Um acontecimento inusitado ocorrido em Abril de 1959 colocou a Rua João de Moraes em manchete Nacional! Não foi exatamente a rua, porém uma de suas casas. De repente, correu rapidamente na cidade a notícia de que na casa de n°291, onde morava um fazendeiro chamado Cid de Ulhoa Canto, estava acontecendo o fenômeno conhecido por “Poltergeist” - NOTA: Poltergeist (do alemão polter, que significa ruído, e geist, que significa espírito) é um tipo de evento sobrenatural que se manifesta deslocando objetos e fazendo ruídos. Acredita-se que o foco dessa perturbação é muitas vezes uma criança na fase da puberdade, em geral do sexo feminino. O evento caracteriza-se por estar relacionado a um indivíduo e por ter curta duração. Difere da chamada assombração, que pode-se estender por anos, sempre associada a uma área, geralmente uma casa.
No fenômeno poltergeist um espírito perturbado usa o indíviduo para se manifestar, às vezes de forma agressiva, fazendo objetos como pedras, por exemplo, voarem pelos ares atingindo objetos e outras pessoas. Para a manifestação desse espírito, segundo a literatura espírita, é necessária a presença de um médium de efeitos físicos, ainda que seja completamente alheio à sua faculdade, para que os fenômenos ocorram.
Há casos famosos na parapsicológica, como o da família Lutz que, em 1976, foi atormentada por entidades inferiores durante os 27 dias que viveram em uma casa na pequena cidade de Amityville, nos Estados Unidos da América, que passaria às telas de cinema com o nome de "Horror em Amityville". Um dos integrantes da família, George Lutz afirmou que durante a noite ouvia o ruído de uma banda marcial tocando na sua sala de estar, evento só constatado por ele. Há um outro filma muito famoso sobre o tema chamado: Poltergeist - O Fenômeno.
Logo a notícia chegou ao conhecimento da mídia e repórteres de vários jornais de deslocaram para Itapira a fim de registrar o fato insólito. Não só a imprensa local, mas também jornais como a antiga “Folha da Manhã” (atual Folha de São Paulo), o antigo “Diário de São Paulo”, “O Globo” (do Rio de Janeiro”, e outros deram ampla cobertura e grande destaque àquele acontecimento, levando muita gente a se postar na frente da “casa encantada”, como diziam alguns, para tentar assistir aos fenômenos que ali ocorriam.
O jornalista Hamilton Ribeiro, da “Folha da Manhã”, escreveu: “Objetos vindo não se sabe de onde 'voam numa casa de Itapira' ”. Hamilton reproduz depoimentos de diversas pessoas, entre as quais o padre Henrique de Morais Matos, que afirmou: “Um ovo saiu de dentro da geladeira fechada e caiu na sala, gelado.” O delegado dr. Aroldo Costa declarou não ter aberto “inquérito sobre o caso porque iriam chamar-me de louco”.
Prossegue o jornalista: "O professor e vereador Orlando Dini foi à casa 'para dar risada'. Mal chegara, entretanto, uma pedra caiu no corredor. Uma outra “passou voando pertinho de mim”.
“O casal Maria e Alfredo Pierossi presenciaram vários fatos. O mais curioso foi o da mandioca que varava o armário para se apresentar na cozinha.” O jornalista Benedito Martins disse que “um limão passou por mim e foi dar na parede. Jamais imaginei que me fosse dado ver coisa tão emocionante”. O promotor público, Dr. José Carlos de Camargo Ferraz, declarou ao repórter: “os fatos que presenciei devem interessar aos homens de ciência pelas conclusões que comportam. A lei da gravidade foi violada: pedras subiam em vez de descer”.
Diante dos acontecimenos que ocorriam diariamente na casa e pelo intenso assédio de curiosos, seus moradores deixaram a residência.
O jornal “Folha da Manhã”, de 29 de Maio de 1959, em nova reportagem de Hamilton Ribeiro, escrevia: "Desabitada, perdeu o 'encanto' a 'casa encantada de Itapira' ”. A cozinheira da família, “dona Francisca Rogatti, que chegou a ser apontada como a responsável pelos acontecimentos, negou terminantemente”, dizia a nota. O jornal “O Globo’, do Rio de Janeiro, em sua edição de 29 de maio de 1959, publicava reportagem do seu correspondente em São Paulo, jornalista Paulo Afonso Grisolli, com o título “Itapira está decepcionada...” uma vez que nada fora apurado de concreto em relação aos fatos ocorridos na casa “encantada”. “De qualquer forma, a população itapirense, que se vinha orgulhando das diaburas de seu fantasma, já não esconde sua decepção”, conclui o repórter.
Este célebre caso da Rua João de Moraes foi o acontecimento que marcou aquela via como um dos mais estranhos casos já ocorridos na cidade.
O jornal “Folha da Manhã”, de 23 de Maio de 1959, publicou nota:
MENOTTI DEL PICCHIA TERIA MORADO NA “CASA ENCANTADA” DE ITAPIRA
AFIRMA QUE JÁ ASSISTIU A FENÔMENOS IDÊNTICOS EM SÃO PAULO
Uma série de telefonemas foi dirigida ontem à redação das FOLHAS, por parte de leitores que queriam pormenores sobre os “objetos voadores” de Itapira. Um deles – de um juiz de direito – dava informação de que a casa onde se registraram os fenômenos narrados na reportagem é a mesma onde, anos atrás, morou o escritor Menotti Del Picchia. Este, consultado, revelou que se mudou de Itapira em 1918, e que não se recorda bem das casas em que residiu. Pela localização que lhe foi fornecida, achou que, pelo menos, prédio de sua propriedade não foi.
Mas o escritor e ex-deputado fez considerações em torno dos acontecimentos:
“ – Conhecendo as pessoas que testemunharam os fenômenos teleguinéticos passados em Itapira – destacando, entre outros, o meu tio por afinidade Sr. João Ribeiro – dificilmente poderia negar sua autenticidade. O advogado Paulo Serra, o dentista Anísio Simões, o prof. Orlando Dini, o nosso colega Benedito Martins, jornalista, todos os meus velhos amigos, merecem o maior crédito nos seus testemunhos. Pessoas cultas, respeitadas na cidade, que não se prestariam a uma farsa.”
TAMBÉM EM SÃO PAULO Quanto aos “vôos” dos objetos, o Sr. Menotti Del Picchia afirma: “Cumpre estudá-los melhor e examinar se entre os moradores da casa não existe alguém que tenha faculdades mentais surpreendentes, mas não novas.
“ – Não novas, digo eu, porque aqui em São Paulo, em casa da família Aguiar – membros de uma estirpe bandeirante das mais ilustres – assisti, por muitas vezes, a fenômeno idêntico, em plena luz, em companhia de amigos dos mais responsáveis.”
ANO XXXIV – SÃO PAULO, SÁBADO, 23 DE MAIO DE 1959 – N°10.760
Dias depois, a 31 de maio, o jornal “Shopping News”, de São Paulo, publicava uma crônica de Menotti sob o título “O Lobisomem”, onde fala, de passagem, sobre o caso dos objetos voadores de Itapira:
“Reportagem sensacional de Itapira narrou os fenômenos que os “metapsíquicos” demonimam “teleguinéticos” – pedras e outros objetos misteriosamente projetados por forças invisíveis tudo se passando em casa que alguém afirma ter sido minha. Solicitado a esclarecer o assunto, declarei ao jornal que, ausente há tantos anos daquela cidade na qual decorreu minha infância, não podia mais localizar as antigas moradias. Quanto à autenticidade do fenômeno, dada a idoneidade das tertemunhas que o haviam presenciado, só me restava crer nelas.”
Menotti Del Picchia realmente se equivocou ao fazer tal declaração pois ele e sua mulher Francisca da Cunha Salles Del Picchia foram proprietários daquela casa, que a venderam para João Passarela em 26 de Julho de 1919 por 8 contos de réis, conforme consta da escritura lavrada naquela data pelo tabelião Antônio Carlos da Cunha Canto, cujo teor é o seguinte: “ E logo pelos outorgantes vendedores Dr. Menotti Del Picchia e sua mulher me foi dito perante as testemunhas que por escritura pública de permuta lavrada nas notas do segundo Tabelião desta cidade, que fizeram com D. Amélia Rosalina da Cunha, são senhores e possuidores de uma casa, construída de tijolos, coberta de telhas, com uma porta e quatro janelas de frente, assoalhada, envidraçada, com um portão de entrada dando para a Rua João de Moraes e um terreno anexo a este prédio, cercado por um muro de tijolos nas ruas João de Moraes e Regente Feijó, confinando aos fundos separado por um muro de taipa com terreno de Bento Ignácio de Alvarenga Cunha, Silvano Joaquim de Andrade e Joana de tal, tendo de um lado para a rua Regente Feijó trinta e três metros de testada e dezoito para a rua João de Moraes; a casa confina de um lado com o dito terreno; aos fundos com o quintal de Joana de tal demolido, sendo construída a casa que agora ali se encontra, sob o número 291".
Muitos anos se passaram, desde que este perturbador acontecimento ocorreu em Itapira, os antigos moradores se foram, suas testemunhas também, hoje em dia a "casa-encantada" já não existe mais, apenas uma casa visinha ainda continua em pé, é o sobrado de esquina, que pertenceu a João Pereira da Cruz, atualmente está sendo reformado.
Então, fica aqui o lembrete: Você, cidadão Itapirense ou turista, visitante, que passar pela rua João de Moraes, mais especificamente, no trecho ao lado deste sobrado em reforma e o número 291, nunca se esqueça, de que a cerca de 50 anos atrás, houve ali um acontecimento até hoje, inexplicado e que continua a perturbar nossa curiosidade...
BIBLIOGRAFIA
Jornal Diário de São Paulo, edição de 21.08.1960
Jornal O Globo
Jornal Shopping News
Jornal Folha da Manhã, Ano XXXIV, São Paulo, Sábado, 23 de Maio de 1959 - N°10.760
Jornal Folha da Manhã, Ano XXXIV, São Paulo, Sexta-Feira, 29 de Maio de 1959 - N°10.765
Mandato, Jácomo - História Ilustrada de Itapira, 2007, Everest.
Mandato, Jácomo - História Concisa de Itapira, 1995.
Caldeira, João Netto - Álbum de Itapira
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