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Itapira, 18 de Abril de 2024
Artigo
26/02/2011 | Do orgasmo épico à brochada homérica.

Foi orgástica a última sessão da nossa melindrosa casa de leis. Digo isso no melhor sentido das palavras. Vi uma casa amadurecida, descarregada de influências anômalas. Vi a vereadora Sonia, ainda sem ritmo de jogo, mostrando que não perdeu a verve. Que bom que teria sido para o Novo Tempo se assim ela agisse, desde o princípio. Não foi por falta de sugestão. Vi o vereador Carlinhos Sartori consolidando a posição de legislador ativo, antenado nos problemas sociais dos seus representados, oferecendo projetos consistentes agarrados nos acessórios de sustentabilidade. Vi a situação e a oposição discutirem assuntos relevantes, cada qual defendendo seus interesses políticos, sem resvalarem na grosseira ou no desrespeito.  

O grande momento foi a discussão sobre o veto do Prefeito Municipal ao Projeto Família Acolhedora, de autoria do Vereador Carlinhos Sartori. A tônica pontuou sobre a legalidade da iniciativa do poder legislativo em gerar despesas para o executivo. Um veto, meio sem jeito, com ares de medo, fez o líder aplaudir a qualidade dos propósitos e, ao mesmo tempo, rogar para que os companheiros votassem favoráveis ao veto ou, ciente da derrota, pediu que se abstivessem.  Bem escorado pelo autor, só não teve o veto apreciado pela ação socorrista ágil do presidente da casa, quase que transfigurado em líder do prefeito.

Certamente, dada a qualidade dos legisladores brasileiros e do sistema de governo em vigor é temerário conceder ao parlamentar a prerrogativa de gerar de despesas. Se non é vero, é bene trovato. Acontece, entretanto, que o poder legislativo tem um sistema subterrâneo de geração de despesas por conta das negociações palacianas. Seja na hora de aprovar um projeto ou votar no presidente da casa ou para aumentar a base aliada ou, simplesmente, apascentar opositores. Procedimentos que colocam os legisladores sob o jugo dos governantes e os tornam menores diante dos eleitores. Melhor seria que os vereadores pudessem propor projetos onerosos, mas que passasse pelos caminhos responsáveis do legislativo, dentro das possibilidades orçamentárias e pela coragem e responsabilidade do prefeito no momento da apreciação.  Uma vez aprovado e executado pelo prefeito, não se fala em imposição legislativa. Foi, portanto, uma discussão produtiva. Deve gerar avanços.

Eu ainda degustava o êxtase da noite legislativa anterior quando recebi a informação da decisão do Vereador Paulo Andrade de renunciar ao mandato. Alegando uma justificativa inquestionável: necessidade de tempo para tratamento de saúde. Fiquei incomodado. O ex-presidente vem desde o ano passado lamuriando com amigos - e publicamente - sobre o desencanto com a política. Desilusão reiterada na nota divulgada nesta quarta-feira. A doença justificada lhe concederia o direito legal do licenciamento, pelo prazo que necessitasse. Os subsídios pagos pelos serviços não efetivamente prestados poderiam – caso fosse o inconveniente - ser doados para uma ou mais instituições de caridade ou, até quem sabe, ao próprio tesouro público municipal.

Não vejo na renuncia de Paulo Andrade, nos termos em que ela foi fundamentada, nenhuma contribuição para a evolução política da nossa cidade. Muito pelo contrário. O recado que ele nos dá é claro, deixa para os idealistas, transformadores e batalhadores por um mundo melhor o entendimento de que “a coisa é muito complicada”, não bastam as boas intenções se a cidade é lotada de lideranças políticas negativas, conspiradoras, mesquinhas etc.. Em nenhum momento o elegante vereador deu nomes aos bois ou lançou farpas diretas ou indiretas. Ao fragmento extraído da nota “A vida neste mundo me mostrou que é muito difícil, às vezes impossível trabalhar (...) aí vieram as decepções políticas, pessoais” interpreto livremente como: nesse mundo da política ou você se submete ao sistema ou sai da brincadeira. Quem sabe tirando a bola a pelada acaba e a moçada pensa mais, da próxima vez.

Para construirmos um país ou cidade do jeito que nós gostaríamos, não podemos achar ruim o gosto ou o tamanho do sapo, a gente engole com a ajuda de guaraná, mas fica na briga.

A renúncia é legal, mas não é moral. Lamento pela decisão do nobre ex-vereador. Ele não teve o meu voto, mas também fiquei decepcionado.

Fonte: Nino Marcatti

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