase tonto, eu diria - com a notícia de que Camila tinha vindo à luz do dia. O pobre novo “nonno” só a conheceu por imagem digitalizada. Explica-se, como bom profissional, ele não podia deixar os clientes na mão para se deslocar até Ponta Grossa, no Paraná, onde a menina nasceu. Lá moram a mãe Alyne – a primogênita – e o pai Adriano.

E confessou: “eu queria estar lá para pegar a Camila no colo, sentir o cheirinho, ouvir o chorinho... Nem as birrinhas me incomodariam. Queria vê-la dormindo, assim como eu fazia quando as minhas três eram bebês. Era um momento de paz que presente se fazia.” E completou: “me contento, então, olhando para a fotografia!”

Mas o meu amigo, irmão santista, vive, ainda, outro caso – este, talvez, o mais dolorido. É que a dona Edna - a esposa - foi, há quase um mês, assessorar a filha Alyne nos momentos que antecederam o parto e nos cuidados das primeiras semanas. É dona Edna lá, Marylton cá. Seiscentos quilômetros. Em trinta e três anos de casados – completados nesta última quinta-feira - esses dois nunca se separaram por tanto tempo. Como diz a filha mais nova: ”ele tenta mostrar que está tudo bem, que é duro na queda, mas vira e mexe, ele se esquece, entra em casa chamando por ela. No meio do chamado, a memória refresca e ele se cala, abruptamente, e disfarça”.

Bendito feriadão do aniversário de Itapira. Graças a ele a agonia desse companheiro de cabelos grisalhos chega ao fim. O vovô vai conhecer, vai cheirar, vai ouvir e vai pegar a netinha no colo, mas vai, também, trazer a dona Edna de volta. Mais do que na hora dela voltar a cuidar do bebezão!

E Marylton me perguntou: “escuta aqui, você já reparou que o tempo está andando mais devagar ultimamente?” Eu respondi: “não, o tempo está como sempre foi!” Ele: “De jeito nenhum. Antes eu ficava até assustado, nem sentia a semana passar. Agora não, o dia não termina nunca! Esse 24 de outubro nunca chega!” Foi quando eu entendi o que se passava na cabeça do meu amigo e tentei dar uma explicação: “o tempo, assim como a velocidade, é relativo. A velocidade depende do ponto de referência. O tempo, das ansiedades, dos interesses e do conhecimento. Você apenas acha que o tempo não passa...”

Lembrei-me de Alice - aquela que caiu num buraco e chegou ao País das Maravilhas - que perguntou ao Coelho: “quanto tempo dura o eterno?” E o Coelho respondeu: “às vezes apenas um segundo.” Que me fez sonhar com Edna, que no reencontro, perguntou: “Benhê! Quanto tempo dura um segundo?” E o Marylton, quase em tom de desabafo: ”às vezes uma eternidade!”

Fonte: Nino Marcati

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