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Itapira, 28 de Mar�o de 2024
Notícia
14/06/2016 | Luiz Santos: (Des)humanidade

 E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos. Portanto, enquanto temos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé” (Gálatas 6.9,10).

Em sua opinião, o que é pior: Intolerância ou indiferença? Eu responderia que as duas coisas são nefastas e são irmãs gêmeas que nem precisam de reconciliação. A intolerância é o desprezo pelo diferente que leva ao ódio. O ódio é absolutamente indiferente à dignidade do outro e por isso é capaz de perpetrar as formas de violências mais atrozes possíveis. A indiferença por sua vez é uma atitude de intolerância em forma de marginalização, alienação e abandono do outro à sua própria sorte. E o mais absurdo disso tudo é que quando coisas ruins acontecem com quem não nos importamos julgamos ser merecido, exatamente porque não toleramos que o outro coexista no mesmo mundo que nós. Assim, é repulsivo o que acontece com a comunidade LGBT em redor do mundo e não importa se essa intolerância parta do Estado Islâmico ou do fundamentalismo evangélico. Também é repulsivo, e quase ignorado pela grande mídia, o que acontece com cristãos em contextos islâmicos onde são martirizados ou em contextos secularizados onde são ridicularizados. Mas, e o que dizer de uma sociedade abastada,  consumista, que gosta de ostentar e que ainda convive quase insensível com pessoas morando nas ruas e morrendo de frio? Há quem julgue que estão nessa situação porque querem, porque são vagabundos, ou porque são malandros mesmo e etc. De fato, pessoas descomprometidas com a vida a gente encontra em todo lugar e em todo contexto. Todavia, nada invalida o fato de que o morador de rua (bem como os outros marginalizados, perseguidos e vulneráveis de toda sorte), é uma pessoa humana e que por si só exige tratamento digno e respeitoso. As circunstâncias pelas quais ela chegou a essa condição de vida não devem ser ignoradas, evidentemente, mas a sua humanidade precede a sua realização histórica e em nosso caso de cristãos, a nossa antropologia nos faz enxergar a imagem como a semelhança de Deus “impressa em cada rosto”. É essa imagem conforme a semelhança com o Criador, que a Teologia denomina de ‘Imago Dei’, que deve impedir o cristão e a igreja de ter atitudes tanto de intolerância quanto de indiferença. Quando o cristão e a igreja se fecham ou voltam as costas ou perpetram qualquer sofrimento ao seu semelhante, podem incorrer no pecado e na desfaçatez de Caim, não por nada, é o primeiro homicida da história. Ao ser inquirido por Deus sobre o paradeiro de seu irmão Abel, Caim respondeu: “por ventura, seria eu, guarda (responsável) do meu irmão? (Gn 4.9). Há uma sentença inferida dos ensinamentos do Corão que deveria fazer corar de vergonha os membros do Islã que esposam o terror como pretensão religiosa: “o que se faz a um homem se faz a toda a humanidade”. Mutatis mutandis, o bem que deixamos de fazer a um de nossos semelhantes ou o mal que lhe dirigimos, não o fazemos somente a um ser isolado, mas atingimos no âmago da nossa natureza humana. O maior perigo para a humanidade é a sua desumanização. Uma sociedade utilitarista, coisificada e que se mede apenas pelo mercado, pelos bens, pela aparência e pela ostentação, corre o sério risco de perder a sua essência. O pecado fez isso conosco, na Queda de Adão deixamos de alguma maneira de ser plenamente humanos. A restauração trazida por Cristo e sua obra serviu também à nossa humanização. Ele mesmo, nos dias de seu ministério terreno, viveu a nossa humanidade de maneira plena, verdadeira e profunda. Por onde passou fez o bem, deixou-nos o exemplo a seguir, como fala Pedro (1Pe 2.21), deixou-se tocar e sensibilizar pelos sofrimentos dos homens e mulheres de seu tempo, foi ao encontro dos pobres, estendeu a mão aos pecadores, matou a fome da multidão e trouxe luz e esperança a todos quantos o ouviram e nele creram. Claro, que para nós cristãos, Jesus é muito mais do que um exemplo. Ele é nosso Deus, Senhor, Salvador, a segunda Pessoa excelsa e bendita da Trindade. Mas, no mistério de sua encarnação, assumiu a nossa natureza humana e as nossas contingências, e isento do pecado, aí sim, demonstrou-nos como viver plenamente a nossa humanidade, amando, denunciando o mal e a injustiça, proclamando a Justiça do Reino, glorificando a Deus e trazendo vida, libertação e dignidade a todos por onde passou. Nesses dias de intolerância e indiferença que matam aos milhares, olhemos para aquele que de tão ‘humano era divino’ e aprendamos da sua humanidade para que Deus visite a nossa terra e haja paz e vida abundante entre nós.

Rev. Luiz Fernando é ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira, Professor de Teologia Pastoral e Bioética no Seminário Presbiteriano do Sul e de Filosofia na Faculdade Internacional de Teologia Reformada – Fitref e de Missões Mundiais no Perspectivas Brasil.

Fonte: Luiz Santos

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