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Itapira, 19 de Abril de 2024
Notícia
02/05/2015 | Uma profissão para poucos

 

Existem profissões de todos os tipos. Umas, mais tradicionais, outras que poucas pessoas se mostram aptas a enfrentar as mais diversas situações que se apresentam.

A de agente funerário é uma dessas profissões que se encaixam nesse contexto. Além de delicada, pois coloca o profissional que a exerce em contato com um momento de extrema fragilidade das pessoas envolvidas, exige competência e coragem.
Para David Eduardo Martins Pinto, o Urco, 45, que há 29 anos atua nessa área, não há segredos. Desde os 16 anos, quando começou como office boy na Funerária Itapirense, convive com as emoções que a profissão coloca à sua frente no dia a dia.
Sua iniciação na profissão aconteceu quase que por acaso. “Eu trabalhava na Defesa Materiais para Construção e o depósito era aqui ao lado da funerária”, lembra. “Um amigo trabalhava aqui e eu vinha ficar com ele durante o plantão. Quando aparecia algum serviço eu acabava indo junto”.

Depois de um certo tempo, por reconhecer naquele garoto condições de exercer a profissão com a seriedade que ela exige, o proprietário Jácomo Brioschi Filho fez o convite para que passasse a integrar o quadro de funcionários. “Devo tudo que tenho na vida ao ‘seo’ Jácomo, não fosse ele e eu não estaria assim hoje”, reconhece. “Ele me mostrou os caminhos corretos da vida e me deu a oportunidade de ser alguém”.

Situações

Algumas situações que acontecem no dia a dia de um agente funerário marcaram sua carreira profissional. David lembra de duas que ficaram para sempre em sua memória.

“Lembro de uma situação que me deixou triste pelo ocorrido. Um menino de sete ou oito anos havia sido tirado do convívio da família por causa de envolvimento dos pais com as drogas, colocaram ele em um abrigo e, depois do banho, ele acabou desaparecendo. Dois dias depois acharam o garoto, bastante debilitado, debaixo da cama”, recorda. “Apesar de ter sido socorrido, acabou falecendo e isso me marcou muito, pois acredito que ele se escondeu debaixo da cama por medo, pois uma criança sempre quer ficar com os pais, por mais problemas que tenham”.

A outra situação, embora envolvesse uma tragédia, acabou se tornando bizarra para o agente. No início de 92, em um acidente na SP 147 envolvendo dois caminhões, um carregado com piche e outro com refrigerantes, quatro pessoas perderam a vida e, como a colisão ocorreu no setor pertencente a Itapira, todo o serviço ficou com a empresa em que atua.
“Eu e o Jácomo trabalhamos até de madrugada, apesar do acidente ter ocorrido pela manhã, tal a dificuldade em reconhecer o que pertencia a quem”, lembra. “Em determinado momento, durante a madrugada, eu estava sozinho no necrotério do cemitério arrumando um dos corpos porque o Jácomo havia sido para buscar um lanche pra gente”.

E, na solidão em que se encontrava, David acabou, sem querer, estourando o travesseiro que é colocado debaixo do corpo dentro da urna funerária. “O travesseiro tem seu enchimento feito com pó de serra e o barulho feito quando estourou me deixou assustado, pois pensei que a pessoa estivesse viva”, conta. “Saí correndo para a rua e demorei umas duas horas para voltar ao local e constatar que nada havia ocorrido a não ser o travesseiro que havia estourado”.

Apesar de bizarro, o fato foi encarado por David como mais um detalhe da profissão que havia escolhido. “Nossa profissão exige muito profissionalismo e respeito, pois tratamos com as pessoas no momento mais delicado de suas vidas, quando estão perdendo uma pessoa da família”, explica.
 
E, mesmo reconhecendo que tenha entrado na profissão por acaso, acredita que um fato da infância o faz entender que nem tudo é por acaso. “Quando eu era criança e brincava com carrinhos, entre eles sempre tinha ambulância e eu fazia o cemitério com palitinhos de fósforo”, recorda. “Esse era meu destino e o ‘seo’ Jácomo se incumbiu de me colocar no caminho certo”.
 
Fonte: Da Redação do PCI

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