Tom Custódio da Luz, 22, escritor, compositor, cantor e músico, reside em São Paulo(SP). Seus artigos podem e estão sendo publicados pelo País, inclusive no exterior. Mais de 42.000 curtidas em seu FB e mais de 11.000 exibições de sua Música (E Agora,Tião?) no YouTube.
Existe um lugar onde tudo jaz submerso num profundo oceano de ar, e a luz tremula e atravessa as correntezas de vento e vai dar com plantas misteriosas, animais rasteiros, caminhos sombrosos e frutas sumarentas. As nuvens boiam nas alturas, o sol atravessa quilômetros de fluído e esquenta o chão; borboletas e pássaros nadam graciosamente. E quando existem casas, e mesmo na distância, nos bosques, nos lugares escondidos, a sombra que se forma é um tecido fino e soproso - não, nem isso, o lamento de um suspiro - jogado sobre as superfícies. Qualquer acontecimento é o acontecimento extremo, tudo ali é fatal, tudo transpira incontível drama.
Choram pelo brilho dos olhos as pessoas, desmentindo os sorrisos; parece que se afogam abrasadas pela culpa, perdidas em um torpor, uma fragrância tempestuosa no ar, que não se vê, mas que se pressente. As peles são belas, só podem ser gregas - não há como aquelas; e ao mesmo tempo são quase risíveis, as pobres fantasmas, bobas, invisíveis.
Parece que é um espelho ou a superfície de uma lagoa que mostra esse lugar naufragado, como numa visão. Está congelado, cristalino, mas acontece em espasmos de paixão, de desespero, de lascívia, de surpresa, o que for: acontece. É a ambiência, a textura, o tecido da lembrança, do sonho, do delírio; é um lugar que é como fechar um pouco os olhos com o corpo abraçado pelo calor.
Nada oferece resistência, na sua mortal beleza, a olhares gulosos e contemplações fagueiras, senão convida a olhar. Há de imediato saudade, porque olhar a beleza é vê-la um pouco de longe - mas ela espera feliz o sobrevindouro encontro. Tudo está ali, a ardência do desejo e a sua satisfação extática; e muito além disso (nas alturas e na profundeza e na superfície e no fundo) está um fio de luz, como a corda tensa de um instrumento, vibrando e soando luminosamente no âmago de tudo: é a consciência.
A beleza e seus intrincados e mutáveis ornatos eram somente um convite. Baixinho no ouvido, como um gemido ou um segredo, a beleza convida
- Ei...
e aponta para além de si mesma.