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Itapira, 18 de Abril de 2024
Notícia
15/03/2021 | Luiz Santos: Quaresma e Quarentena

Esta é a segunda quaresma vivida dentro desta longeva quarentena. Coincidentemente ambas derivam do numeral quarenta e ambas indicam um tempo de espera, de expectativa para uma boa notícia. As quarentenas são tempos preventivos, na maioria das vezes, ou de confinamento temporário para frear, controlar e erradicar um mal, mas também, aguardando que possíveis males não se manifestem. A quaresma é, por sua vez, muito identificada com um tempo de luta contra os poderes da carne, do mundo e do inferno, um tempo de cura das enfermidades espirituais, erradicação de vícios e o cultivo da piedade pelo incremento das disciplinas espirituais e práticas de boas obras. E qual o seu objetivo? Preparar a igreja para celebrar com o máximo proveito espiritual a solenidade da Páscoa do Salvador Jesus. As restrições impostas por esses dias, sobretudo as restrições de locomoção, poderiam ensejar um tempo de maior convivência no seio da família nuclear, um tempo de incremento da devoção pessoal e do culto familiar, um tempo de maior compreensão do que significa ser igreja, inclusive. Contudo, os dias foram se passando, as pessoas foram se cansando e as fugas foram aparecendo. Fugas sem sair do lugar, maratonas e mais maratonas de séries da Netflix, GloboPlay, Canais Disney e etc. Uma verdadeira overdose de mundanização, de cultura popular ateia e destituída de significados profundos. Não pensem que essas horas gastas nessas maratonas são moralmente neutras. Absolutamente. Uma hora a conta chega, mais cedo que o esperado, mas chega. E uma delas é o desenvolvimento da impaciência e da incapacidade de participar com proveito e com espírito voluntário das programações virtuais da igreja, por exemplo. Mas há também o esfriamento para com as práticas devocionais pessoais e também a paulatina, mas crescente insensibilidade para com o sofrimento do mundo, inclusive até um certo ceticismo em relação aos acontecimentos ao ponto mesmo do negacionismo. As horas gastas nessas maratonas, claro, insensibilizam o coração pela violência gratuita, pela banalização da vida, pela concepção neurótica e egoísta do que é o amor a ponto de nos fazer esfriar no amor cristão pelo próximo e de perder os sensos de empatia e solidariedade. O outro mal (sem ou depois de maratonar) é a fuga física. Em plena pandemia, levados e motivados por esse espírito egoísta e autocentrado, muitos resolveram investir em lazer, viagens, passeios, desafiando inclusive a lógica e o bom senso. Se de todo não há pecado nessas “fugas” há sim uma demonstração de como não conseguimos, em nossa cultura, viver aquilo que os pais da igreja chamavam de “habitare secum”, ou seja, habitar conosco mesmo. Na verdade, não nos suportamos, não suportamos a nossa vida, não estamos satisfeitos nunca e precisamos da sensação de que sempre haverá uma saída, um lugar para onde fugir da nossa realidade. Temos muita dificuldade de carregar a cruz das restrições, das privações, quando o significado que damos à felicidade não se realiza, pelo menos não do jeito que nós desenhamos. A quaresma e a quarentena nos lembram e nos ensinam que no caminho para a liberdade, para a felicidade, para as grandes e mais importantes conquistas, é um caminho de renúncias, de conviver com circunstâncias que não mudam a despeito do nosso desejo e por mais que esperneemos em nosso orgulho inflamado. A quarentena e a quaresma nos forçam a esperar na graça, a descansar na soberania divina, a não sermos tomados pela loucura de nos achar mais sábios do que Deus. Mas, há um outro elemento presente aqui, somos convidados a perceber que a graça comum de Deus também age em nosso proveito. Se na quaresma ler mais a Bíblia, jejuar, abster de certos alimentos, orar, dar esmola, fazer boas obras, traz benefícios espirituais, na quarentena manter distanciamento, usar máscara, não aglomerar, não transitar desnecessariamente, lavar as mãos e acreditar na vacina, também traz grandes benefícios físicos e, inclusive, salva vidas. Estamos todos saturados, cansados, vivendo no limite da paciência e no limite de nossas capacidades emocionais. Contudo, uma quaresma dentro de uma quarentena nos lembra também que o que estamos passando agora, sofrendo agora, as provações e privações de hoje, não se comparam com aquelas do calvário, com aquelas suportadas por Jesus. E é exatamente essa a principal lição desta quarentena quaresmal, ou aprendemos a nos identificar com a cruz de Cristo e associar as nossas dores as dele, ou viveremos este tempo com a frustrante sensação de alienação e absurdidade. Procure ver Cristo crucificado nas dores desta hora, para vê-lo emergir glorioso quando a manhã da ressurreição raiar sobre o mundo. Até lá, deixe-se crucificar!

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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