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Itapira, 17 de Agosto de 2025
Artigo
13/04/2011 | Jorge Amado e o Nazismo

     Quando tinha 28 anos, o baiano Jorge Amado conseguiu defender, ao mesmo tempo, dois dos maiores tiranos do século 20: Adolf Hitler e Josef Stalin. O escritor da baianidade, do cacau e da morena subindo no telhado era comunista de carteirinha desde que foi ao Rio de Janeiro estudar direito. Ele fez propaganda do nazismo em 1940,meses depois de a Alemanha e a União Soviética fecharem um pacto de não agressão. Naquela época, quem não era bobo sabia dos planos de Hitler - a Alemanha já tinha invadido a Polônia e aos poucos conquistava Bélgica, Holanda, Dinamarca, Noruega e França. Mesmo assim, ele virou redator da página de cultura do jornal Meio-Dia, então jornal de propaganda nazista no Brasil. Não que o escritor se identificasse com a doutrina Nazista de Hitler - A questão provavelmente era financeira. Jorge Amado devia escrever o que lhe pagassem, fosse comunista, nazista ou americano. Durante o emprego no jornal dos alemães, tentou convencer colegas para que trabalhassem para Hitler. No livro Os Dentes do Dragão, Oswald de Andrade conta:

"... Em 1940 Jorge convidou-me no Rio para Almoçar na Brahma com um alemão altamente situado na embaixada e na agência Transocean, para que esse alemão me oferecesse escrever um livro em defesa da Alemanha. Jorge, depois me informou que esse livro iria render-me 30 contos. Recusei, e Jorge ficou surpreendido, pois aceitara várias encomendas do mesmo Alemão...".

     O escritor baiano logo pulou fora do nazismo, mas manteve a paixão pelo sorrido de Stálin uma década mais. Em 1951, escreveu O Mundo da Paz, um livro inteirinho para adular Stálin e os países socialistas. Nessa época, quem não era bobo já tinha ouvido falar dos expurgos e das execuções em massa cometidas pelo líder soviético. Mesmo assim, Jorge Amado chamou um dos ditadores mais cruéis do século 20, cuja truculência resultou na morte e no martírio de milhões de pessosas, de "sábio dirigente dos povos do mundo na luta pela felicidade do homem sobre a Terra". Décadas depois, em suas memórias, admitiu que fez vista grossa para os problemas soviéticos quando criou O Mundo da Paz:

"... Tarefa política, de volta da União Soviética e dos países de democracia popular do Leste Europeu, escrevo livro de viagens, o elogio sem vacilações do que vi, tudo ou quase tudo parece-me positivo, stalinista incondicional silenciei o negativo como convinha. Para falar da Albânia plagiei título de Hermingway: A Albânia é uma festa...".

     Famoso até no mundo soviético, onde suas obras comunistas tiveram mais de 10 milhões de cópias, Jorge Amado renegou, em 1956, a obra que adulou Stálin. Nesse ano, já estava difícil jogar os crimes do homem para baixo do tapete. Mas até o fim da vida insistiu no nacionalismo e no regionalismo. No livro Navegação de Cabotagem, Jorge Amado mostra por que admirava o líder político baiano Antônio Carlos Magalhães:

"... No caso de Toninho, ele é a Bahia, cara e entranhas, ou seja, o sim e o não. No político e administrador duas coisas sobretudo me seduzem: a sua qualidade intrínseca de baiano. Toninho é baiano antes de tudo, e seu permanente interesse pela cultura, comprovado, verdadeiro...".


BIBLIOGRAFIA:

Andrade, Oswald de - Os Dentes do Dragão, Globo, 2009, pág.111.
Amado, Jorge - Navegação de Cabotagem, 2ªedição, Record, 1992, pág 167.
Amado, Jorge - Navegação de Cabotagem, 2ªedição, Record, 1992, pág 591.
Narloch, Leandro - Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil, Leya, 2009, pág109.

Fonte: Eric Lucian Apolinário

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