SILVIO NAVARRO
DE SÃO PAULO
O presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Barros Munhoz (PSDB), deixou em aberto nesta quarta-feira a possibilidade de punir o deputado estadual Roque Barbiere (PTB) caso ele não explique as novas acusações que fez contra seus colegas.
"Ou ele se explica, ou é passível de punição", disse Munhoz, sugerindo que a posição de Barbiere poderia deixar de ser de denunciante para denunciado.
Em entrevista coletiva a jornalistas ontem, Barbiere comparou o Legislativo paulista a um camelódromo, referindo-se a uma suposta negociação de emendas parlamentares na Casa.
Segundo Munhoz, as declarações foram profundamente injustas e caluniosas. "Foi profundamente infeliz e, mais do que isso, foi injusta. Terá que ser reparada".
O Conselho de Ética da Assembleia agendou para amanhã, às 14 horas, um depoimento de Barbiere. O petebista, porém, deve aproveitar-se de uma brecha no regimento interno da Casa e enviar seu depoimento por escrito.
Questionado se a afirmação de Barbiere poderia culminar num processo por quebra de decoro parlamentar, o tucano deu a entender que sim. "A frase é caluniosa. Uma calúnia contra a Casa é quebra de decoro".
As declarações de Barbiere geraram uma insatisfação generalizada entre os deputados. Em nota, a bancada do PT, a maior da Casa, disse que "repudia veementemente as declarações".
Segundo a nota, as declarações de Barbiere colocam de maneira generalizada todos os deputados da Assembleia paulista sob suspeição.
O partido ainda defende a instação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar se há a venda de emendas parlamentares no Estado.
Deputado diz que Assembleia de SP é camelódromo
SILVIO NAVARRO
DE SÃO PAULO
O deputado Roque Barbiere (PTB) reafirmou nesta terça-feira (4), em entrevista, a acusação de que parlamentares da Assembleia Legislativa de São Paulo enriqueceram negociando emendas com prefeituras e fazendo lobby para empreiteiras. Ele, no entanto, disse que não daria nomes nem com "revólver na cabeça".
Sem dizer nomes, ele se referiu à Assembleia paulista como camelódromo. "Isso é igual camelô, cada um tem um jeito". "Para os mais antigos, não é surpresa. Se fingir que é surpresa, é hipocrisia", reiterou.
Ele se referiu genericamente a deputados e ex-deputados e até a "alguns que já morreram", e reafirmou que vai comparecer ao Ministério Público para prestar depoimento.
Barbiere disse que, dependendo da maneira como for tratado, entregará um caso concreto para o promotor Carlos Cardoso.
O deputado disse não temer a análise do caso pela Comissão de Ética, e destacou que pretende enviar por escrito na quinta-feira seu depoimento.
Ele negou estar sofrendo pressão dos colegas e disse que a única pessoa com quem conversou sobre o caso foi o presidente estadual do PTB, deputado Campos Machado.
GOVERNO
Barbiere defendeu o governo do tucano Geraldo Alckmin e reafirmou ter alertado a atual administração de que haveria irregularidades no direcionamento de emendas.
"O governador é uma pessoa séria. Eu apoio o governo, não quero esculhambar."
O governo, no entanto, nega que o deputado tenha apontado casos concretos de irregularidades.
Barbiere também descartou a possibilidade de uma CPI na Assembleia para investigar o caso. "Você acha que alguém acredita em CPI?", questionou.
ACUSAÇÃO
A acusação do deputado foi feita em depoimento ao jornal "Folha da Região" de Araçatuba no dia 10 de agosto.
Na ocasião, Barbiere afirmou que de "25% a 30%" dos 94 deputados estaduais ganharam dinheiro vendendo emendas.
"Tem bastante fazendo isso. Não é a maioria. Mas tem um belo de um grupo que vive, sobrevive e enriquece fazendo isso", disse o deputado.
Na entrevista, Barbiere negou ter vendido emenda e disse que não citaria nomes por não ser "dedo-duro".
"Não vou ser dedo-duro e não vou citar. Mas, existe ao meu lado, existe vizinho, vejo acontecer, falo para eles inclusive para parar. Aviso que se um dia vier a cassação do mandato deles, não vir me pedir o voto porque vou votar para cassá-los. Mas, não vou dedurar."
Alckmin diz que Barbiere tem o 'dever público' de apontar nomes
DANIELA LIMA
DE SÃO PAULO
O governador Geralado Alckmin subiu o tom da resposta às declarações do deputado estadual Roque Barbiere (PTB), que desde agosto denuncia a venda de emendas na Assembleia Legislativa de São Paulo.
Alckmin afirmou hoje que o deputado tem o "dever público" de apontar nomes. "Eu entendo que o deputado tem o dever, como homem público, de tendo conhecimento de um fato errado, denunciar. Isso é uma obrigação", disse esta manhã, após evento no Palácio dos Bandeirantes.
Ontem, em entrevista coletiva a jornalistas, Barbiere reafirmou as acusações contra os colegas, dizendo que "cada um tem um preço", mas se negou a listar parlamentares que supostamente recebem propina em troca da liberação de emendas.
O governo já investiga uma denúncia de corrupção na Assembleia feita por ex-assessores do ex-deputado José Antônio Bruno, em junho deste ano, mas Alckmin reafirmou que os casos são diferentes e que Barbiere nunca comunicou o Palácio dos Bandeirantes das supostas irregularidades que tem conhecimento.
O deputado, por sua vez, diz ter tido reuniões com a assessoria parlamentar da Casa Civil e com o secretário de Planejamento, Emanuel Fernandes, nas quais relatou o "comércio de emendas" na Casa.
"O caso [de José Antonio Bruno] foi apontado antes e já está em apuração na Corregedoria. A conclusão da investigação será encaminhada ao Ministério Público e à Assembleia", afirmou Alckmin.
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