“Creda a me, il tempo vola. (Acredita em mim, o tempo voa)
La brutta notizia è che il tempo vola. (A má notícia é que o tempo voa)
Il tempo vola quando ci si diverte, vero? (O tempo passa depressa quando nós estamos a divertir, não é?)
Sentiamo spesso la gente dire che il tempo vola. (Frequentemente ouve-se dizer que o tempo voa).
Già, il tempo vola quando combatti per restare vivo. (Sim, o tempo voa quando estás a correr para salvar a tua vida)
Con tre bambini, il tempo vola. (Com três filhos, o tempo voa)
Infatti il tempo vola come la freccia e non tornerà mai. (Na verdade, o tempo voa como a flecha e nunca mais volta).
Il brutto è che il tempo vola. (As más notícias são que o tempo voa.)”
Ouvindo essa música popular italiana, traduzindo macarronicamente, me dei conta de que o tempo voou já nesse início de ano. Estamos para entrar no terceiro ano da pandemia de Covid-19 e não obstante as muitas restrições que pareciam desacelerar a nossa vida, na verdade, a impressão geral é que o tempo está passando rápido, muito rápido. Essa velocidade cronológica, porém, e sobretudo psicológica, pode dar a sensação de que estamos desperdiçando a nossa vida. Porque, afinal de contas, um dia a mais vivido é um dia a menos para ser vivido. Estamos mais distantes do passado hoje do que do futuro, o que equivale dizer que estamos todos a cada dia mais perto do fim do que do começo da nossa existência terrena. E, durante esses dias de restrições, isolamentos e de uma realidade que nunca parece em dar-se por completo, podemos ter uma destrutiva sensação de diminuição de expectativa de vida, o que tende a nos levar à depressão, à dispersão, ao pessimismo, ao cinismo e até a completa absurdidade. Um dos documentos mais interessantes da era patrística, é uma obra legislativa para a vida monástica conhecida como Regra de São Bento. Esse milenar documento da tradição cristã, ainda em voga nas comunidades beneditinas e cistercienses, é uma pérola da antiga sabedoria dos pais. Em um dos seus capítulos preceitua-se o seguinte: “Na hora do Ofício Divino, logo que for ouvido o sinal, deixando tudo que estiver nas mãos, corra-se com toda a pressa, mas com gravidade, para que a escurrilidade não encontre incentivo. Portanto, nada se anteponha ao Ofício Divino” (RB 43,1-3). Esse capítulo da regra beneditina coloca no centro da existência do monge, o que na verdade deve ser o centro em torno qual gravitam todas as demais coisas na vida de qualquer cristão, o culto divino. O fundamento da nossa existência está em nossa relação com Deus, sobretudo na adoração. O que deve pautar o ritmo e o fluxo e o refluxo da maré dos nossos dias é essa nossa ‘entrada’ e ‘estada’ consciente na presença de Deus para adorá-lo. Sem uma vida consciente ‘in coram Deo’, isto é, na presença d’Ele, tudo o mais é de fato, fugidio, efêmero, escapista. Devemos mesmo não dar incentivo à escurrilidade, ou seja, dar ocasião para uma agenda frenética, cheia de compromissos importantes e sempre urgentes, lotada de ativismo profissional, religioso e mesmo de lazer e entretenimento. Não precisamos de fato viver de tal maneira como se não tivéssemos tempo a perder. Não para nós cristãos. Temos aqui em casa um ‘jogo americano’ no qual a mensagem é “a vida é muito curta para enxugar louça”. Claro, que em dado momento eu tendo um pouco a concordar. Entretanto, o segredo da completude dessa vida não é viver um número grande de experiências e variadas, com muitas e diversificadas emoções a cada oportunidade. Não se trata de aproveitar todas as oportunidades da vida e fazer experimentações. Não. O segredo de não perder tempo é investi-lo na adoração, na meditação das coisas celestes, na busca da comunhão com o Cristo no alto. O fundamento da realidade, da única realidade imposta, é o coração centrado, ocupado e tomado pela presença de Deus e a partir daí, viver cada dia, realizar cada compromisso, estar em cada atividade por inteiro, como se fosse a primeira, a única e a última coisa que temos que fazer aqui. Só assim, estaremos por inteiro em cada ocasião. E não tem tempo a ser perdido quem tem a eternidade inteira pela frente para ser feliz. Então, a única pressa real é aquela da adoração.
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