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Itapira, 16 de Junho de 2025
Artigo
30/11/2011 | Flavio Mazetto: Aprofundando a questão educacional.

Já se tornou “chover no molhado” falar sobre problemas na educação, ocasionando inclusive uma visão generalizada de que o caos da educação é uma característica da geração atual que não tem mais “gosto” e “jeito” para as coisas do estudo, visto sua vocação para os jogos, aparelhos eletrônicos, para a farra e coisas afins que não exigem tanto esforço. Tal acepção do problema é mera conveniência, pois criminaliza a própria vítima, escamoteando as causas e desfocando o olhar das estruturas sociais que produzem o descompasso atual nas escolas e a perda de horizonte do processo educacional, transformado em aprendizagem-treinamento, convertido em preparação para o mercado de trabalho e para uma indefinida perspectiva de cidadania.


Não queremos dizer que não existem escolas que se esforçam para conseguir um mínimo possível. É claro que muitos alunos se aprese ntam como bons estudantes e são estimulados por professores heróis na labuta pelo conhecimento. Todavia, focar a melhoria da educação no que cada um, individualmente (desculpem a redundância, que é proposital), pode realizar a partir de sua vontade pessoal, de sua coragem em assumir o trabalho educativo como uma vocação, é bloquear as possibilidades de uma mudança efetiva na própria lógica e perspectiva das determinações que guiam o ensino. A pergunta fundamental que nos deve desafiar é para que educamos, ou seja, qual a finalidade da educação? Educamos para que? Em relação a qual tipo de sociedade? Queremos formar alunos para exercer que tipo de papel social?


Desta forma, o grande problema da educação não é exatamente sua qualidade, mas o objetivo que temos quando nos propomos ensinar. A partir destas questões podemos entender com mais rigor algumas coisas que aparentemente surgem de forma absurda enquanto propostas educacionais. Se analisarmos com mais acuidade o f oco educacional podemos superar soluções rasteiras e ideológicas que se estruturam na base do castigo, da punição ou mesmo da represália, tanto para professores como para alunos. É óbvio que um diretor criativo, professores empenhados, alunos motivados podem fazer um ambiente de sala escolar mais propício para o processo educacional, diante do quadro caótico das normas atuais para as escolas. Todavia, tudo isto pode acontecer e ainda desenvolvermos uma educação conservadora e reprodutora das contradições sociais. No fundo, o diretor burocrático, o professor esculhambado e o aluno bagunceiro e desleixado é um efeito da própria lógica educacional, do horizonte em que a educação foi aprisionada na época neoliberal do capitalismo. Quando digo efeito, quero dizer que acabamos operacionalizando estes procedimentos como reação a coisas que não tem sentido, que não nos realizam, mas que acabamos fazendo em vista de ocuparmos certos lugares na estrutura mais geral da educação.


Enfim, depois desta alongada introdução, devemos nos debruçar sobre a determinação que sofre a educação em uma sociedade de classes, especificamente no capitalismo. Ela cumpre uma função social de primeira grandeza na sociedade capitalista: reproduzir o mito da igualação de oportunidades e com isso naturalizar o fracasso, acostumando os membros das classes exploradas com tal sina. Neste sentido, podemos entender o empenho dos governos em universalizar a educação. Quanto mais o acesso universal for uma realidade, mais forte a tendência de atribuir ao próprio fulano o peso do seu fracasso, ou seja, não alcançou uma posição social mais aquilatada por seus próprios esforços negativos. Com acesso universal todos poderiam ter sucesso na vida, vencendo realmente aqueles que mais se esforçaram ou que tiveram os melhores orientadores, estabelecendo, assim, a responsabilidade do professor neste processo.


O grande problema desta perspectiva é seu efeito sobre os membros das com unidades educacionais. Não se trata simplesmente de uma pedagogia melhor ou pior, a despeito de a pedagogia das competências e habilidades ser a proposta que melhor reproduz está ideia nefasta [falsa-ideológica] da igualdade de oportunidades. Tratamos um problema de perspectiva da educação com um problema de gerenciamento de informações e recursos humanos. Transformamos uma questão do horizonte da educação em defeitos de governantes e, consequentemente, não apreendemos que o caos da educação é um problema de inadequação a um sistema que reproduz a desigualdade através de mecanismos travestidos em projetos mirabolantes e que mudam a cada nova estação do ano.

Fonte: Nino Administrador Portal

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