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Itapira, 23 de Abril de 2024
Artigo
02/09/2014 | Luiz Santos: A Eucaristia e a Política

 “Eu vim para que tenham vida, e a tenham plenamente” (Jo 10.10).

 

A vida de Jesus pode ter muitas e variadas leituras, muitas e variadas interpretações. E muitas têm sido feitas ao longo dos anos. Evidentemente que a leitura e compreensão que nos interessa é aquela que importa em nossa salvação. A leitura e compreensão acompanhadas do ministério interior do Espírito Santo que nos convence do pecado, do juízo e da condenação, mas que nos faz compreender e aceitar as promessas de reconciliação, paz e vida com Deus em um relacionamento filial e de amor. Todavia, porque o cristianismo além de um dado revelado e aceito pela fé é também um acontecimento histórico, cultural, geográfico e político. Suas implicações todo abrangentes extrapolam e muito ao ambiente religioso e da fé. O cristianismo forjou uma nova visão do mundo, da humanidade e do sentido da história e seus desdobramentos. Portanto, é possível uma abordagem da vida de Jesus Cristo sob o viés político.

Em primeiro lugar, desde logo, temos de resistir e também rechaçar a imagem de um Jesus revolucionário nos motes de um Che Guevara. Entretanto, o compromisso de Jesus Cristo é infinitamente mais profundo com a causa libertária. Maria, mães de Jesus, inspirada pelo Espírito Santo, cantou o compromisso político de seu Filho: “Ele realizou poderosos feitos com seu braço; dispersou os que são soberbos no mais íntimo do coração. Derrubou governantes dos seus tronos, mas exaltou os humildes. Encheu de coisas boas os famintos, mas despediu de mãos vazias os ricos” (Lc 1.51-53). Mais tarde, o próprio Jesus explicou como pretenderia realizar este seu compromisso: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor" (Lc 4.18-19). Ou seja, Jesus exerceria seu compromisso político em forma de ministério com predileção pelos pobres.

O Novo Testamento testemunha abundantemente Jesus socorrendo, ensinando, curando, libertando, consolando e saciando a fome dos pobres que acorriam a ele. Esta preferência nunca foi excludente, Jesus demonstrou afeição, preocupação e amor também com pessoas de posição social privilegiadas, como Zaqueu e Nicodemus, para citarmos alguns. Todavia, o compromisso político de Jesus não se identificava com nenhuma ideologia humana de maneira absoluta, nem com a ‘Pax Romana’ do Império Romano, nem com as ambições de Herodes, dos Zelostes, ou Fariseus e Saduceus. Como dissera a Pilatos, seu Reino não era deste mundo. Mas o seu Reino já se fazia presente em seus valores transcendentais e morais. A justiça, a equidade, a verdade, o direito dos pobres à terra, pão, vida e liberdade. O dever do governo e das autoridades, de coibir o mal, disciplinar os rebeldes e marginais e promover o bem comum, foram verdades e ensinamentos presentes no ministério de Jesus.

Dar a Cesar o que é de César e a Deus o que é de Deus não tem nada de alienante e excludente entre si, pelo contrário, significa que Jesus reinaria soberanamente em ambas as esferas como Senhor que era, e que os seus discípulos deveriam cumprir a sua missão, atuando zelosamente também nestes dois campos, evitando o escapismo de uma religião alienada tanto quanto o absolutismo de um Estado Messiânico, como se este fosse o salvador das necessidades humanas. Por isso mesmo, não há gesto cristão com maior força política do que a Eucaristia, a Ceia do Senhor.

Além da Ceia apontar e fazer-nos recordar a morte de Jesus que, por determinação do Pai, ocorreu dentro de um contexto político nas tensões Israel-Roma: Os reis da terra se levantam, e os governantes se reúnem contra o Senhor e contra o seu Ungido. De fato, Herodes e Pôncio Pilatos reuniram-se com os gentios e com os povos de Israel nesta cidade, para conspirar contra o teu santo servo Jesus, a quem ungiste. Fizeram o que o teu poder e a tua vontade haviam decidido de antemão que acontecesse” (At 4.26-28), ela mesma contém as mais belas lições para as relações sociais, o exercício da liderança e do poder como serviço: “... assim, levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura. Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura. Chegou-se a Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, vais lavar os meus pés? Respondeu Jesus: Você não compreende agora o que estou lhe fazendo; mais tarde, porém, entenderá. Disse Pedro: Não; nunca lavarás os meus pés. Jesus respondeu: Se eu não os lavar, você não terá parte comigo (...) Quando terminou de lavar-lhes os pés, Jesus tornou a vestir sua capa e voltou ao seu lugar. Então lhes perguntou: "Vocês entendem o que lhes fiz? Vocês me chamam ‘Mestre’ e ‘Senhor’, e com razão, pois eu o sou. Pois bem, se eu, sendo Senhor e Mestre de vocês, lavei-lhes os pés, vocês também devem lavar os pés uns dos outros. Eu lhes dei o exemplo, para que vocês façam como lhes fiz. Digo-lhes verdadeiramente que nenhum escravo é maior do que o seu senhor, como também nenhum mensageiro é maior do que aquele que o enviou. Agora que vocês sabem estas coisas, felizes serão se as praticarem" (Jo 13:4-17).

A Eucaristia nos ensina e sintetiza a visão cristã da Política, todo poder e toda autoridade estão a serviço do próximo e os pobres, devem receber atenção especial.

Reverendo Luiz Fernando

É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira

Fonte: Luiz Santos

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