Nesta terça-feira, 10 de julho, fui à sessão na Câmara Municipal, quando foi votado o adiamento da decisão a respeito do Projeto Popular que pede a revogação do aumento dos subsídios aos vereadores. Gostaria de manifestar publicamente uma posição sobre o assunto que, a meu ver, é de ordem coletiva. Em meu ponto de vista, os servidores públicos que votaram pelo adiamento, sem maiores justificativas, apenas dizendo que “a questão é de grande complexidade”, tiveram uma postura um tanto protocolar e indiferente em relação aos cidadãos ali presentes, ao utilizar do mecanismo legal do adiamento sem prestar esclarecimentos minimamente razoáveis àquelas pessoas que estavam ali com esta expectativa.
E me parece que tais servidores talvez estejam desatentos para o que significa essa mobilização. Nesse sentido destaco alguns pontos:
1) Os argumentos de alguns servidores de que a manifestação é apenas “de jovens que não sabem o que querem”, ou de que a “manifestação tem estratégia eleitoreira sem outros conteúdos políticos”, ou então de que “a agressividade impede o diálogo”, são argumentos um tanto reducionistas e de pouca realidade( é relativamente verdade, apenas, que alguns jovens se excederam um pouco na terça-feira). Parece-me sim que tais argumentos são o modo como alguns servidores encontram para evitar o diálogo com essa coletividade, evitar uma argumentação aberta e propositiva com os concidadãos e assim se manterem na posição favorável de autoridades. E, a meu ver, gostaria de dizer respeitosamente que o modo como a sessão caminhou na terça-feira, simplesmente adiando a votação sem justificativas substanciais, é um sinal mais evidente do que estou dizendo aqui: alguns servidores não estão se posicionando de um modo político, pois a Política ocorre de fato apenas quando questões coletivas são deliberadas aberta e coletivamente, sem terem de se apoiar em demasiados aparatos jurídicos. Esses servidores -- mas também a Câmara enquanto instância de poder --estão desatentos e não sabendo lidar com essa manifestação, que pretende dar primeiros passos para que a Política venha a ser aquilo que deveria ser: um espaço de debates e discussões em conjunto a respeito da coisa pública.
2) Percebo que muitos ainda não se deram conta da real dimensão da questão. Muitos ainda custam a entender ou a aceitar que essa organização de pelo menos 2950 pessoas ( o número de assinaturas do Projeto Popular) não quer apenas questionar os custos financeiros de tal aumento, mas sim quer participar ativamente de questões de ordem pública, coletivas, que estão além dos salários. Esse grupo grande e heterogêneo de jovens e adultos tem uma série de demandas que, do ponto de vista deles, tem de ser debatidas e resolvidas antes do aumento dos subsídios dos vereadores. A manifestação popular é um modo legítimo como essa população pretende questionar o Poder Público. Mas do outro lado da bancada, o silêncio que se segue da postura de vereadores impede o diálogo, deslegitima a causa dos manifestantes e, de certo modo, ignora a iniciativa dos concidadãos.
3) Vale destacar: levando em conta o fato de estarmos em ano eleitoral, seria até mais inteligente que servidores se abrissem ao diálogo, debatendo também com os participantes questões públicas que tem igual ou maior importância para a cidade. Mas, de modo geral, os servidores insistem em se manter numa posição relativamente cômoda, que é agir apenas de acordo com trâmites legais previstos, mantendo a discussão no seu ponto já desgastado, esperando talvez que os cidadãos voltem a suas vidas cotidianas e questões particulares.
Pra finalizar, gostaria de dizer respeitosamente que estou aberto ao diálogo com aqueles que quiserem se pronunciar, no email:
[email protected]
Paolo Colosso é arquiteto, bacharel em Filosofia pela Unicamp,
atualmente faz mestrado em Filosofia na USP.