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Itapira, 26 de Abril de 2024
Artigo
19/06/2011 | O tempo é o senhor da razão?

Sempre gostei de política. Ela não desgruda dos meus glóbulos brancos e vermelhos de jeito nenhum.  Na adolescência eu participava de grupos de formação política. Era leitor assíduo de publicações como “Pasquim”, “Movimento”, “Opinião”... No colegial, fundei com amigos, um jornal impresso, que mobilizava todas as turmas do IEEESO e integrei um grêmio estudantil vibrante. Na universidade, quando dei conta, me vi envolvido com o diretório e uma greve vitoriosa. Por aqui, ajudei na organização de algumas manifestações políticas e fui um dos fundadores do PT. Nunca integrei grupos radicais.

Não quero que a introdução caracterize-se como um minicurrículo para fins eleitorais, mas enfatize que os conceitos políticos que desenvolvi não foram lastreados na personificação ou nos apegos oportunistas. Para mim, bastam as idéias e as alternativas consistentes de poder, em busca de um país melhor, para receberem o meu abraço.   

Nas eleições de 1976 apareceu, por aqui, um moço de paletó xadrez, filho de um ex-prefeito, que apresentava um discurso esquerdista - um modismo da época.  O moço era Totonho Munhoz. Ele acabou ganhando aquela disputada eleição e mudou a história política de Itapira. Instalou governo e desenvolveu liderança que dizimaram a oposição local. Era respaldado pela cidade inteira. Todo mundo se derretia por ele. Uma maioria que era vista por mim como equivocada, diga-se. Nas eleições, ele detonava os adversários. Parecia imbatível.

Não sei dizer se ele nasceu ditador ou foi um bom aprendiz dos mentores e mantenedores do golpe de 1964, o intitulado governo “revolucionário”. Soube - como ninguém - usar os mecanismos de preservação de poder e manter-se hegemônico por vinte e oito anos. Sete a mais do que os próprios militares golpistas conseguiram. Com tamanha aprovação popular, exagerou.  Usou e abusou da veneração que lhe era dedicada. Controlou os meios de comunicação e fazia o que queria com o legislativo. Matava, no ninho, qualquer pegada oposicionista. Era temido. Para mim, qualquer grupo novo que entrasse na prefeitura, seria melhor do que ele.

Em 2004, o inesperado aconteceu. O candidato que ele apoiou perdeu. Entrou no governo municipal quem era calejado da guerra. Vieram as eleições de 2008 e Munhoz perdeu de novo. Nesse meio tempo, ele se candidatou à Assembléia Legislativa, foi eleito e reeleito. Lá foi líder do governo, ocupou e ocupa a presidência da casa. Talvez o recado do berço tenha feito com que ele desenvolvesse uma postura pacífica e conciliadora, sem deixar de ser combativo e dinâmico. Conseguiu se entender até com os petistas, de lá, empedernidos. 

Vejam como são as coisas. Quando o PT assumiu o governo, todas as informações negativas que eu lia e ouvia sobre Lula, me levava à reflexão, não à condenação prévia. Buscava as explicações e o que estava atrás delas. Afinal, eu via as nossas idéias colocadas em prática, o Brasil mudando de cara e se desenvolvendo como nunca.  Por outro lado, eu nunca apresentei o mesmo comportamento avaliador com relação às críticas contra Munhoz. A condenação era antecipada, antes dos “finalmentes”.  Prevalecia o preconceito.

Entendi que essa é uma tendência de getulistas, brizolistas, juscelinistas, janistas, malufistas e companhia.  Para todos os “istas” a condenação e absolvição são relativas. Sai da razão, fica a emoção. Mas convenhamos isso, também, não é um exagero? Ou uma injustiça? Um sinal de prepotência? A assunção proprietária da verdade absoluta? A imposição ditatorial sobre as pessoas quem pensam de forma diferente?

Sábado passado, quando estávamos reunidos com Barros Munhoz na apresentação da empresa que patrocinará a Festa della Nonna, passou pela minha cabeça um flash dos últimos trinta e cinco anos. Lembrei-me das coisas boas e ruins sacramentadas por Munhoz, prefeito e deputado. Recuperei algumas críticas ácidas que eu lhe dirigia e fazia publicar. Sofri ao visualizar as reações raivosas que ele me destinava, assim como as que dedicava aos opositores em geral. Reuni parte do que se dizia – e ainda se diz – dele. Comparei suas audiências com as que tivemos com o “Novo Tempo e renovei as decepções. De vez em quando, enquanto a reunião rolava,  eu olhava para ele - agora com os olhos mais envelhecidos  -  e vislumbrava um semblante lutador, mas que mostrava uma serenidade inédita. Percebi que aquela cabeça - apesar de mais velha também - continua recheada de idéias. Talvez, diferentes e discordantes das minhas, mas ele, pelo menos, as tem e faz das tripas o coração para tentar executá-las.

Antes que a reunião terminasse, tirei um pensamento justo: “se podemos compreender os procedimentos das lideranças que seguimos, porque tendemos a crucificar os contrários? Será que são verdadeiros todos os comentários maldosos, nesse tempo todo, dirigidos a Barros Munhoz? Hoje tenho lá as minhas desconfianças”.

Felizmente, os seres humanos, graças à sua inteligência, evoluem. A experiência, o conhecimento, a paciência e a noção de justiça nos tornam, a cada dia, pessoas melhores. Com certeza, nesse meu tempo de vida, mudei. E não tenho dúvida, Barros Munhoz, também mudou! Como diz o meu amigo Brás: “O tempo é o senhor da razão”.

A defesa do bem comum diferencia-se pelos métodos. Cabe à crítica cumprir o seu papel e corrigir as distorções. Quem defende o bem comum, não se afasta de ninguém. Busca a melhor solução.   

Fonte: Nino Marcatti

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