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Itapira, 24 de Abril de 2024
Artigo
08/01/2011 | Que venham mais dez...

Lá se foram os primeiros dez anos do século XXI. Para os trintões e pregressos, até o ano dois mil, a expressão “início do século” (1901 a 1910) era vista como coisa antiga, ultrapassada, em desuso e coisa e tal. Era um tempo em que os meus ascendentes italianos trabalhavam como colonos – mais precisamente, como escravos brancos - na Fazenda do Rumo localizada no vizinho município de Serra Negra. Nesse mesmo tempo, o Brasil mal se desvencilhava da coroa portuguesa, já abraçava com grande entusiasmo a colonização cultural européia e marchava “pari passo” à subserviência do imperialismo americano. Os Marcatis, assim como a maioria dos imigrantes, antes que a segunda década terminasse conquistaram com dignidade a alforria deliberada. O Brasil, coitado, não teve a mesma sorte. Gastou um século para se livrar da dependência marota.

Quis Deus que a minha geração estivesse aqui para viver “o início do Século XXI”. Independentemente do que possa acontecer daqui pra frente, os viventes dos futuros anos noventa não estabelecerão a mesma relação ou grau pejorativo com a nossa visão dos primeiros anos do século XX. Na nossa vez, arrebentamos a boca do balão. É desnecessário rememorar as conquistas. 

Iniciaremos mais um novo ciclo decendiário fundado sob alicerces revigorados. Descartamos com esforço o afago e a tutoria da direita exagerada. Domesticamos com rejeição o aceno e a efervescência da esquerda utópica. Assumimos as rédeas do nosso destino. A nossa responsabilidade aumentou. Resolvemos o básico. Falta o essencial.

Nos próximos dez anos, Dilma, governadores, prefeitos e sucessores estarão obrigados a pegar a Educação a unha. Chega dos bons propósitos discursados nas campanhas eleitorais. Chega de usar o dinheiro exclusivo da Educação em ações tituladas para driblar os tribunais de conta e ministérios públicos.  Todo esforço e criatividade devem ser empreendidos para extirparmos a chaga que emperra o desenvolvimento do Brasil. E nessa luta nenhum homem ou mulher de boa vontade e consciência cidadã poderá ficar de fora, sob pena de se enquadrar em crime de lesa pátria, ou pelo menos na consciência.  Cada qual, a sua maneira, deverá se engajar nessa guerra santa. Cobrando e fiscalizando governantes, instituições de ensino, profissionais de educação e, principalmente, valorizando o conhecimento. Ler mais, discutir mais, escrever mais...

No início do mês passado, o Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (PISA - 2009) – uma leitura insuspeita - divulgou os resultados preliminares das provas de leitura, matemática e ciências aplicadas em 65 países, dos quais 34 da OCDE*, aos 470 mil estudantes (brasileiros: 20 mil) de escolas urbanas e rurais, públicas e privadas, nascidos em 1993. A educação brasileira evoluiu 33 pontos desde o ano 2000.  O Brasil teve o terceiro maior avanço entre todos os 65 países participantes em relação ao teste anterior - 2006. Nossa média, nas três disciplinas, subiu para 401 pontos e superou a meta estabelecida no Plano de Desenvolvimento da Educação (395). Entre as nações latino-americanas, superamos a Argentina e a Colômbia. O Distrito Federal aparece com as melhores notas. O Estado de São Paulo - o mais rico da federação - ocupa a sétima posição entre os que apresentaram notas superiores à média nacional. A comemoração do governo federal é devida. Finalmente, iniciativas na área educacional surtiram efeitos positivos. A comemoração, entretanto, continua inoportuna. No ranking geral ocupamos a 53ª posição, lá na rabeira. O estudante típico brasileiro, conforme o relatório, apesar de saber ler, continua não entendendo o que lê, permitindo que as idéias implícitas nos textos lhes escapem. Como desgraça pouca é bobagem, essa condição reflete-se nas faculdades, cheias de pessoas com sérios problemas de expressão e compreensão e se estende para todas as faixas etárias, no dia a dia, nas profissões, donde é possível esquadrinhar o universo do analfabetismo funcional brasileiro.

Essa anomalia leva muita gente ao ler um texto extrapolar a idéia autoral a serviço da reflexão ou da complementação do conteúdo às distorções descabeladas ou desconstrucionistas ou ao abandono da leitura. Anormalidade que poderá ser sanada pelos profissionais de educação atuantes, competentes e responsáveis pelo corpo discente da escola que trabalha. Aos que não usam os bancos escolares recomenda-se o aumento do volume de leitura concentrada, tendo sempre à mão um bom dicionário. Desenvolver a interpretação correta do que se lê e o aumento do repertório de palavras são exigências do mundo de hoje. Do mundo futuro, nem se fala.

O Brasil deu o primeiro passo para se tornar uma nação independente e desenvolvida. Sem o próximo passo correremos o risco de jogar mais um século no lixo.  Estamos prontos para encarar os próximos dez anos?

* OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, cujos membros são países com economias de alta renda e alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). São considerados países desenvolvidos.

Fonte: Nino Marcatti

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