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Itapira, 19 de Abril de 2024
Artigo
16/01/2011 | Quem é que vai levar a culpa?

Entra ano, sai ano, a história se repete. A pobre chuva além de repor a água na parte terrestre e garantir a produção agrícola - elementos vitais para a nossa sobrevivência - se faz de mensageira da incompetência da sociedade moderna. Cerca de quinhentas pessoas morreram estupidamente, nesta semana, em consequência das chuvas. Um número que tende a crescer. Quem é que vai levar a culpa?

São Pedro? É o primeiro da lista. Foi dada a ele a incumbência de cuidar do setor. Dizem pelas rodinhas celestiais que ele não queria essa posição, mas para tirar os deuses mitológicos de tal atribuição, só um santo católico de porte poderia assumir esse posto. Como ele já tinha esgotado o seu limite de negação (três vezes), aceitou resignado. Não por maldade, talvez por falta de conhecimento ou gosto pelo assunto, de vez em quando, ele estraga o nosso fim de semana, arruína o cabelo das mulheres, atrapalha as festas de qualquer natureza, congestiona o trânsito das grandes cidades... A lista vai longe, mas a grande falha técnica de São Pedro está na escolha dos lugares e na quantidade de água despejada. São Pedro é um excelente bode expiatório. Nunca se defende. A menos que a defesa dele seja mais chuvas. Não acredito nessa vingança.    

O povo?  O povo é fogo. Joga em qualquer lugar tudo aquilo que não mais lhe serve, de sofá a geladeira velha, lixo nas ruas ou nos terrenos baldios ou nos córregos ou em qualquer lugar que lhe der na telha. Pouco lhe importa se esses detritos obstruirão a passagem da água ou não. Na hora de construir suas casas não respeitam as leis das encostas ou das vazantes. Antes da tragédia na região serrana carioca imaginávamos que só o pobre procurava as áreas de risco. O povo, réu confesso, nos deslizamentos de terra e nas enchentes, ganha a solidariedade e a comoção geral. Fica o dito pelo não dito, sem solução definitiva. O povo continua preferindo lacrimejar a cobrar com intensidade.

Os governantes, os legisladores, os magistrados? São fortes candidatos. Eles são os símbolos de uma nação organizada. É missão fundamental e básica do Estado zelar pela vida e segurança dos contribuintes. É bom lembrar que os senhores e as senhoras que ocupam os cargos eletivos, estatutários ou de confiança são pagos para exercerem as suas funções através dos tributos arrecadados. Mas como podem garantir a vida se torram o dinheiro público com contratações desnecessárias ou incompetentes, se desviam recursos da saúde, da educação, da merenda, das obras, do transporte coletivo, da habitação, da coleta de lixo, de qualquer coisa... Buscam apenas o atendimento dos seus próprios interesses, pessoais e políticos. A quantia roubada seria suficiente para retirar e proibir moradias das áreas de risco, prevenir enchentes, detectar com antecedência os destemperos do tempo - para isso falta recursos, não tecnologia - e retirar os moradores das tragédias... Sobraria, ainda, para um montão de outras coisas de primeira necessidade. As consequências de hoje, são frutos do descaso e da falta de planejamento que remonta mais de quarenta anos. Itapira, por exemplo, tem uma região, cuja população vive atormentada, todos os anos, com a possibilidade de inundação. Sabe-se o que e como fazer para livrá-los desse pesadelo, mas nada é feito. Como aqui, por aí, acontece a mesma coisa. Passa o período das chuvas fortes, todo mundo esquece.    

Mas, lamentavelmente, temos que admitir. A culpa é da sociedade brasileira. Ela não se assusta com mais nada do que possa vir ou ouvir dos políticos, mas mesmo assim, muitos não são cuidadosos na hora de escolher. Todos os governantes, legisladores, magistrados e servidores públicos, concursados ou não, saem do seio da nossa sociedade. Portanto, somos ou não somos incompetentes? Exceções não faltarão, mas precisamos da regra. E essa regra só nascerá do conjunto da população, no exercício da cidadania, nos exemplos aos mais jovens, na educação. Apesar de estarmos caminhando bem, continuamos morosos. Não podemos “baixar a guarda”. Não devemos deixar de cobrar. Tragédias, no Brasil, têm época para acontecer. A sorte é o que define a vida ou a morte.

 

Fonte: Nino Marcatti

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