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Notícia
07/09/2021 | Luiz Santos: Os novos Nicolaítas

Lendo o livro do Apocalipse, encontramos Jesus ao exercer juízo sobre o esfriamento do amor da Igreja de Éfeso uma atenuante: o fato de que eles odiavam, como o Senhor, a seita dos ‘Nicolaítas’. Alguns autores que consideram que a cabeça do grupo dos “Nicolaítas” se encontra em um personagem histórico chamado Nicolau buscaram, segundo alguns testemunhos antigos, identificá-lo com o último dos “sete” nomeados em At 6.5 do qual se assinala que era prosélito de Antioquia. Aqui, pesou a força da tradição: A primeira conexão tradicional entre esses personagens provém de Irineu, quando afirma: “Os ‘Nicolaítas’ têm como mestre Nicolau, um dos sete primeiros diáconos que foram constituídos pelos apóstolos. Eles vivem sem discrição. O Apocalipse de João manifesta plenamente quem são: eles ensinam que a fornicação e o consumir carne imolada aos ídolos são coisas indiferentes”. Uma segunda referência que encontramos está em Hipólito, ainda que este dependa do testemunho anterior: “Nicolau, um dos sete diáconos nomeado pelos apóstolos, se afastou da ortodoxia promovendo (ensinando) a vida dissoluta e as comidas e burlando as coisas do Espírito Santo (reveladas) no Apocalipse de João, fornicando e comendo carnes imoladas aos ídolos”. Há uma forte suspeita de que o testemunho histórico e Irineu tenham sido elaborados a partir dos mesmos dados do livro do Apocalipse, visto que quando descreve o grupo não agrega nenhum elemento além dos já mencionados na obra de João. Não obstante Irineu faça duas anotações precisas: O personagem Nicolau, ao qual remontam as heresias, é um dos sete helenistas dos Atos; Os “Nicolaítas” vivem de forma indiscreta, de maneira indiferente1, alguns comentaristas vêm no diácono Nicolau, pelo fato de ser citado no final da lista dos sete, como alguém com a função de “traidor”, associando à figura de Judas, também em último lugar nas listas dos Doze. Porém, isto é pura suposição, sem base nos fatos. Muitos exegetas pensam que essa seita se chamava assim porque devia sua origem a um certo Nicolau, doutor gnóstico da Ásia. Pelo fato de estar unida aos “que sustentam a doutrina de Balaão”, com um “assim” e na descrição dos “balaamitas” se assinala o desregramento moral (“a provocar escândalos aos filhos de Israel e comer carnes imoladas aos ídolos e a fornicar” Ap 2.14); faz pensar em uma seita sincretista, muito própria do gnosticismo, muito espiritualistas no início, mas terminando com os vícios mais estapafúrdios 2. Independente quem seja o personagem histórico, permanece o fato de que o ‘nicolaísmo’ era uma seita perversa, no interior da igreja (e não fora dela), que sustentava um estilo de vida e apregoava uma moral completamente porosa, complacente com a cultura dominante da época, sem fazer nenhuma distinção entre a vida nova do Evangelho e as práticas mundanas. O nicolaísmo, de todas as heresias, é a mais longeva, a mais insistente e a mais perigosa de todas. Ela é como fermento no meio da massa, levada a partir de dentro, oculta no seio da comunidade. Quando a igreja ‘afrouxa’ as exigências de pureza e santidade, em nome de um amor estranho e incompatível com o Evangelho. Quando o a igreja relativiza o bem e o mal e em nome da tolerância, do politicamente correto ou com o medo de ser acusada de anacrônica ou mesmo processada judicialmente por ser uma comunidade excludente, essa comunidade é capitulada pelo ‘espírito de época. Isto significa dizer, entre outras coisas, que o Evangelho deixou de existir naquela igreja. Os ‘nicolaístas’ hodiernos são aqueles membros da igreja que não vêm nenhum problema em servir a Cristo e usufruir desmedidamente de tudo o que a vida e o mundo podem oferecer, ainda que impróprio aos santos. Não só não vêm problema, mas o pior, levantam bandeiras, se armam em trincheiras, assumem uma postura acusatória e atrevida e aos que desejam o seu bem, como os pastores e presbíteros, passam a ofendê-los com crueldade jamais vista. Esses tais, não acham que assistir séries, filmes e novelas que exploram a vileza humana, que desconstroem a noção bíblica de sexo e amor e onde a lei do mais ‘forte’ ou a corrupção são elevadas à condição de hábitos de vida normativos. São os mesmos que pensam que frequentar bares como o seu habitat natural, fumar narguilé, embriagar-se e manter rodas de conversas indecentes e piadas chocantes, não passa de um passatempo inofensivo. Os nicolaítas, como aqueles do passado, idolatram personalidades políticas, da cultura dominante (popular), times de futebol (ou coisa que o valha) e são capazes de sacrificar os valores do Reino e a fidelidade a Jesus para não perderem a oportunidade de gozarem aqui e agora. O ‘nicolaísmo’ infelizmente vive e passa bem. A sua saúde é a nossa morte. Só há um remédio para esse mal: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas”. (Ap 2.4-5)

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.

 

1. IRINEU DE LYON, Adv. Haereses I, 26,3, em: Rousseau, A., Doutreleau, L, (SC, 264). 8

2. WENDLAND, P. Philosophoumena 7,36,3, in: Hippolytus Werke (GCS III, 223).

Fonte: Luiz Santos

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