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Itapira, 29 de Mar�o de 2024
Artigo
12/03/2018 | Luiz Santos: Fides Pescatorum

Adquire sabedoria, adquire inteligência, e não te esqueças nem te apartes das palavras da minha boca. Não a abandones e ela te guardará; ama-a, e ela te protegerá. A sabedoria é a coisa principal; adquire pois a sabedoria, emprega tudo o que possuis na aquisição de entendimento” (Pv 4.5-7).

O título desta pastoral tomo emprestada de uma carta atribuída a São Jerônimo, célebre Pai da Igreja, muito conhecido por sua obra magna, a tradução das Escrituras Sagradas que recebeu o nome de ‘Vulgata’. A carta teria sido escrita numa polêmica contra os ‘anti-intelectualistas’, clérigos e pessoas importantes na igreja antiga que invocavam a simplicidade e quem sabe até, a ignorância dos primeiros discípulos e apóstolos de Jesus Cristo, em contraposição a configuração do cristianismo em sua ascensão no império romano que a cada dia ganhava filósofos, retores forenses, políticos e homens versados nas ciências. Evidentemente, que dentre esses, os mais bem preparados e comprovadamente convertidos logo passavam a ocupar a liderança da comunidade de fé. Casos emblemáticos como os de Justino, filósofo e de Ambrósio, político, para ficar apenas nesses. Uma vez convertidos, não demorou muito e a igreja reconheceu publicamente a capacidade desses homens para exercer o pastorado, a formação e a defesa do rebanho. Os ‘Anti-intelectualistas’ ao falar dos apóstolos e citar passagens das Escrituras como: “Irmãos, pensem no que vocês eram quando foram chamados. Poucos eram sábios segundo os padrões humanos; poucos eram poderosos; poucos eram de nobre nascimento. Mas Deus escolheu as coisas loucas do mundo para envergonhar os sábios, e escolheu as coisas fracas do mundo para envergonhar as fortes. Ele escolheu as coisas insignificantes do mundo, as desprezadas e as que nada são, para reduzir a nada as que são, para que ninguém se vanglorie diante dele” (1 Co 1.26-29), queriam, tirando o texto de seu contexto, de alguma maneira menosprezar ou esvaziar a legitimidade dos líderes mais capazes, como se esses, por serem bem treinados e só por isso, falsificariam o Evangelho com sutilezas de palavras ou raciocínios falazes extinguindo o Espírito. De fato, isso pode mesmo acontecer e tem acontecido na história da Igreja, porém, canonizar a ignorância ou a falta de entendimento é pecaminoso sobre todas as circunstâncias, mas sobretudo, por negar a ação providencial de Deus que prepara homens e mulheres, capacitando-os, segundo a doutrina da graça comum e das sementes do Verbo, para que uma vez convertidos possam ser instrumentos mais poderosos para grandes obras nas mãos do próprio Deus. Figuram entre esses Moisés, educado em toda ciência do Egito, Daniel e seus amigos, educados nas melhores universidades da Babilônia e o apóstolo Paulo, para muitos o maior erudito do seu tempo. Depois, a história se encarrega de dar testemunho dessa mesma verdade, que o Espírito Santo usa da cultura e das ciências também para preparar grandes homens para obra, Agostinho, Gregório de Nissa, Basílio de Cesaréia, Crisóstomo, Tomás de Aquino, Lutero, Calvino, Jonathan Edward são bons exemplos. Foi o próprio Senhor quem prometeu pastores capazes: “E dar-vos-ei pastores segundo o meu coração, os quais vos apascentarão com ciência e com inteligência” (Jr 3.15). Contudo, buscar a inteligência da fé não é um dever somente dos pastores e líderes, e usar o conhecimento adquirido em qualquer área do saber, quer das tecnologias, das ciências naturais, das artes ou qualquer outra, não difere em nada do saber teológico. Isto é, todo conhecimento adquirido e toda inteligência treinada tem o mesmo escopo, a glória de Deus e o serviço aos irmãos e aos semelhantes. Portanto, os cristãos devem esforçarem-se, segundo as suas possiblidades, inclinações e contextos, buscar sempre a melhor capacitação possível para serem mais capazes de servir na Igreja e no mundo a serviço do Rei e do Reino. Por isso, o chamado para os que foram privilegiados com estudos e aquisição de conhecimento é a crucificação e a humilhação da inteligência a fim de escaparem de toda arrogância, presunção e querendo fazer-se passar por sábios aos próprios olhos. Do outro lado, os que por quaisquer razões foram impedidos ou incapacitados do acesso a uma formação específica ou superior, não devem se sentir inferiorizados ou preteridos por Deus e pela comunidade. Antes, pelo contrário, devem nutrir no coração bons sentimentos em relação aos seus irmãos, sobretudo se esses os servirem em suas necessidades e se colocam como cooperadores para todas as necessidades da vida. A igreja cristã deve crescer na graça e no conhecimento de Cristo sem divorciar jamais o desenvolvimento humano e a busca por conhecer e entender a natureza criada, aliás, que faz parte do mandato cultural. Devemos pedir a Deus a apreciação correta de todas as coisas. Não podemos idolatrar a inteligência e o conhecimento. Não podemos canonizar a ignorância ou a falta de conhecimento. Precisamos compreender que os dons de Deus, em suas mais variadas formas, nos fazem devedores uns dos outros e o que devemos é o amor, em forma de serviço e mutualidade cristã.

 

Reverendo Luiz Fernando É Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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