“Se alguém não ama o Senhor, seja amaldiçoado. Vem, Senhor!” (1 Co 16.22).
Muitos cristãos, infelizmente, reduzem a sua vida cristã à experiência da salvação e do perdão dos pecados. Claro, este é o maior e mais importante e impressionante evento que pode ocorrer ao homem desgraçadamente pecador. Todavia, isto não é tudo. É o essencial, é o mínimo irredutível, é a experiência central da qual outras tantas decorrem. Mas a vida cristã tende a ser mais, mais que a salvação, mais que a própria certeza intelectual e a persuasão moral da salvação. Na verdade a vida nova em Cristo deve envolver e empenhar também as emoções, os afetos, o prazer da alma e o deleite do espírito. É uma experiência a que todos os crentes devem buscar, pedir a Deus em oração e desejar com ânsias de amor. Faz parte daquele enchimento do Espírito Santo de que fala Paulo em Efésios 5.18. Não é uma simples recomendação é antes uma ordenança.
Quando estamos cheios do Espírito somos levados a experimentar de maneira real a presença de Cristo vivendo em nós, reinando absoluto em nosso coração e vencendo em nós o que resta de nossa pecaminosidade. Quando as nossas emoções estão envolvidas e santificadas e purificadas pelo enchimento do Espírito Santo somos levados a enxergar toda a fealdade, a vileza, a odiosidade do pecado. Passamos a nos entristecer pelo fato de ainda sermos pecadores e por termos deliberadamente pecado contra o nosso amorável e dulcíssimo Senhor. Até que cheguemos a chorar e a nos entristecer por nosso pecado é o Espírito Santo que é entristecido em nós. Pois, a missão principal do Espírito Santo é fazer santas todas as coisas e glorificar a Cristo. Logo, o pecado polui e contamina toda a realidade e desonra a Cristo o que faz com que o Espírito que nos regenerou e habita em nós se entristeça. E não é só. Tendo as nossas afeições tocadas pelo Espírito passamos a considerar a Cristo como o mais precioso para nós, como a realidade mais espetacular, como o maior e mais esplendoroso gozo de nossas almas e é o que ensina Pedro: “Mesmo não o tendo visto, vocês o amam; e apesar de não o verem agora, creem nele e exultam com alegria indizível e gloriosa” (1 Pe 1.8).
Todos, carecemos desta experiência como um marco divisório para a nossa vida espiritual. Uma experiência que nunca esqueceremos e faz com que jamais desejemos o estágio anterior em nossa vida espiritual, assim como nos faz ansiar todos os dias a vida no Reino dos Céus onde ela será permanente e sempre mais intensa. Quando este prazer inenarrável do amor a Cristo marca as nossas almas e quando nos vemos ‘perdidamente apaixonados’ por Ele algumas atitudes de nossa parte são inevitáveis.
A primeira delas é a obediência aos mandamentos: “Quem tem os meus mandamentos e lhes obedece, esse é o que me ama. Aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me revelarei a ele" (Jo 14.21). Todo aquele que ama verdadeiramente a Cristo haverá de se esforçar e de amar a sua Palavra colocando-a em prática em dócil obediência.
A segunda é o amor aos santos: “Quanto aos fiéis que há na terra, eles é que são os notáveis em quem está todo o meu prazer” (Sl 16.3). Um cristão dá-nos o direito de que duvidemos da genuinidade de sua vida de fé quando declara encontrar mais prazer com os homens naturais, em associar-se com os homens mortos em pecados em delitos, em sentar-se na roda dos escarnecedores do que associar-se aos santos onde deveria estar o seu prazer, onde o Salmo fosse uma realidade de vida: “Como é bom e agradável quando os irmãos convivem em união! É como óleo precioso derramado sobre a cabeça, que desce pela barba, a barba de Arão, até a gola das suas vestes. É como o orvalho do Hermom quando desce sobre os montes de Sião. Ali o Senhor concede a bênção da vida para sempre” (Sl 133.1-3). O amor a Cristo nos associa aos seus sofrimentos e à sua missão. Não é possível amar a Cristo sem participarmos ativa e afetivamente de sua missão: “Pois assim como os sofrimentos de Cristo transbordam sobre nós, também por meio de Cristo transborda a nossa consolação” (2 Co 1.5); “Suporte comigo os sofrimentos, como bom soldado de Cristo Jesus” (2 Tm 2.3); “De fato, todos os que desejam viver piedosamente em Cristo Jesus serão perseguidos” (2 Tm 3.12); “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, pois eles não são do mundo, como eu também não sou” (Jo 17.14); “Assim como me enviaste ao mundo, eu os enviei ao mundo” (Jo 17.18). Todas estas citações demostram que os que possuem suas emoções e seus afetos presos a Cristo desejam e se alegram por sofrer com e por Ele e ainda anelam e se colocam na condição de serem cooperadores d’Ele em sua missão no mundo.
Desejemos ardentemente ser visitados por esta bênção do Espírito Santo marcando nossas almas com a excelsa realidade de Cristo vivendo em nós e sendo amado fervorosamente por nós.
Reverendo Luiz Fernando
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
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