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Itapira, 28 de Mar�o de 2024
Artigo
20/05/2020 | Luiz Santos: Não somos essenciais?

Os dias da pandemia têm sido duros e difíceis para todos, mesmo para os negacionistas e aqueles que veem conspiração em toda parte. Estamos todos desconfortáveis com essa realidade que se impõe cruelmente. Mas, se há uma classe de pessoas que sofreu um duro um golpe, essa classe foi a nossa, a Igreja e a religião em geral. De repente temos pouca ou nenhuma importância, de uma hora para outra perdemos a nossa relevância. Não somos um serviço essencial para uma sociedade em crise! Dói, não? E por que doeu? Simplesmente pelo fato de que em muitos contextos nós reduzimos o fato de sermos discípulos de Cristo apenas e tão somente no contexto do culto público e na participação de atividades cujo fim primeiro, era nos entreter como uma espécie de programa ‘sagrado’ e, por isso mesmo, conveniente ao fato de sermos crentes. Gosto de pensar que a nossa ‘essencialidade’ não pode ser reconhecida pelos homens. O que é essencial em nós é muito parecido com a dimensão da divindade de Jesus, oculta aos olhos das pessoas, sob o véu de sua humanidade. Ainda que ele tenha feito obras estrondosas, inauditas, Jesus também não foi considerado essencial para a sociedade do seu tempo dentro do império romano. A nossa essencialidade, por assim dizer, está em nossa salinidade. Para impedir a progressão da corrupção e da podridão que rapidamente se alastram pelo mundo, não precisamos de muitos reunidos em um só lugar, mas uns poucos no lugar certo e na hora certa, podem e devem levantar a sua voz profética e apontar e clamar contra os desmandos e desgovernos da injustiça. Para dar sabor à vida dos homens, nesses dias insípidos, basta que ofereçamos o pão de Cristo, que é o Evangelho, numa palavra boa, temperada com sal, que comunique graça. Basta que nos coloquemos do lado certo da história, ao lado dos que gemem e sofrem nessa hora insalubre para a humanidade. Para diminuir os efeitos da pobreza aumentada pela presença nefasta do vírus, iniciativas solidárias que mobilizem e sensibilizem para a partilha de gêneros de primeiríssima necessidade, de higiene pessoal, de proteção como as máscaras e limpeza em geral, poderão ser realizadas em grande parte, sem sair de casa, usando bem as redes sociais e depois, sem grande alarde, com uns poucos irmãos, organizar a distribuição. Para tornar mais suportável as muitas dores provocadas pelo afastamento social, que em não poucos casos evolui para isolamento e alienação social, um grupo pode manter contato permanente pelas redes sociais, fazer chamadas telefônicas e mesmo, fazer ‘serenatas’, levando um pouco de afeição dizendo ao outro o quanto ele é importante, que ninguém está de fato só, valorizando a vida e preservando assim, o gosto pelo existir. Não podemos confundir essencialidade com utilitarismo e muito menos como o fazimento de qualquer coisa que justifique socialmente a nossa existência. O fazer a diferença tem a ver não com os resultados imediatos das nossas ações, mas com a finalidade da nossa vida, com o propósito para o qual fomos chamados, que é o de glorificar a Deus em tudo o que fazemos, de existir integralmente para o louvor da sua graça. Não fomos chamados, em primeiro lugar, para sermos relevantes. Esta deve ser uma preocupação do Lions Club, do Rotary, da Maçonaria e etc. Deve ser a preocupação de uma empresa, por isso desenvolve a sua política de responsabilidade social. Já a igreja, a sua vocação originária é a de ser santa, pura, imaculada em união com o seu cabeça e esposo Jesus. É a santidade dele que nos torna diferentes. É a vida dele em nós que dá sentido à nossa. É a participação na sua missão, ‘empoderados’ pelo Espírito que nos leva a fazer a diferença no mundo. Na verdade, não são as nossas atividades que modificam a realidade, mas o fato de que as fazemos para a glória de Deus, então o Filho as aceita como se fossem suas e o Espírito santifica as nossas obras transformando-as numa espécie de sacramento, que comunica bem-estar, graça, vida e bênção aos homens. Ditas essas coisas, é claro que o ajuntamento solene faz falta. Ninguém duvida que adorar de maneira pública, em culto solene e santo, faz parte inerente da nossa vocação. Verdadeiramente a natureza do cristianismo é comunional, fraterna e mutual. Precisamos uns dos outros para a edificação, para o exercício do amor e para crescer em graça. Todavia, o que é essencial para nós é a nossa união com Cristo, é a nossa vida nele, é o viver dele em nós. O que não podemos perder de vista é o fato de que a pandemia nos trouxe uma singular oportunidade, é que além do sal, devemos também agir agora como fermentos, invisivelmente levedando a massa a partir de dentro, com empatia, amor, solidariedade, paciência. Fermento, e não farinha do mesmo saco!

Reverendo Luiz Fernando é Pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.

Fonte: Luiz Santos

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