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Itapira, 25 de Abril de 2024
Artigo
12/06/2011 | A soberania nacional e os “berlusconis” da vida!

A mais alta corte deste país considerou, por seis votos contra três, que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva era competente e estava bem fundamentado quando decidiu, em seu último dia de mandato, pela não extradição de Cesare Battisti. Uma decisão que jamais poderá ser alegada como tendenciosa aos movimentos de esquerda. A aura conservadora ainda perambula pelas nossas instâncias superiores de justiça. Como, também, façamos justiça, ninguém poderá dizer que ela está debruçada na carência de qualidade dos nossos juristas maiores. Foi-se esse tempo.

Quando Lula decidiu pela não extradição, ele sabia da responsabilidade, interna e externa, do seu ato. Não pretendia colocar uma ação impensada, desafeita da realidade, como símbolo derradeiro do seu governo. Procurou alicerçar-se nos mais renomados jurídicos brasileiros. Não era a liberdade de Battisti que estava em jogo. Era o Brasil.

Da mesma forma, o STF ao reconhecer a licitude da decisão de Lula e conceder liberdade ao ex-ativista, não pensou nas enxurradas de críticas que viriam dos setores mais conservadores da nossa sociedade e de muitos países, estes mal acostumados nas suas relações com o terceiro mundo. Pensou na nossa história, no nosso futuro. Não era a liberdade de Battisti que estava em jogo. Era o Brasil.

Assim como sou brasileiro, nascido e criado, amante e briguento por esta terra que piso a mais de meio século, sou italiano, com cidadania reconhecida, por direito, com orgulho pela origem e história da minha família e pela imensidão de imigrantes que ajudaram a erguer este país varonil. Dupla cidadania que me dá, em tese, o direito de falar sobre os dois países sem desatinar na diplomacia.

A democracia italiana é vigorosa, está à frente da brasileira. Mas seus políticos não estão tão distantes dos nossos como se imagina. A corrupção, por lá, também corre solta, principalmente, de Roma para baixo. A economia italiana é consistente. Mas não anda bem das pernas. Entre 2001 e 2010 a Itália apresentou taxa de crescimento média na ordem de 0,2%.  O Brasil, só em 2010, cresceu 7,5%. Passamos a Itália. Hoje ocupamos a sétima posição. A economia italiana é a que apresenta o menor dinamismo no continente europeu. E sabe quem é apontado como responsável pelo descalabro italiano? 

A revista britânica “The Economist” qualificou, recentemente em matéria de capa, o premiê italiano e magnata das comunicações, Silvio Berlusconi, como “o homem que ferrou um país inteiro”. Além disso, ele é convocado constantemente para comparecer à corte judicial para dar várias explicações, entre as quais abuso de poder, suborno e envolvimento com prostituição de menores. Sofreu derrotas nas eleições regionais. Perdeu em Nápoles, Bolonha, Turim, Trieste, e, no seu berço político, Milão.  É o alvo preferido de chacota na imprensa internacional. Não era a liberdade de Battisti que estava em jogo. Era o futuro de Berlusconi.

Não faz muito tempo, o deputado Ettore Pirovano, distinto representante da coalizão berlusconiana, sobre a extradição, proferiu o seguinte comentário: “Não me parece que o Brasil seja reconhecido por seus juristas, mas sim por suas dançarinas”. 

Berlusconi queria ver Battisti na cadeia. Fez dele um símbolo. Queria oferecer à opinião pública italiana um “terrorista vermelho” dos anos 70 recapturado. Esperava encobrir a incompetência do seu governo e ver a sua popularidade aumentar, do centro para a direita.  Mas o Brasil não é mais cordeiro da vontade internacional. Não participou de mais essa festa que ele queria dar.

Se não bastasse a pressão externa, de onde vêm as críticas internas? Alguns setores brasileiros resolveram se colocar acima da mais alta corte de justiça do país. Parte da mídia brasileira está criticando ferozmente a decisão do STF. Qual é a intenção dessa gente? Estabelecer uma instância internacional para dar cabo aos nossos preceitos constitucionais? Nada disso! 

Só para estabelecer pontos para comparações: Battisti recebeu asilo político do então presidente francês, François Miterrand, sem que ele recebesse uma gota de pressão italiana, quando comparada à que Lula recebeu. Mais recentemente, uma contemporânea de Battisti, Marina Petrella, ex-membro das Brigadas Vermelhas italianas, também condenada à prisão perpétua, viu o presidente francês, Nicolas Sarkozy, anular a sua extradição, num gesto semelhante ao de Lula, atrapalhando os planos de Berlusconi, sem que qualquer discussão ácida ou condenação viesse à tona. A diferença? Soberania! Um dia a gente vai saber o que é isso, por inteiro.  

Fonte: Nino Marcatti

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