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Itapira, 20 de Abril de 2024
Artigo
13/02/2021 | Luiz Santos: Direção Espiritual

Continuando a nossa série sobre as disciplinas espirituais, um expediente importante para a vida cristã é a direção ou mentoria espiritual. Nos últimos anos, essa antiga disciplina foi muito associada e até confundida com a do aconselhamento bíblico. De fato, as duas possuem grandes semelhanças, mas não se tratam da mesma coisa. Via de regra, e nem sempre é assim, o aconselhamento bíblico se apresenta numa encruzilhada existencial espiritual ou mesmo de ordem psicológica. Ele é solicitado quando um irmão precisa lidar com um acontecimento, um sentimento ou um está passando por um dilema. É um momento de abertura, de revelação de conflitos e na oração, no diálogo, buscando o conselho das Escrituras e ou indispensável auxílio muitas vezes também da psicologia e congêneres. O aconselhamento bíblico é muito útil para a saúde integral do cristão e uma valiosíssima oportunidade para o discipulado e o exercício de um profícuo ministério pastoral de cuidado e amor. Já a direção espiritual (ou mentoria), faz parte de um processo discipular mais amplo, complexo e longo. Geralmente ela não está necessariamente ligada a um problema de foro íntimo ou qualquer outro que possa ser contemplado no aconselhamento bíblico. Na verdade, é uma escolha de um parceiro para uma longa peregrinação, uma longa caminhada numa mesma direção. É a escolha de um irmão mais experiente, que já andou boa parte do caminho, conhece alguns dos seus perigos, mas também onde encontram fontes e prados para o refrigério da alma. O diretor espiritual deve ser alguém maduro e são na fé, que tenha a sua alma encharcada das Escrituras e que tenha assimilado preciosas lições dos grandes santos e santas de Deus do passado. O homem ou mulher a quem se confia o trabalho de nos ajudar a crescer em nosso discipulado e nosso amor por Cristo deve ser alguém cujos afetos pelo Senhor Jesus sejam patentes aos olhos de todos. A direção espiritual é uma disciplina que exigirá de ambos (diretor e dirigido) respeito, distanciamento seguro para que não haja projeções e expectativas inalcançáveis, cumplicidade, transparência, caridosa sinceridade e uma dinâmica de tempo e regularidade tais que não criem dependências doentias. Quais são os assuntos que mais envolvem uma direção espiritual? Em primeiro lugar ‘as noites escuras da alma’. Aqueles períodos que todos os santos experimentam de aridez espiritual e de mais sombras que luz em sua relação com Deus e com os irmãos. Essas noites da alma não são períodos em que devemos buscar saídas e superações rápidas. Na direção espiritual o que se pretende não é dar explicações, mas encontrar juntos como podemos aprender, apreender e tirar proveitosos ensinamentos desses dias de esgotamento espiritual. Não se trata de achar os motivos da sequidão, mas de como integrar esses momentos no meu processo de crescimento em Cristo e da minha conformação a Ele. Os ‘santos sofredores’ da Bíblia têm muito a nos dizer, Jó, José do Egito, Jeremias, Paulo, e evidentemente o Senhor Jesus. Todos esses tiveram os seus dias de alma ressequida e todos, e no dizer da carta aos Hebreus 5.8, até o Senhor, aprendeu algo com períodos de dor. Mas, outros predecessores nossos em nossa peregrinação nos servem de exemplos aqui, os mártires da igreja antiga, alguns reformadores, puritanos se apresentam a nós como verdadeiros mestres na arte de crescer em dias de estio espiritual. Outro aspecto importante tratado na direção espiritual são os escrúpulos de consciência. Faz parte do trabalho da graça, ao purificar-nos, tornar-nos também mais sensíveis à realidade do pecado presente em nós e a sua influência sobre a nossa mente e coração. Não raras vezes, até que tenhamos sido bem treinados e amadurecidos, muitos discípulos se sentem abatidos, confusos, decepcionados consigo e paralisam em sua caminhada. O papel do diretor nunca é o de relativizar o pecado ou diminuir os seus efeitos nefastos e menos ainda desconsiderar a gravidade, boa gravidade diga-se, do escrúpulo. Antes, é seu papel junto com o dirigido, por meio da oração e da Palavra, demonstrar-lhe esse maravilhoso e libertador trabalho da graça em sua vida. Mais uma vez os santos bíblicos são os nossos melhores exemplos, Abraão, Jacó, Sansão, Davi, Pedro, para ficar nesses. Quando o escrúpulo não é levado a sério e tratado devidamente sob os influxos da graça, ele pode levar tanto à cauterização da mente, quanto a um estado mórbido da mente que em tudo vê o mal. E, por último, sem esgotar o assunto, haveria muito mais o que dizer, os desafios da vida fraterna em comunidade, as dificuldades de convivência com as diferenças, as diferentes etapas da vida cristã e as imperfeições dos santos. É dever do diretor nunca perder de vista que a comunidade dos discípulos é uma comunidade de pecadores que estão sendo aperfeiçoados. Tudo que está sendo aperfeiçoado, naturalmente ainda possui imperfeições. Logo, o diretor espiritual deve encorajar o seu parceiro de peregrinação ao exercício do amor, da paciência e da esperança, porque, apesar de tudo, Canaã é logo ali. Logo, estaremos em casa.

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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