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Itapira, 23 de Abril de 2024
Artigo
02/03/2022 | Luiz Santos: Contagem regressiva para a Páscoa

Iniciamos neste domingo (em outros calendários já desde a Quarta-Feira de Cinzas) um novo ciclo litúrgico. Vivemos os dias em preparação para Páscoa ou o tempo quaresmal. Serão quarenta dias de uma preparação mais próxima à celebração culminante da economia da salvação, dramatizada na liturgia. Entretanto, o tema da celebração da festa pascal nos arraiais evangélicos está longe de ser pacífico. Existem bons argumentos, mais nos ramos batistas e reformados-puritanos, contra a observação desses dias. Contudo, a Páscoa é celebrada também pelos cristãos desde dias imemoriais. Vestígios de que comunidades de maioria gentílica celebravam Páscoa e Pentecostes podem ser encontradas já no Novo Testamento: 1Co 5.7; 1 Co 16.8. A igreja da era patrística dá um forte testemunho da celebração desta festa com célebres sermões, como de André de Creta, Melito de Sardes, Crisóstomo, Ambrósio e Agostinho. Encontramos reminiscências litúrgicas antiquíssimas nas catequeses mistagógicas e nos relatos da peregrinação de Etéria. Ireneu de Lião escreve que a Páscoa já era celebrada em Roma desde os dias do Bispo Sisto I no ano 115 e que Policarpo também a celebrava por volta ainda do ano 100, tendo-a celebrada inclusive no ano 155 quando de sua visita à capital do império. Uma das rubricas litúrgicas mais antigas do cristianismo se encontra na Regra de São Bento, um precioso códice legislativo da vida monástica do século V. Nos capítulos 8 e 10 que dispõe sobre o Ofício Divino, a salmodia e as horas de recitação dos salmos têm como referência a Páscoa. As coisas acontecem de um jeito antes e de outro modo, após a Páscoa, indicando assim, que essa festa era o clímax e o centro da economia litúrgica e da vida prática do mosteiro. Com o desenvolvimento posterior da vida e da ciência litúrgica na história da igreja, a comemoração da Ressurreição de Jesus Cristo foi ganhando sempre mais destaque. Infelizmente muitos elementos alienígenas ao Evangelho e bem como ao patrimônio litúrgico tradicional da igreja foram sendo incorporados na liturgia, na medida em que a igreja sofria grande degenerescência por se afastar das Escrituras e do melhor de sua Tradição. A Reforma Protestante é, em grande medida, uma Reforma do culto e nenhum dos grandes reformadores, nem mesmo o mais radical deles, Zwinglio, suprimiu a observância da celebração da Páscoa. Cada qual, segundo a direção que receberam de Deus e conforme as influências sofridas, contribuíram para a purificação da observância da Páscoa e o modo como deveríamos nos preparar para ela. Muito mais tarde, quando os ventos do iluminismo trouxeram a reboque o secularismo, muitas confissões cristãs se ‘desgrudaram’ de seu passado e de suas raízes, comprometendo assim, qualquer compreensão mais favorável à celebração litúrgica da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. Entretanto, escrevo tudo isso para dizer que entramos no período de uma preparação próxima à festa, serão quarenta dias para de maneira intensa verificar as Escrituras, especialmente em um primeiro momento o Antigo Testamento e atestar que desde o Éden, o sacrifício expiatório, vicário e inocente de Jesus já estava anunciado e, dali para frente no drama bíblico, cada vez mais reclamado e esperado. Essa preparação atinge o seu clímax na contemplação do servo sofredor no Profeta Isaías (42.1-4; 49.1-6; 50.4-9; 52.12-15; 53.1-12), e no faz levantar os olhos para os montes (Sl 121.1), para Jerusalém e fitar a silhueta do ‘Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’ (Jo 1.29). Para celebrarmos a madrugada, manhã de domingo da Ressurreição com proveito espiritual, santas emoções e edificação, um tempo  pedagógico, didático e inspirador como o período quaresmal é bem-vindo e devemos fazer o melhor uso possível dele com bons lecionários, piedosos devocionários e liturgias inteligentes e numinosas que nos comuniquem graça e enlevo espiritual. Preparar-se bem para a Páscoa é Bíblico e mesmo os discípulos de Jesus sabiam que o improviso e o vácuo não deveriam ter lugar: “Então Jesus enviou Pedro e João, dizendo:— Vão e preparem a Páscoa para que a comamos” (Lc 22.8); “Ele lhes mostrará um espaçoso cenáculo mobiliado; ali façam os preparativos” (Lc 22.12) e por fim: “E eles fizeram como Jesus lhes havia ordenado e prepararam a Páscoa” (Mt 26.19). Esse é o desejo do Senhor: “Então Jesus lhes disse:— Tenho desejado ansiosamente comer esta Páscoa com vocês...” (Lc 22.15). Iniciemos essa contagem regressiva preparando-nos bem para comer a Páscoa de Jesus, com Jesus e seus discípulos.

Reverendo Luiz Fernando é Ministro Presbiteriano em Itapira.

Fonte: Luiz Santos

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