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Itapira, 18 de Abril de 2024
Notícia
10/08/2015 | Nino Marcati: Esperança morre?

Na minha adolescência, nos tempos da Jovem Guarda, um conjunto que fazia muito sucesso, o Renato e seus Blue Caps, gravou uma música que tratava a esperança bem ao gosto e à realidade da juventude. A título de esclarecimento ou de recuperação da memória, naquela época chamávamos de conjunto os agrupamentos de jovens músicos que tocavam rock and roll nacional e versões. As bandas eram aquelas que agrupavam os músicos mais velhos, tocavam nos coretos das praças, nas solenidades festivas, religiosas ou oficiais. Mas voltando à música do Renato e seus Blue Caps - talvez poucos se lembrem dela - é que ela reforçava um ditado bastante conhecido: “a esperança é a última que morre”. A letra dessa música dizia basicamente que alguém esperava poder namorar outro alguém qualquer dia e que tinha a esperança de que essa pessoa também o amasse, do mesmo jeito. Era uma composição sem primor literário ou artístico, nem fez tanto sucesso. Era uma música tocada e dedicada nos alto-falantes da festa de maio e nas quermesses. Um recadinho como prova de amor e carinho na expectativa de começar um namoro. Outras músicas também eram usadas com a mesma finalidade.

A esperança é um sentimento antigo. Acompanha a humanidade desde o início dos tempos. É relatada em várias passagens bíblicas. A mais antiga e mais conhecida, talvez seja a esperança que o povo hebreu tinha em encontrar a terra prometida, uma promessa de Deus a Abraão e seus descendentes. Uma esperança que resultou no nascimento de três grandes religiões e gerou conflitos que duram até os dias de hoje. Nem todas as esperanças, felizmente, geram conflitos. Quase sempre geram boas construções.

O filósofo Jean Paul-Sartre em sua obra buscou resgatar o homem da descrença na razão e na moral, procurando desmanchar a pecha da derrota encalacrada no povo europeu no período entre as duas grandes guerras e auxiliar o processo de reconstrução dos países destruídos. Para tal, desenvolveu estudos na área e dizia que morreria na esperança causando furor e inquietação. Afinal Sartre era mestre do existencialismo. Doutrina que estabelece que o homem possui a responsabilidade das ações que desenvolve e granjeia, durante a vida, o significado da sua própria existência. Ao trabalhar essa ideia, Sartre deslocou a esperança para além da própria morte. Nós morremos, as nossas esperanças, não necessariamente. Para o filósofo francês, a ação humana transcende o rumo do futuro quando há certeza de que a ação será realizada mesmo quando o idealizador não vive mais. O homem, como animal em constante transformação, não vê data de conclusão no seu desenvolvimento histórico, o que nos leva a conceber a ideia de que a esperança é a mola propulsora desse desenvolvimento.
 
Não existe momento mais significativo para entender a importância do sentimento de esperança senão as crises, pessoais ou coletivas. É nas situações negativas que a esperança aparece e se transforma em porto seguro. Um recurso eficiente para enfrentarmos a má fase.
 
Parece ser compreensível que a esperança nunca morre. Na hora da nossa morte é bem provável que a última esperança é a de que o céu esteja preparado para nos receber. Certamente, uma esperança que não desejamos que morra.
Fonte: Nino Marcati

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