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Itapira, 15 de Junho de 2025
Artigo
03/12/2011 | OS PROBLEMAS DA ESCOLA E DA EDUCAÇÃO II.

                Continuemos então nossa reflexão sobre os percalços da educação. Um dos elementos importantes desta discussão, como já assinalamos, refere-se à questão da universalidade da educação. Mandatários da área da educação, economistas responsáveis por estatísticas que demonstram o fraco desempenho dos estudantes, analistas pedagógicos concluem que o problema é a própria “boa vontade” do Estado. Como assim? Vamos explicar. De acordo com essa gente, os governos na ânsia de incluírem todos na escola acabaram gerando um problema para o qual não existe solução imediata. É fundamental incluir, todavia, a massa de alunos que chega à escola não está devidamente preparada para tal aventura do saber. De outro lado, passa-se a enfrentar uma heterogeneidade nas salas de aula, exigindo novas metodologias que carecem de tempo para serem efetivamente disponibilizadas e eficientes.

            Mas será que realmente o Estado realizou uma medida de “boa vontade” ao trabalhar pela universalidade da educação? Conseguindo tal proeza, seria realmente tão difícil desenvolver agora a qualidade da educação. Seria este um limite intransponível, muito mais dependente da qualidade dos professores e esforço do aluno? Pode existir universalidade de algo sem dar condições efetivas para que se realize aquilo que é proposto, ou seja, uma educação efetiva. Neste sentido, vemos que o objetivo fundante não era a universalidade, mas a ideia de que todos, indo à escola, teriam oportunidades de se dar bem na vida, bastando para tanto, seu esforço, competência e dedicação. Os meios estavam sendo oferecidos para todos, cabe a cada um chegar onde quiser.

            Esta lógica, própria à ideologia do capitalismo, viu-se ainda mais reforçada com a vertente neoliberal. O neoliberalismo produziu uma engenhosa reestruturação produtiva que superou em vários aspectos a lógica do fordismo, hegemonizando uma forma de produzir onde a flexibilidade, a disposição para fazer coisas diversas, a aquisição de habilidades para colaborar com a engenharia da empresa se torna imprescindível, enfim, trata-se de produzir um sujeito que resolva problemas (tarefas) com a aquisição de habilidades básicas fornecendo-lhe competências mínimas para transitar entre diversos empregos.

Nesta fase do capitalismo, o lance é a flexibilização para novas empreitadas, onde subjaz uma formação da mão de obra que não tenha como foco o compêndio de saberes que a humanidade produziu. Basta-lhe habilidades e competências para realizar tarefas, como se fosse um autômato executando rotinas e procedimentos. Não está em vista a produção de um aluno pensante, crítico, que discuta a realidade que o circunda, que traga o seu cotidiano para o espaço da educação escolar e que se possa problematizar este cotidiano muitas vezes apenas um reflexo da própria sociedade consumista e individualista. O objetivo é prepará-lo para a reestruturação produtiva do neoliberalismo. Isto está registrado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação e também na proposta educacional da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. É por isto mesmo, que vemos tantas mudanças na legislação que normatiza o processo educacional. A própria lei expressa a ideia de adaptabilidade. Ou seja, não se trata simplesmente de um governante que agora muda as coisas para deixar a sua marca; trata-se de mudar tudo para que tudo continue a mesma coisa, pois a mudança é apenas nos procedimentos e não na lógica da estrutura.

Assim, não estamos diante de normas escritas ao compasso do momento, apenas para satisfazer o ego de um político; trata-se de um projeto devidamente articulado, pretendendo treinar o jovem para as exigências do processo societal do capitalismo neoliberal. Transformar a educação em treinabilidade é assassinar seu processo. É claro que a intenção não se concretiza sem conflitos, pois é confrontada com as resistências, revoltas e protestos de alunos, como também com a reação dos professores. Estes, é lógico, se aprofundassem tal lógica, o que infelizmente nem o sindicato realiza, poderiam articular uma resistência em forma de protesto mais contundente e impedir ou minimizar as atrocidades que o neoliberalismo produz na educação.

 

Flavio Eduardo Mazetto (cientista político e professor) [email protected]

Fonte: Flávio Eduardo Mazetto

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