
 
Até alguns anos a vida da autônoma Girlene da Cruz Anastácio era bastante  comum em comparação com a maioria das mulheres de sua idade. Cuidar da casa, do  marido e da filha. Mas, segundo comovente depoimento dado na tarde de  quarta-feira em sua residência no Jardim Tropical com exclusividade para o  jornal A Cidade,andava descontente com as coisas comuns, como ingestão de bebida  alcoólica, festas e todo tipo de frivolidade. “De repente me vi cercada por seis  pastores de igreja evangélica. Não teve jeito. Vi que aquilo era um chamamento e  não resisti mais”, relatou.
 
Passou a freqüentar a Igreja Assembleia de Deus - Ministério de Belém, com  direito a batismo e uma calorosa acolhida por parte dos novos ‘irmãos’. A filha,  Geysa da Cruz Anastácio, hoje com 23 anos, ficava na dela. Concluiu um curso de  Gestão em Recursos Humanos no IESI (Instituto de Ensino Superior de Itapira) e  procurava sempre fazer um curso de aperfeiçoamento ou outro. Namorava sério. A  implicância da mãe era com o fato dela sair com o namorado e amigos para  freqüentar locais onde se dava ao luxo em ingerir uma alimentação da qual, por  ser diabética, deveria passar longe.
As coisas foram acontecendo. Geysa disse que aos poucos foi sendo atraída  pelo novo estilo de vida da mãe e não demorou muito para se converter.
 
O começo, segundo seu depoimento, foi difícil, pois teve que jogar para  cima muitos dos conceitos que estavam arraigados dentro dela. O fim do namoro  foi a primeira grande provação. “Pedi a Deus que se não fosse meu destino ficar  com aquele rapaz, que eu não sofresse com a separação e fui atendida”. Geysa  disse que começava aí o hábito de ‘conversar com Deus’.
 
Ela tinha tudo pronto para ser batizada conforme o ritual das Igrejas  Evangélicas no começo de junho. Foi aí que a fé dela e da mãe foram colocadas à  prova. Na noite do dia 3 de junho a garota passou a se queixar de fortes dores  abdominais. “Eu percebi que ela estava diferente, estava ficando inchada”,  recorda Girlene. Com a ajuda do marido, o comerciante Benedito Anastácio, 57,  Girlene colocou a filha no carro e a primeira parada foi na Santa Casa.
 
Lá, segundo a mãe, as coisas não saíram conforme esperava. “Recebemos um  tratamento frio, de uma quase que indiferença do médico que nos atendeu. Ele  insinuou que devido à minha condição social não teria como arcar com os custos  do tratamento que imaginava que minha filha fosse precisar. Eu me senti  desafiada. Imediatamente me veio à cabeça rumar para o Hospital Municipal. Fui  orando muito durante o trajeto. Lá, como por milagre, as portas começaram a se  abrir. Todas as pessoas que atenderam a Geysa perceberam que o caso era de  extrema gravidade e não foi poupada energia para que ela tivesse um atendimento  a altura das necessidades daquele momento”, disse a mãe.
 
Os profissionais da área médica que atenderam a menina informaram a mãe que  o caso era da maior gravidade. Foi detectada uma séria anomalia num dos rins,  que deixou de funcionar. “Ela já tinha o problema no pâncreas que injeta em seu  organismo quantidade menor do que necessário de insulina. Com a combinação da  diabete elevada com um quadro de insuficiência renal, minha filha se viu no pior  dos mundos”, relembra. Ainda conforme relato de Girlene, a dor da filha era tão  profunda que foi necessária a aplicação de morfina.
 
A partir daí a rotina de Geysa nunca mais foi a mesma. Nem a da mãe. Entre  as ‘novidades’, três sessões semanais de hemodiálise feitas em Mogi Mirim. “Cada  dia de fazer a diálise é um tremendo sofrimento. Ela chega arrebentadinha em  casa”.
Sobre aquela história de ‘conversar com Deus’, Geysa disse que o sofrimento  físico provou nela uma proximidade ainda maior com Ele. “Naquela semana eu  desabafei com 
 
Ele, falei de meus temores, das dores que sentia e vi que tudo isso  fortalecia ainda mais a fé que trago dentro de mim. Não se trata de ignorar meu  próprio sofrimento, o sofrimento de meus pais. Mas sentir a presença de Deus do  lado da gente é algo tão maravilhoso e indescritível, porque sinto que Ele me dá  forças para suportar tudo isso”, descreveu.
Abandono
 
Girlene dá testemunho da transformação da filha. “As pessoas ficam  surpresas quando percebem que ela com problemas de saúde tão sérios se mostra  feliz, falante,não raramente cantarolando pela casa e com um brilho tão especial  nos olhos. Digo para mim mesma, isso não tem surpresa nenhuma, é Jesus na  causa”, reverencia.
 
Geysa conta ainda que aquela rodinha de amigos de tempos atrás literalmente  sumiu. Perguntada se ficou entristecida com isso, contou que releva a situação e  que não guarda mágoa nenhuma. Ao contrário, afirma que o acolhimento dado por  seus novos amigos na esfera da Igreja supriu toda e qualquer tipo de ausência.  “Foi uma troca muito positiva. 
Todos meus amigos me tratam com muito carinho, eu não tenho palavras para  descrever minha gratidão a todas estas pessoas”.
 
Girlene afirma categoricamente que valoriza cada obstáculo que tem  aprendido a desviar desde que o quadro de saúde da filha se agravou. “Eu me  fortaleço na fé que tenho no Senhor. É nas dificuldades que a gente passa a dar  mais valor nas coisas mais simples da vida que são exatamente as mais  abençoadas, como a caridade, a solidariedade, a piedade e a convicção cada dia  mais verdadeira de que somos todos nós filhos do mesmo Deus. Por isso, glorifico  a Ele a cada instante”.
 
Em sua fé tão enraizada, ela, a exemplo de outras mães que  independentemente da religião que professam se viram em situação parecida e  pedem a Deus a oportunidade de assistir o restabelecimento de delicadíssimos  quadros de saúde de seus filhos, disse que alimenta dentro de si o sonho de que  a qualquer momento, alguém vai bater em sua porta e anunciar que foram  encontrados órgãos compatíveis para serem transplantado em sua filha. “Eu vejo  esta cena diante de meus olhos todos os dias.