O meu filho, ainda pequeno, nas lojas sempre queria que lhe comprasse alguma coisa. Pressionava, o quanto podia, até conseguir o intento. Diante da necessidade de lhe impor limites, o recurso utilizado era dizer-lhe que não havia mais dinheiro e a resposta dele era pronta: “faz cheque, ué!”. Na cabeça infantil dele, o cheque não era uma alternativa de pagamento, mas algo que permitia comprar o que bem ele desejasse.
Guardada as devidas proporções, lembro-me desse tempo sempre que vejo a postura da oposição exigindo mundos e fundos. Passam a impressão de que acham que o governo tem dinheiro para atender a todos os pleitos, em todos os setores, em nível de primeiro mundo. É certo que a oposição cumpre o papel de infernizar a situação, mas será que não há exageros? Será que a população já não está vacinada contra eventuais falácias oportunistas e mensagens desprovidas de bons argumentos?
Quem acompanha os trabalhos legislativos da Câmara de Itapira deve imaginar, no mínimo, que caso o prefeito Paganini pudesse atender aos pedidos dos vereadores oposicionistas – só deles - Itapira seria nada mais, nada menos, que um pedaço da Noruega, mas habitada por brasileiros com renda per capita seis vezes menor. Enfim, para o vereador “quer tudo” o caixa da prefeitura deve estar sempre abarrotado de dinheiro e para gastá-lo, basta boa vontade. Sem limites!
É impressionante como alguns desses pedidos tentam atacar as consequências, sem qualquer preocupação com as causas. Nesta semana, por exemplo, um vereador oposicionista oficiou a Intervias para que ela ilumine um trecho da estrada Itapira a Jacutinga, entre o Posto NR e o bairro do Tanquinho. Justificou que nesse trecho ocorrem acidentes sistemáticos, provocados por animais na pista, levando muitos motoristas e motociclistas à morte. Um argumento aparentemente bem intencionado, mas tecnicamente esdrúxulo. Pensando assim, a estrada inteira deveria ser iluminada, ou melhor, todas as estradas. Em qualquer caso, quem pagaria a conta de energia e da manutenção, a Intervias? Infelizmente, notícias tristes dessa natureza não vêm apenas do trecho mencionado. Educar e punir os responsáveis, sempre o melhor caminho.
Penso que os vereadores deveriam exercitar um pouco mais a criatividade sem descuidar da responsabilidade econômica e da eficiência dos seus atos. Este país e as suas células municipais dão passos maiores que as pernas que cada um tem. Hoje, o grande problema federal é o descontrole das contas públicas. Motivo? Eleições 2014. Foco, o eleitor. O vereador, diante da aproximação que tem com o povo, deveria trabalhar a relação do que é prioritário. Deveria ajudar a levar o cidadão a ajudar o município a economizar, seja auxiliando na fiscalização ou exigindo que cada um faça a parte que lhe cabe e, sobretudo, como conservar, evitar ou reduzir gastos com a manutenção da coisa pública. Pelo contrário, passa a ideia de que é mais fácil pedir.
Não seria mais produtivo se os nossos vereadores buscassem formas efetivas de impedir ou reduzir que os animais, no âmbito do município, avançassem sobre as estradas e provocassem acidentes?
O MP com base na legislação pode e deve ajudar. Em caso de morte, aos proprietários de animais que provocaram acidentes podem ser detidos por três anos. Na lesão corporal, a detenção em menor, mas também existe. Será que o MP foi questionado pelos vereadores sobre como vem conduzindo esses casos?
O que eu quero dizer, em suma, é que o trabalho do vereador não é avaliado apenas pelas benfeitorias que ele propõe só para justificar ou fazer média com seus supostos eleitores, mas pelas iniciativas de levar o poder público a gastar menos e melhor.
Não demorou muito para que o meu filho aprendesse que cheque não virava dinheiro do nada...
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Itapira, 23 de Abril de 2024
30/03/2015 | Nino Marcati: Itapira, um pedaço da Noruega?
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