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Itapira, 19 de Abril de 2024
Artigo
04/08/2015 | Luiz Santos: Ética e Missões

 “...apareceu o SENHOR a Abrão, e disse-lhe: Eu sou o Deus Todo-Poderoso, anda em minha presença e sê perfeito

(Gn 17.1)

O Brasil vive um momento muito delicado de sua história. Há uma avalanche de denúncias, investigações, processos e prisões envolvendo altos executivos de empresas multinacionais, políticos de grande expressão e contraventores de toda sorte. Todos, flagrados, numa mesma situação: corrupção. Corrupção aqui traduzida no abandono radical da Ética. Dentre esses supracitados há quem diga que sem propina, sem um “pixulé” não é possível fazer girar a roda da economia, do desenvolvimento e da governança no Brasil. O próprio ex-presidente Lula haveria confessado ao seu colega José Mujica, do Uruguai, que sem corrupção não há como governar. Ou seja, é a lógica de que o ‘trabalho precisa ser feito’ e pronto, custe o que custar.

Descendo para exemplos mais simplórios, ninguém se pergunta que tipo de pessoa é o seu carteiro. Qual a idoneidade do sujeito que entrega o jornal todas as manhãs. Desde que a correspondência chegue e o jornal amanheça na minha garagem, o que me importa se na noite passada o carteiro traiu a sua esposa ou o jornaleiro fumou um baseado?

Todavia, com a igreja a coisa deve ser bem diferente. A nossa identidade funcional não se reduz ao que temos que fazer. Deus não tem tanto interesse em fazer-nos meros entregadores de sua mensagem ao mundo e depois disso pouco importa como tocamos a nossa vida. Absolutamente. Nossa missão não é apenas para apresentar ‘Boas Novas’ para que sejam cridas, mas também para que sejam obedecidas. Isso não acontecerá até que nos tornemos também ‘Boas Novas’ para as pessoas e para as nações.

Claro está que Deus preocupa-se com que tipo de pessoas deve realizar a sua missão. Aqui entra em cena a Ética em Missões. Há um trabalho a ser feito, há também metas para serem alcançadas, existem prazos a serem cumpridos e os números devem ser apresentados no final. Mas tudo deve ser feito sem o sacrifício da Ética no altar dos resultados. A Igreja que deve proclamar a transformação que o Evangelho opera deve também, em certa medida, apresentar sinais e evidências desta mesma transformação em si mesma, em seus filhos.

O evento do Êxodo no Antigo Testamento é a chave bíblica para se compreender a Missão de Deus e as Missões da Igreja em termos de redenção e ética. Quando lemos os relatos do Livro do Êxodo, a partir do capítulo 3.7, encontramos ali um Deus comprometido com a totalidade existencial de seu povo. Os atos redentivos que se seguem neste livro demonstram um Deus que redime Israel da opressão política, econômica, cultural e religiosa. Sem terra e sem direito a cidadania, sem autonomia política e econômica, escravizado sob um regime cruel, perseguido e vitimizado por uma política de purificação étnica e de controle de natalidade e sem liberdade religiosa plena, a vida de Israel no Egito era desumana.

Deus toma partido e inicia o processo de redenção que culminará mais tarde na posse da ‘Terra Prometida’. Uma vez redimido, junto aos privilégios de sua Eleição, o povo de Deus recebeu seríssimas instruções éticas para viver a sua missão no mundo fazendo e sendo o oposto de Sodoma, Gomorra e Egito, que cada uma a seu tempo e a seu modo tipificam a depravação das nações, de povos que abandonaram a ética e se entregaram a todos as formas de violência, prevaricação e depravação. Não houve área que não fosse afetada, na sexualidade desregrada e violenta, na idolatria grosseira, na opressão e escravização de homens e mulheres, nas muitas formas de violência contra a vida e etc.

Israel por sua vez deveria lembrar-se sempre dos efeitos destes povos em sua história. Deveria ter sempre na memória que foi um dia estrangeiro em terra estranha e que foi maltratado. Jamais poderia esquecer que seus órfãos, viúvas e seus pobres foram relegados e deixados à própria sorte sem quem os defendesse. Por isso, em todas as suas relações Israel deveria proclamar o direito, o juízo, a justiça. Deveria tratar com Ética todos os seus negócios evitando lesar os seus compatriotas com balanças adulteradas e medidas distorcidas. Deveria haver provisão e previsão para o amparo dos pobres, dos órfãos e das viúvas. Os estrangeiros que quisessem viver em seu meio em paz deveriam ser tratados com respeito, humanidade e inclusão social e às bênçãos da Aliança.

A Igreja parte deste pressuposto Bíblico. A sua missão e a sua proclamação deve ser uma tomada efetiva e irrenunciável do lado onde injustiças são cometidas, onde as vozes não são ouvidas e o Direito não chega. Deve assim fazer enquanto anuncia Jesus Cristo como o Redentor e Salvador e seu Reino de Justiça, Vida e paz. A Comunidade de fé é também uma Comunidade Ética e sua vida é parte integramente de sua missão.

Rev. Luiz Fernando É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira

Fonte: Luiz Santos

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