John Lennon, inspirado, quando escreveu a letra de “Imagine”, um hino à paz, disse: “Você pode dizer que sou um sonhador, mas não sou o único. Tenho a esperança de que um dia você se juntará a nós.” E completou: “Imagine todas as pessoas vivendo a vida em paz.”

 

No final do ano passado, fui procurado por um velho amigo, o Aloisio, elétrico como sempre, para me convidar a participar da formação de uma rede intersetorial constituída, basicamente, pela sociedade civil, para discutir os caminhos da violência em nossa cidade com o objetivo de encontrar soluções criativas para reduzir esse terrível mal que aflige a humanidade.

 

Claro, tratava-se de uma proposta fantástica. Daquelas que enche os nossos olhos de esperança. Confesso, no entanto, que achei que o meu amigo estava, digamos assim, viajando. A proposta só poderia caminhar, se contasse com a participação de pessoas integrantes de vários setores da sociedade e dos organismos públicos associados. Precisava tirar muita gente da poltrona ao longo do desenvolvimento do projeto. Como a ideia era chamar uma primeira reunião para discutir os próximos passos, olhei para ele – o Aloisio – e perguntei: “Quantas pessoas você acha que iria nessa reunião?” Ele respondeu: “ah! No mínimo, umas cem!” Confirmando a minha impressão inicial, pensei: “o Hospital da Unicamp deixou esse cara louco!” Mas a proposta era tão sedutora que eu resolvi entrar na “loucura” dele. E coloquei o que eu achava real: “Aloisio, se tivermos nessa reunião 20 pessoas, podemos considerá-la um estrondoso sucesso!” Ele, candidamente: “será?” Respondi: “Vamos sonhar, então!”

 

Marcamos uma reunião ampliada para o final de janeiro. Conversamos com o presidente da ACEI, José Aparecido da Silva, que cedeu o auditório. Reunimos-nos com o prefeito Paganini que gostou da ideia. Faltava a reunião que estava marcada para acontecer no dia 29, às 20h30min.

 

A quarta-feira, na faixa de horário prevista, conspirava contra a reunião, na TV, um dos capítulos finais da novela das 9h e o clássico “Santos e Corinthians”. Sabe como é, para muita gente, esses compromissos são inadiáveis. A minha expectativa de sucesso que era de 20 pessoas, foi imediatamente corrigida para 10. Pois é, errei feio. Compareceram cerca de 30 pessoas que discutiram o assunto com a maior seriedade e entraram num sensacional consenso: “o de que esse grupo não deve trabalhar para combater a violência, mas sim desenvolver a cultura de paz.” Bingo! Provou, de cara, que se a ideia era reunir pessoas para discutir ações criativas para prevenir a violência, reunidos, podemos muito mais do que isso, podemos imaginar quase todas as pessoas vivendo em paz.

 

Trata-se, no mínimo, de um momento auspicioso para a nossa cidade. Até então, a questão da violência vem sendo mais valorizada do que a paz, deixando toda responsabilidade para o poder público, para os agentes de segurança, como se a sociedade não tivesse qualquer responsabilidade por essa terrível chaga. Optamos, por elevar os muros das nossas casas, contratar sistemas de segurança, instalar câmeras de filmagem por todos os cantos, cercar as igrejas e as áreas públicas... Atitudes perfeitamente justificáveis, porém, reveladoras dos nossos sentimentos individualistas. Precisávamos reagir como sociedade. Precisávamos dizer em alto em bom som que queremos a paz. Precisávamos denunciar mais, testemunhar mais... Mais atentos em nossas ruas, mais solidários... Mais cautelosos e gentis no trânsito. Uns protegendo os outros. Um dia, sairíamos vitoriosos.

 

Não sei até onde esse grupo vai chegar, nem se atingirá os objetivos propostos. Mas começamos a ter esperança de que um dia você se juntará a nós, em nome da paz.