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Itapira, 16 de Abril de 2024
Artigo
15/06/2020 | Luiz Santos: Pastorado pós-pandemia

Apesar das chocantes e porque não dizer desconcertantes imagens das praias, shoppings, comércio popular, bares e restaurantes abarrotados de gente nos grandes centros urbanos, ainda estamos no olho de uma tempestade perfeita. Os números de casos de contaminação e de óbitos sobem a cada dia. Mesmo áreas que haviam conquistado alguma vantagem sobre o vírus por terem observado com mais disciplina a quarentena, agora retroagem e quase perderam a vantagem que possuíam em menos de duas semanas de relativa flexibilização. A impressão que eu tenho, em dado momento, é que as pessoas combinaram, decidiram de uma hora para outra que a pandemia acabou. Claro, só não combinaram com o Corona. E, iludidas, tentam fazer do mesmo jeito as coisas que faziam antes. O preço por essa conduta será salgado, um custo muito alto e desnecessário. Os nossos governantes escolheram justamente a estratégia mais cara e mais arriscada, tentar aumentar a oferta de leitos e atendimento hospitalar, numa espécie de ‘quebra de braço’ com o vírus. Quando, na verdade, a estratégia mais inteligente seria uma quarentena mais rígida e mais longa, dentro das nossas realidades e possibilidades como nação tão diversificada, para sairmos mais rápido, mais inteiros e mais capazes de recomeçarmos a vida com mais disposição e recursos de toda ordem. Tudo isso, embora eu não seja um analista político, para dizer que os que ‘sairmos’ vivos dessa pandemia, nós pastores não poderemos cometer o erro de dar simplesmente continuidade ao nosso ministério nas mesmas bases filosóficas ministeriais de antes. Verdadeiramente, a mensagem deverá permanecer a mesma e os motivos pelos quais aceitamos o encargo pastoral, também. Contudo, essa nova normalidade, que nós sequer conhecemos ainda de verdade, exigirá de cada pastor uma certa dose de criatividade. Mas também um novo ardor ministerial, um novo entusiasmo pastoral. A nova normalidade, seguramente, trará consigo os efeitos deletérios de toda sorte, sobre a vida da comunidade de fé. Haverá, sem sombra de dúvidas, uma parcela sensível dos nossos irmãos que se acostumarão às “vantagens” das transmissões online, dos estudos gravados e da cura pastoral ‘personalizada’ da qual foram objeto nesses dias de quarentena, distanciamento e ou isolamento social. Esses irmãos terão reais dificuldades, inclusive, para se expor, com temores justificados para não comparecer ao ajuntamento solene e será nosso dever cuidar desses. Com amor, paciência, sem julgamentos moralistas, alimentá-los com a palavra, os sacramentos e as demonstrações reais de nosso apreço por eles em Cristo. Muitos irmãos apresentarão, com o passar do tempo, os traumas adquiridos e as neuroses desenvolvidas desses dias de pânico e temor exponenciados pela enxurrada de más notícias em nossos telejornais e outros meios de comunicação. A sensação de alienação, uma carência aguçada e dolorida exigirá de nós um tempo de qualidade e quantidade para acolher os nossos irmãos em escutas atentas e caridosas de seus dramas e dilemas mais profundos. Como pastores, em geral, somos bons em oratória. Está chegando, porém, o tempo de nos tornarmos igualmente bons em ‘escutatória’. Outro drama com o qual deveremos estar preparados para lidar será o de um período, se não tão longo, mas com certeza profundo, de diminuição de renda, perda da qualidade de vida e até pobreza de muitos dos nossos irmãos. Dias de desemprego, dias quem sabe que exigirão novas competências profissionais ou de certas adaptações que podem muito bem ‘violentar’ em um primeiro momento personalidades e consciências. Em tempos assim, um dos primeiros efeitos colaterais sentidos, são aqueles da harmonia e tranquilidade do lar. Os pastores devem vigiar que a brecha aberta pelas dificuldades financeiras, não exponha os fundamentos do lar à deterioração. Aqui, visitas, conversas, momentos de oração, o fomento da vida espiritual no lar e a criação de uma rede de solidariedade na comunidade, serão decisivas para a manutenção da estabilidade emocional e espiritual em muitas famílias. As pessoas, quando a curva chegar ao fim do seu descenso, estarão cansadas, esgotadas e com toda a certeza não buscarão na igreja orientação política, análises da conjuntura nacional, apologias ideológicas. Tudo o que elas não precisarão encontrar são ministros extremados, ácidos em suas defesas ou críticas apaixonadas ao governo, ao seu líder político de estimação ou de sua detração preferida. Nossas ovelhas precisarão encontrar pastores amorosos, acolhedores, simples, fervorosos, interessados em seu bem-estar geral, ministros zelosos por falarem de Cristo, do seu amor, do seu poder, da graça, da sua misericórdia.  Haverá tempos e dias em que poderemos, à luz de nossas convicções cristãs, discutir a vida em sua totalidade, inclusive a realidade política. Importa, no início da nova normalidade, imitarmos a Jesus, o bom pastor, zelar para que as nossas ovelhas tenham vida e a tenham em abundância.

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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