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Itapira, 11 de Dezembro de 2024
Notícia
03/08/2022 | Luiz Santos: Barreiras para a Missão

Como acontece todos os anos, por ocasião das comemorações da chegada do missionário americano no Brasil, Ashbel Green Simonton, através de quem deu-se início à plantação da Igreja presbiteriana em nosso país, celebramos também um tempo especial das missões. Como Igreja fruto dos labores e sacrifícios missionários, a IPB não pode mesmo não incluir o tema das missões em seu cotidiano e calendário. Precisamos aprender e aprimorar sempre na formação e posse de uma consciência missionária e no seu devido engajamento. Agosto não é o único mês dedicado à essa formação da consciência, mas, nós aproveitamos o ensejo para dar sempre renovado impulso à mobilização, ao chamado efetivo de novos missionários e um maior esforço para aumentar os fundos indispensáveis para suprir as necessidades e a execução dos projetos. Damos a cada ano graças a Deus porque o impulso missionário se mantém estável e mesmo em alguns momentos, apresenta significativo viés de crescimento, não obstante as dificuldades impostas pela pandemia e todos os seus efeitos colaterais na economia e no fechamento de fronteiras, inclusive. Gostaria, nessa pastoral, refletir quanto às dificuldades impostas pela própria igreja evangélica que têm impedido que essa consciência e o engajamento efetivo em missões sejam mais amplamente realizados. Em primeiro lugar está o evangelho da prosperidade, do bem-estar. A liderança que decide orientar o seu rebanho por esse ‘evangelho espúrio’ treina uma comunidade a entender que a sua missão é a realização de uma vida e carreira bem-sucedidas. Vê a missão como uma oportunidade para a escalada social, para a autorrealização. O horizonte é enxergado como metas pessoais a serem batidas. Há muito do ‘espírito coaching’ nessa visão religiosa. “Crentes” dessas comunidades vivem vidas autocentradas, o que os impede radicalmente de obedecer ao ‘ide’. Em segundo temos a barreira do evangelho social, centrado e todo ocupado com o bem-estar comunitário, que entende e esgota a missão da igreja em alguma coisa parecida como uma ONG, apesar da causa nobre, geralmente descumpre a ordenança da proclamação, central e mesmo estrutural para a obediência da Grande Comissão. A luta pela justiça social, o engajamento político são boas causas, mas não podem ser assumidas pela comunidade cristã na perspectiva do mundo, que espera a plena realização e felicidade do mundo numa utópica realidade de bem-estar comum, sem misérias aqui e agora. A profética busca por justiça social é legitimamente bíblica, mas na perspectiva do Reino de Deus, ela deve começar com o vigoroso anúncio de arrependimento, conversão e proclamação de Jesus Cristo e não na simples reivindicação de justiça em chaves interpretativas e bases filosóficas alienígenas ao Reino. O nosso pressuposto é o Reinado de Deus chegante na pessoa de Jesus e no seu Evangelho Eterno. É a partir daqui que a nossa luta faz sentido e dá sentido a todo o resto. Depois, em terceiro, temos o evangelho terapêutico. O evangelho da cura emocional e do sentir-se bem. O critério aqui nunca é objetivo, não importa a verdade e a suas exigências. O que está em jogo é se no fim das contas, vou me sentir bem. Nesse evangelho não há espaço para o sentimento de culpa, a consciência do pecado e nem a necessidade de se anunciar a mensagem da cruz. Autoaceitação, conformação e manutenção de uma zona de conforto afetiva e emocional é tudo o que é oferecido. Não há espaço para uma custosa obediência, somente para uma gostosa conveniência. “crentes” nesse evangelho, igualmente espúrio, não entendem a necessidade de dar-se, só de receber. Essa é a sua missão. Em quarto, há o evangelho político. Esse evangelho confunde e mistura plataformas políticas com a agenda do Reino. Confunde políticos com ‘messias’ e ignora o fato de que nossa pátria não é aqui. Ainda que tenhamos responsabilidade com o bem comum e o desenvolvimento, sendo que a prosperidade e paz de nossas cidades, também são as nossas. Entretanto, usamos desse mundo e dos seus recursos, como se não o fizéssemos. A igreja não pode conformar-se a nenhum partido político. Sua essência católica a impede de se fragmentar em ideologias mitigadas (partidas, partidárias) e com visões de mundo míopes e distorcidas. A igreja, não pode deixar de ser o rebanho do Senhor para ser o curral de políticos, sejam eles evangélicos, inclusive. Não há nada mais detestável do que o voto de ‘cajado’, em tudo pior que o voto de ‘cabresto’. “Crentes” desse evangelho desconhecem o poder espiritual do Evangelho e só desejam o poder da ‘caneta’. Esquecem o aspecto permanente e eterno da missão e limitam a sua atuação a cada ciclo eleitoral. Em quinto lugar o presunçoso e pedante evangelho acadêmico. Buscam o bem-estar intelectual, ilustram a igreja com a filosofia e os altos estudos teológicos, coisas excelentes, diga-se de passagem, mas que reduzem a igreja a uma imobilizada sala de aula, hipnotizada com arrazoados e conceitos que nem sempre a empurram para os confins da terra, no máximo, para a livraria ou biblioteca mais próxima. E por último e não menos desafiador, o evangelho místico, que estimula uma espiritualidade fantástica, ensimesmada, intimista e claro, irresponsável no que diz respeito a ganhar ao mundo para Jesus. Sem falar, no desvio de culpar a ação de espíritos e isentar o crente de assumir a sua responsabilidade em todas a as áreas da vida. Antes das missões, precisamos todos voltar ao Evangelho de Jesus Cristo, em sua inteireza, pureza e integridade.

Reverendo Luiz Fernando Dos Santos é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana do Brasil

Fonte: Luiz Santos

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