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Itapira, 19 de Abril de 2024
Artigo
05/11/2018 | Luiz Santos: Confessionalidade

Vivemos em uma época ‘anticonfessional’, isto é, em um ambiente teológico e cultural que na intenção e na prática nega a autoridade e a necessidade dos documentos confessionais, os credos (séculos III-V) e confissões de fé consideradas clássicas [Confissão Belga (1561), Catecismo de Heidelberg (1563), Cânones de Dort (1619), Confissão de Westminster (1643)  e a Confissão redigida em 1677 para os cristãos batistas ingleses]. Muitos o fazem com a melhor das intenções, defender a exclusividade da autoridade das Escrituras, o que não negamos de maneira alguma. Não faz muito tempo fui convidado a participar de um culto em uma igreja batista. No início do sermão o colega pastor, olhando em minha direção, segurou a Bíblia aberta na altura do coração e com ar dramático declarou: “Essa é a nossa confissão de fé e Cristo é o nosso credo”. Claro, que sob todos os aspectos possíveis, eu disse em alto e bom som, amém! Todavia, essa desnecessária alegação de purismo e de fidelidade é ilusória e enganadora. Não há uma única comunidade eclesial organizada que creia simplesmente sem um mínimo sumariado da fé. Precisa crer em pontos salientes, distintivos e precisos para assegurar a todos que estão crendo na verdade. Ao sumariar esses pontos, ao identificá-los como uma espécie de mínimo irredutível da ortodoxia, de certa maneira estão subscrevendo um credo, uma confissão de fé. Pode não ser formal. Pode não ser registrada e pactuada publicamente e pode ser que nem mereça atenção mais sistemática dos crentes na hora do estudo bíblico ou da adoração, mas está lá, no inconsciente, no horizonte mental da comunidade a guiar a vida daquela igreja. Os ‘anticonfessionais’ ancoram o seu discurso na tese de que os Reformadores libertaram a igreja do jugo da Tradição, a desprezaram por inteiro e a reputaram como maldita e irreconciliável com as Escrituras, por isso o “Sola Scriptura”. Entretanto, um estudo mais acurado da história da Reforma prova não ser verdadeira essa ideia. Muitos setores da igreja evangélica gostam de afirmar: “Nós os Evangélicos temos a Bíblia e somente a Bíblia. Os católicos preferiram a Tradição”. Essa é uma afirmação infeliz e infantil, para dizer o mínimo. O que estava em jogo não era se a Tradição era legítima ou não ou se podia exercer alguma função construtiva na vida da igreja. Os reformadores não negaram a Tradição e nem a sua autoridade. Antes, seu desejo e seu esforço foi a de conectar a Tradição às Escrituras, coisa que o tradicionalismo e o costume haviam rompido. Na verdade, desde cedo, os reformadores se consideraram os verdadeiros herdeiros da Tradição, exatamente porque deram todo crédito e depositaram toda a fé na Palavra de Deus como “norma normans, norma non normata”, isto significa que a Bíblia é a Regra Reguladora da Fé não podendo ser regulada por nada nem ninguém, está acima de qualquer autoridade, inclusive da Igreja. Quando interpelado pelo Cardeal Sadoleto, que afirmava que os protestantes haviam se desviado da Tradição, Calvino sustentou exatamente o contrário. Afirmou que os protestantes eram os seus verdadeiros herdeiros, porque abraçaram a Tradição que acolheu e interpretou a palavra de Deus de geração em geração, coisa que a Igreja Católica havia deixado de fazer. É a Bíblia que diz o que devemos crer, em quem devemos crer e como devemos crer. Então, que fazem os credos e as confissões? Subordinados a Bíblia como autoridade máxima, sumariam, sintetizam e interpretam as Escrituras, buscando colocar em ordem de excelência e importância os essenciais da fé cristã. Como isso foi feito? Servindo-se da Tradição, isto é, da fé dos antigos, da fé experimentada, testada pelo tempo, pela perseguição, ornada com o sangue dos mártires e que foi transmitida de geração em geração. Não começamos a odisseia do cristianismo, a história da igreja de um marco zero. Estamos sobre os ombros de gigantes e os credos e as confissões nos conectam aos crentes do passado e mais, protegem os crentes no presente da tirania ou do despotismo de líderes inescrupulosos que querem impor seu ponto de vista e sua vontade. Nos protegem contra velhas e novas heresias que surgem de leituras das Escrituras de maneira deficiente, nem sempre com má intenção, mas sempre perigosa para a alma dos crentes. Os credos e confissões não são inerrantes e podem e às vezes tem sofrido correções e alterações ou que refletiam o costume de uma época ou a interpretação Bíblica que a seu tempo carecia de melhor elucidação. Todavia, nunca um credo ou uma confissão de fé foi alterada ou corrigida naquelas verdades esculpidas pelo Espírito Santo nas Sagradas Escrituras e que tais documentos abrigaram e transmitiram de maneira lógica, pedagógica, sistemática para que cada crente pudesse se assegurar da genuinidade de sua fé e a Igreja pudesse se conduzir em adoração e na missão vivendo de modo a agradar a Deus. Eu creio. Eu confesso!

Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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