Certa vez, quando tinha dez anos, deparei-me com o mundo real. Os brinquedos estavam jogados e não recebiam mais nenhuma atenção. Era um mundo no qual eu jamais esperava viver. Onde, ao invés da paz, a violência se tornara algo visto, vivido e sentido.
Indignação era o que eu sentia. Aliás, era a única coisa que conseguia sentir. Eu já não sabia mais o que era ter um coração leve, puro e cheio de boas intenções. Mas mesmo com o mundo todo seguindo a mesma direção, algo me dizia para remar contra essa interminável tempestade. A maré era alta, as ondas eram fortes, o vento, que se fez meu amigo, era o único que me empurrava à frente.
Apesar de tantas contradições, cresci com a intenção de um dia poder rir de todo o meu passado. Meu tão vivido passado.
Me deparo com caminhos cruéis desde muito cedo. Aprendi a fazer escolhas, a dizer até breve, até logo, até amanhã e o mais doloroso, o adeus.
Aprendi a sentir a paz, a fé, o ódio, a raiva e o que mais consegue me sustentar, o amor.
Duvidava quando me diziam que tudo acontece por alguma razão. E cá estou eu, pelas simples razões passadas que se tornaram presentes.
Então, logo vem o futuro me mostrar que a vida é um ciclo sem fim, no qual tudo pode acontecer de novo e de novo, e mesmo assim, não terei tanta experiência para conseguir de cara suportar.
Pode ser também que nada aconteça novamente, mas isso não quer dizer que tudo foi em vão e que nada ficou.
As marcas, por mais antigas que sejam, são sempre marcas, e aquilo que marca o coração, marca para sempre a memória.
Aline Rocha
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