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Itapira, 18 de Abril de 2024
Artigo
07/05/2011 | 56.

 

Dentre as minhas manias, uma esquisita, porém não sistemática, nasceu na adolescência. Não tenho notícias de relatos parecidos. Não reclamarei a originalidade. Penso que existam companheiros simílimos.

Lembrei-me, nesta semana, da primeira manifestação dessa tal mania. Em meados de mil novecentos e setenta e um, do nada, num momento de quietude e divagação juvenil, veio a idéia de me imaginar com quarenta anos a mais dos dezesseis que já tinha. De repente, lá estava eu, virtualmente, com cinquenta e seis anos. Levei um susto danado, pensei: “mas que coisa estranha... estou mais velho que meu pai. Tô velho pra caramba!”. Confesso, um friozinho mórbido varreu a minha espinha.

Era uma época em que muita gente pensava – eu também – que o mundo não passaria do ano 2000. Logo, assim que eu assumi o controle da situação, a primeira coisa que me veio à tona foi: “sem problemas, acabando o mundo, não chegarei a esses cinquenta e seis anos, não me verei tão velho”. Felizes os nascidos depois dos anos cinquenta. Esse foi o meu pensamento favorito, por alguns anos. Não nos daria a oportunidade de viver a terceira idade. Que bobagem, meu Deus! 

Volta e meia, esse “cinquenta e seis” visitava a minha imaginação. Não sei a razão, mas era um número que me fascinava. Achava ele bonito e harmonioso. Talvez por ser uma
uma sequência numérica formada por dois números localizados no meio da escala de zero a dez ou por representar o ano do meu primeiro aniversário ou por ser garantidor de aprovações fora da zona de rebaixamento. Sei lá! Nunca o usei como um número cabalístico ou de sorte.

Pelo menos uma vez por ano, desde então, eu somava anos à idade em curso. Às vezes usava trinta, noutras, quarenta, e até cinquenta entrava na roda. Bastou a ultrapassem da juventude para que essa mania me levasse a refletir, mais profundamente, sobre os anos futuros e eu dentro deles. Eu usava os parâmetros reais do momento vivente e os projetava, confrontava com as previsões otimistas e pessimistas, daí surgiam, naturalmente, as correções de rota. Não posso concluir que esses procedimentos tenham influenciados, decisivamente, a minha vida ou os meus costumes. Mas, me lembro muito bem, que ao final de cada processo instalava-se uma sensação confortável e motivadora.

Foi num desses momentos, por exemplo, - e não faz tanto tempo - que encarei a velhice de frente, sem qualquer manobra postergatória. Comecei a me preparar. Passei a desvendar atividades, desde que prazerosas, que pudessem, com naturalidade, preencher o meu dia a dia, substituindo, gradativamente, a correria, pela contemplação; o estresse, pela normalidade; a ansiedade, pela acomodação; a briga, pela pacificidade; a fúria, pela serenidade. Vi melhoras na criatividade.

Noutro momento importante veio o planejamento de cuidar do meu corpo. Antes, relegado ao segundo plano, eu permitia a deterioração dos sistemas, sem as contrapartidas fortalecedoras. Busquei atividades físicas para melhorar o meu condicionamento, reforçando, principalmente, a estrutura muscular. Comecei a frequentar as aulas de hidroginástica da Santa Fé e, mais tarde, as de natação. Nessa toada, estou entrando no quarto ano, ininterrupto.

Eis que os 56, de fato, chegaram. A partir de hoje, os meus anos de vida serão sempre superiores à dezena do ano em que nasci. Não sei qual é a importância disso, mas não deixa de ser uma novidade.

Graças a Deus, o mundo não acabou em 2000. Pude acompanhar meus filhos vencendo a infância e a adolescência. E Hoje, posso vê-los vivendo a juventude em preparação para as conquistas que virão. Espero poder acompanhar parte da vida dos meus netos. Nesse tempo vivido, entendi que a vida é uma cultura em que a gente planta e colhe. Planta e colhe. Planta e colhe...  Aprendi que a vida não se basta pela sorte, nem pelo azar, mas pela paz de espírito que ela contempla e que granjeia a alegria de viver. Razão fundamental para quem não pisa nesse planeta como reles passageiro. Que aceita a morte como parte da vida e, não necessariamente, como uma passagem para algo que possa ser melhor ou pior. Mas como um prêmio, um certificado de participação, preferencialmente, com honra ao mérito e agradecimento pelos bons serviços prestados. Antes e depois da aposentadoria.

Fonte: Nino Marcatti

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