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Itapira, 24 de Abril de 2024
Artigo
06/08/2013 | Luiz Santos: Eucaristia e Missão

Fazei isto em  minha memória” (Lc 22.19 b).

A compreensão da natureza e do lugar da Eucaristia na vida da Igreja Evangélica ainda é muito pobre. No afã de nos precavermos de certos exageros praticados em outras confissões, nós protestantes, infelizmente, esvaziamos quase por completo o sentido da Eucaristia, relegando-a muitas vezes a uma simples recordação do que Jesus fez. Quase transformamos a Eucaristia num arremedo de teatro sem vida e sem graça.

Entretanto, a riquíssima Tradição da Igreja desde Atos dos Apóstolos, passando pelos pais apostólicos, a era patrística grega e latina até o final do século VII desenvolveram a teologia da Eucaristia com implicações sobre todas as dimensões da vida da Igreja, desde o culto, a ética pessoal e comunitária, a piedade pessoal, a caridade social e efetivamente as missões. Nas épocas citadas acima, a Eucaristia não era o centro do culto cristão. Cristo e a sua Palavra sim. Mas, a Eucaristia estava no centro, não havia ajuntamento solene onde depois do nutrimento do pão da Palavra não houvesse também o nutrimento sacramental que tipificavam o sacrifício da cruz: Pão e Vinho eucaristizados.

Precioso é o testemunho que recebemos do Novo Testamento: Atos dos Apóstolos e algumas epístolas Paulinas aludem à reunião semanal de partir o pão. Também os documentos conservados na história da Igreja: a didascalia Apostólica, a Didaqué, a Tradição de Hipólito, a Tradição de Justino, a Liturgia de Jacó Baradai e os muitos cânones conciliares antiquíssimos atestam a vivência de uma Igreja Eucarística.

Dando um salto na história, os Reformadores se viram às voltas com o conceito, a realidade e a prática da Ceia do Senhor. Três grandes ramos surgiram e permanecem desde então influenciando os herdeiros da Reforma: a Tradição Luterana, a Escola Calvinista e a posição de Ulrico Zwinglo. Há ainda a Tradição Anglicana que conservou-se apenas e tão somente nos limites de suas ramificações e de sua comunhão espiritual.

Lutero modificou levemente a Missa, fazendo apenas ajustes e uma espécie de enxugamento e expurgo de elementos que não eram claramente bíblicos. Zwinglio foi o mais radical. Esvaziou quase completamente a Ceia de gestos, sinais e gênio litúrgico. Aboliu inclusive o canto congregacional e o uso de instrumentos musicais no culto e relegou a celebração da Ceia, da Eucaristia, a poucas ocasiões no ano, quatro para ser mais exato.

Calvino buscou o meio termo entre as Tradições de sua época. Foi mais longe que Lutero, modificou também a natureza, o conceito, e uniu de vez a validade e a liceidade do sacramento com a pregação da Palavra. Calvino foi mais generoso e fiel à Tradição Neotestamentária e Patrística que Zwinglio. Desejou preservar a Eucaristia na reunião semanal dos cristãos e ainda estabeleceu uma ordem do culto que, conquanto preservasse a simplicidade do culto sob o Evangelho, conservou espaço para a solenidade, a gravidade e o gênio litúrgico, sem estabelecer uma regra fixa.

Nós, presbiterianos, ligados mais estreitamente à escola de Calvino possuímos esta compreensão do sacramento como um selo que confirma e pela fé aplica as promessas da Palavra de Deus, enquanto nutre a fé e comunica graças aos corações crentes. Mas, há outra dimensão da Eucaristia que devemos recuperar. É a dimensão missionária da celebração da Ceia. Toda assembleia eucarística é uma reunião de proclamação, é uma reunião querigmática que aponta para a verdade da cruz e para a realidade da ressurreição. Quando nos reunimos para fazer memória adorante da obra da redenção consumada por Cristo somos visitados pela consciência de que esta verdade não pode ser confinada ao recinto do culto. Precisamos levá-la para o centro de nossas vidas pessoal e comunitária.

Em cada Ceia damos testemunho do gesto de amor sacrificial de Jesus e o assumimos como nosso, como nossa missão de discípulos. Reconhecemo-nos neste gesto de partir o pão e beber do cálice como vocacionados a sermos a memória vivente do Senhorio de Jesus Cristo no mundo. A Eucaristia não é só um privilégio, um meio de graça, mas um compromisso, uma convocação para vivermos a missão de Cristo de dar a nossa vida, de amar até as últimas consequências como crentes individualmente e como Igreja em Itapira.

A Eucaristia foi entregue à Igreja para ser celebrada entre a Ascensão e a Parúsia, ou seja, no tempo das Missões.  Enquanto anunciamos, pregamos, discipulamos, servimos à Igreja e servimos no mundo,  “sempre que comemos deste pão e bebemos deste cálice anunciamos a morte do Senhor até que ele venha” (1Co 11.26).

Rev. Luiz Fernando

Pastor da IPCI

Fonte: Luiz Santos

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