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Itapira, 28 de Mar�o de 2024
Artigo
10/03/2015 | Luiz Santos: O Ser e o Nada

Ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas"

(Lucas 6.26).

Tomo emprestado o título da obra do filósofo existencialista francês Jean Paul Sartre para esta minha pastoral. Lógico, nem de longe, tenho a pretensão de lançar mão dos pressupostos dele ou de esboçar aqui um tratado filosófico, só foi oportunismo mesmo.

Vivemos dias difíceis na política em geral e na igreja. É uma crise de liderança, há um vácuo de poder-serviço, há uma crise de solidez moral. Não temos grandes estadistas, as grandes potências são lideradas por homens e mulheres fracos, capitulados pelo poder, pelo sucesso, pela aprovação da maioria e claro, pelo mercado. No Brasil por mais que queiram comparar-se para serem diferentes, Governo e Oposição são tão iguais que se merecem. Com raríssimas exceções é possível encontrar um homem público que não possua intenções e motivações absolutamente descomprometidas com o real significado do cargo que ocupam, mas só com muito esforço e observação se pode encontrar. São interesses tão rasteiros que chegam a ser medíocres. Já não há mais ideologia ou princípio. O fisiologismo e o pragmatismo são a lei.

Na igreja a coisa não é muito diferente, na maioria das vezes o que vemos do Vaticano aos Tele evangelistas é mais imagem que conteúdo. Mais fenômeno que impressiona e embriaga as massas do que princípios norteadores que desafiam, desinstalam e provocam transformações. Cada vez mais se quer passar a impressão de que o Evangelho é tolerância que a tudo aceita, inclusão que nada exige, paz sem nenhuma luta, reconciliação sem perdão, ressurreição sem paixão, sem cruz e sem morte. É cada vez mais nítido que se deseja apresentar um Evangelho sem Cristo, ou um Cristo não Messias, não Senhor, mas um ‘homem santo e maravilhoso que entende e aceita as nossas misérias e que a ninguém e a nada julga’, um Jesus para todos e que no final das contas não é de fato necessário a ninguém. Também esses líderes cristãos estão preocupados com a aceitação popular, com os índices das pesquisas, taxas de crescimento, e, para vergonha nossa também com o mercado de produtos religiosos.

Vi esses dias duas publicações da “Cristianismo Hoje” que me deixou estarrecido. Primeiro, a maior denominação neopentecostal do país decidiu inscrever no ‘serasa’ os nomes de seus fiéis inadimplentes com suas obrigações quanto aos dízimos e ofertas. Depois outra denominação, no passado classificada entre as mais moralmente rigorosas, tem entre seus líderes hoje, investidores no mercado de produtos sexuais na linha do que é vendido em ‘sex shops’. No vácuo do poder-serviço, na ausência de líderes-servos provados diante de Deus e comprometidos até a morte com o Senhorio de Cristo e de seu Evangelho, é que a religião e o mundo produzem, por necessidade, este modelo de liderança que tanto lhe apraz.

Como os buracos negros da liderança na igreja e na política se fundem e se confundem? A Igreja sem lideranças com autoridade moral e sem um discurso profético deixa de exercer a sua função. Não forma a consciência, não transmite valores, não clama e reclama por justiça, não dá o exemplo a ser seguido e consequentemente abre mão de sua missão de formar homens e mulheres novos comprometidos com a verdade e os absolutos do Reino de Deus. Sem homens e mulheres novos ou formados e influenciados por tais valores não veremos as transformações que tanto necessitamos em nossa sociedade, não teremos políticos com princípios e valores que defendam a vida, a família e a ética. Há os que defendem com paixão o secularismo radical, um banimento da religião, do cristianismo em especial e sua moral para a periferia da existência e quanto mais privado melhor. E, geralmente são homens e mulheres com certa capacidade intelectual, como o próprio Sartre aqui citado ‘en passant’.

Todavia, a história contemporânea registra que o secularismo não produziu nada além do vácuo, do niilismo, do nada existencial nos últimos tempos. A Europa vive à beira do caos e não é de hoje. A fuga de rapazes e moças para o oriente para abrigar-se sobre o Estado Islâmico não é outra coisa do que a busca por sentido da vida e a manifestação do sentimento de absurdo e de desespero existencial. A falência moral na cultura americana, a endêmica corrupção na América Latina, e toda sorte de miséria e violência do mundo só evidenciam a carência de líderes que se autocompreendem para além de si mesmos e de seus projetos mesquinhos e de seu apego por poder e prestígio.

Faríamos bem se contemplássemos Jesus Cristo, que não se apegou ao fato de ser igual a Deus, mas esvaziou-se... (Fp 2. 6-7), faríamos bem se aproveitássemos a proximidade da Páscoa e visitássemos o evangelho de João capítulo 13 e de fato e de verdade aprendêssemos o que significar liderar e servir. A escolha é nossa: Ser ou Nada!

Reverendo Luiz Fernando

É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira

Fonte: Luiz Santos

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