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Itapira, 29 de Mar�o de 2024
Artigo
14/09/2015 | Nino Marcati: O comunista que queria o impeachment de Deus

 O assunto impeachment da presidente Dilma me fez lembrar Teodoro, um cara mais do que esquisito dos meus tempos de universidade. Teodoro se dizia comunista. Conhecia o ideário como ninguém – pelo menos nunca teve nenhum camarada que o contestasse – começava no período feudal, passava por Marx e Engels, passeava pelas revoluções, chegava aos estudos até o final dos anos setenta. Nunca mais tive notícia do Teodoro. Era um bom papo no balcão do bar do Jaime, regado à cerveja gelada e tira gosto de primeira grandeza: moela de frango, torresmo, costelinha e suã. Naquelas condições, qualquer papo, era um bom papo...

Teodoro reunia todos os instrumentos concretos e abstratos de um comunista exemplar, mas caía fora da curva em um quesito que os camaradas não perdoavam. Teodoro não era ateu. Era católico praticante. Frequentava as missas todos os domingos.

Certo dia, Teodoro, liderando um pequeno grupo, lançou um movimento que pedia o impeachment de Deus. Dizia que estava na hora de trocar o comandante do Universo. Acreditava que se a maioria do planeta acolhesse a proposta, alguma coisa poderia acontecer. Dependendo da adesão, a substituição poderia ser imediata, caso não houvesse engajamento consistente, Deus teria que ceder e fazer algumas mudanças nos postos chaves.
 
Teodoro pregava que esse negócio de mandar um monte de água em determinados pontos do planeta, inundando, desabrigando e matando muita gente e, em outras regiões, seca prolongada, não era a marca de um bom administrador.
 
Questionava a distribuição irregular do frio e do calor. Para Teodoro a temperatura média agradável poderia ser mantida de forma constante. “Ele não pode tudo?”, perguntava. Condenava os vulcões, os terremotos, os maremotos, os furacões... Para Teodoro, esses fenômenos, eram totalmente desnecessários. Achava que as epidemias e as doenças poderiam ser facilmente resolvidas, bastava um gesto de compaixão. A produção de alimentos deveria ter a produtividade melhorada em todos os continentes, de forma que a fome não atormentasse mais a vida de ninguém. Teodoro aproveitou o embalo e colocou na lista de reivindicações – que seria apreciada e votada em assembleia - o fim do encerramento da vida. Teodoro confidenciava com os mais chegados que a proposta de vida eterna dificilmente passaria, pois era uma prerrogativa divina, mas era possível tentar esticar a expectativa média em cinquenta ou cem anos.
 
Em conversa reservada, Teodoro explicava que não seria fácil destituir Deus, tão cedo, da posição que ele ocupava desde o início dos séculos. Dizia que o tempo era mais do que suficiente para que se criassem estruturas instransponíveis de poder, mas que alguma coisa precisava ser feita, senão perderíamos o controle do processo. Previa que: “a continuar do jeito que estava, teríamos falta d´agua em nossas casas e para a geração de energia, doenças graves poderiam proliferar com rapidez no mundo inteiro (naquela época a AIDS não era tão conhecida), a violência poderia ganhar as ruas e os bairros chiques, a insegurança seria total... Assim, o discurso de Teodoro progredia. Chegou fazer palestras nos diretórios acadêmicos de outras escolas. Quando o movimento começava a ganhar corpo e fortalecia a ideia do impeachment, alguém lhe perguntou: “Quem é o cara que vai assumir as rédeas do Universo. Você?” Ele, humilde e democraticamente, respondeu: “não tinha pensado nisso, mas não deixa de ser uma possibilidade...”
Fonte: Nino Marcati

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