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15/09/2015 | Alguns fogem da miséria, nós sírios fugimos da morte, diz Fadi Ayek

 A imagem do garoto sírio Aylan Kurdi, morto numa praia do balneário turco de Bodrum, causou na semana passada comoção mundial e se tornou símbolo da inglória onda migratória que tem sido o principal assunto no noticiário do mundo todo há pelo menos dois meses por causa da tentativa de centenas de milhares de ‘excluídos’ de países periféricos que fogem da fome, da miséria, de perseguições políticas e religiosas e da guerra, em conseguir asilo nos prósperos países europeus. O assunto, evidentemente, não passou despercebido na colônia síria radicada na cidade, composta atualmente por 35 pessoas que gravitam em torno da família Ayek.

 
O engenheiro elétrico Fadi Ayek é um deles. Ele foi espécie de precursor do grupo. Chegou em Itapira há quatro anos com a esposa grávida. Com o nascimento do filho, automaticamente ganhou cidadania brasileira.
 
 
Na cidade reside há pelo menos 60 anos a tia Evelyn, irmã de seu pai, Nassrallah, de 80 anos, ponto de referência fundamental para o sucesso da diáspora familiar que veio a ocorrer pouco tempo depois que Fadi se estabeleceu no país. “Impossível resistir. Todos nós choramos copiosamente”, disse ele ao rever mais uma vez afoto da agência AP (Associated Press) com o corpo de Ayla inerte, de bruço, na areia da praia turca.
Atualmente, Fadi ganha a vida consertando eletrodomésticos numa oficina que montou na região central da cidade, perto da agência da Caixa Federal. Foi ali que ele remexeu em antigas feridas numa conversa com a reportagem. Ele afirma que não enxerga mais a mínima possibilidade de um dia retornar ao país de origem. “A tendência é que a Síria se fragmente como nação”, colocou.
 
Segundo seu relato, a decisão de se mudar para o Brasil foi tomada na base da intuição. Era o ano de 2011 e pipocava em países de origem árabe, primeiro na Tunísia, depois no Egito e depois na Líbia e na Síria, a chamada“Primavera Árabe”, movimento que ensejava à época que as estruturas de poder eminentemente seculares desses povos poderiam dar lugar a movimentos parecidos com o que chamamos de democracia. Como se verificou depois, foi só uma ilusão. Um a um, os países que experimentaram esta incipiente e enganosa abertura foram vítimas de processos violentos de disputa pelo poder. “Quando percebi nas ruas de minha cidade pessoas estranhas andando com fuzis nas mãos, senti que era um aviso para ir embora”, relatou Fadi.
 
Meses depois eclodiu a guerra civil que colocou em lados opostos o atual presidente Bashar Al Assad e grupos religiosos mulçumanos radicais. Desde então, estima-se que dos cerca de 22 milhões de habitantes, mais da metade imigrou para outros lugares. Fadi conta que em 2013, na cidade onde a família vivia (Holms, a segunda maior da Síria) milicianos que representam hoje o temível Estado Islâmico invadiram a cidade e passaram a perseguir cristãos. Os pais foram torturados. A mãe Anjil acabou perdendo a visão de um dos olhos por causa do espancamento. O pai mostra os dedos retorcidos depois de uma sessão de tortura.
Um bombardeio aéreo na área residencial onde moravam acabou salvando a vida deles, segundo Fadi. “Quando soube do ocorrido, imediatamente concentrei esforços para tirar ele e os meus irmãos, cunhados e sobrinhos de lá. Foi uma dificuldade terrível, mas graças a Deus conseguimos. Chegaram com a roupa do corpo e nada mais”, contou.
 
Recomeçar a vida do zero num outro país, numa outra cultura – desejo que alimenta a imensa horda de refugiados que hoje assusta e desafia aos ricos países europeus – é um desafio menor na opinião de Fadi. Ele afirmou que se compadece de todas estas pessoas e torce para que elas tenham sucesso.
 
Ao ser confrontado com a situação dos haitianos no Brasil, que fogem da miséria em seu país de origem, Fadi disse que também torce pelo sentimento de compaixão dos brasileiros para que também os acolham, mas faz uma observação: “Dói dizer, mas a situação dos haitianos e outros povos que fogem da miséria não é pior do que a do povo sírio, porque os sírios estão fugindo da morte certa, não somente da miséria”.
 
Embora o governo federal afirme que concedeu nos últimos três anos pelo menos 7,5 mil vistos de refugiados para sírios, estima-se que no caso dos haitianos, este número deva ser superado até o final do ano por causa das fronteiras porosas na região norte do país. Fadi acha que o número de sírios que se refugiaram no Brasil deva ser ainda maior. “Muitos estão em situação ilegal. Acredito que este número tende a aumentar”, encerrou.
 
Fonte: Da Redação do PCI

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