A Zona Azul tem a finalidade de garantir a rotatividade do estacionamento de veículos nas vias públicas em determinados setores. É uma das excrescências da modernidade e do crescimento desordenado das cidades.

Na última década do século passado circulavam pelas nossas ruas cerca de dez mil veículos automotores. Hoje, beiramos os trinta e cinco mil. Entre esses, vinte mil automóveis e dez mil motocicletas. A cidade cresceu, mas o velho centro continua igual. É a região que concentra o sistema financeiro, os cartórios e o setor comercial mais vigoroso da cidade. Agentes que chamam para si milhares de pessoas, todos os dias: necessitadas, curiosas, pesquisadoras ou passeadoras. Muitas motorizadas.

Os espaços reservados para estacionamento livre não suportam a demanda. A maioria deseja a vaga perto do estabelecimento eleito. Estacionar e andar três ou quatro quarteirões, nas paralelas, nem pensar. Não bastasse a comodidade exacerbada, o oportunismo de alguns comerciantes e trabalhadores abocanha a vaga desprevenida pela manhã para soltá-la só à tarde, depois do expediente. Uma vaga que poderia virar, durante o dia, no mínimo, nove.

Alguns comerciantes, antenados, já perceberam que a falta de estacionamento na região não é mais um problema só do cliente. Com o desenvolvimento de outras ruas comerciais  importantes, diante da dificuldade de vaga, o cliente motorizado buscará a facilidade. Atitude crescente que poderá - se já não estiver acontecendo - afetará a meta e o faturamento mensal.

Não sei por que cargas d’água a Prefeitura lavou a mãos e permitiu a politização do processo. Partiu para a idéia da terceirização, como se a privatização permissionária fosse solução para todos os males e ônus de uma gestão. A câmara imaginou que as entidades assistenciais se desvencilhassem parte da sua atividade principal, montassem uma estrutura paralela, assumissem os riscos da empreitada e angariassem gratuitamente a antipatia de algumas pessoas, pelo resultado incerto. A intenção era boa.

O grande entrave da exploração lucrativa dos estacionamentos nas vias públicas está na responsabilidade securitária. Quem tem o bônus, arca com o ônus. Existem pencas de sentenças judiciais, em diversas cidades, favoráveis aos usuários contra as terceirizadas por danos e furtos nas zonas azuis. Na prática, uma atividade privada que não compensa.   

Será que não seria melhor deixar isso de lado e o povo que se ajeite com bem entender? Penso que não. Pela importância do problema e pelo volume envolvido a responsabilidade recai sobre o poder público. Disciplinar o estacionamento rotativo do centro da cidade atende aos interesses da população e dos comerciantes lá estabelecidos. Caberia, quem sabe, uma solução tripartite.

Eu conheci uma experiência italiana, na cidade de Montebelluna (Treviso), que adaptada à nossa realidade poderia ser encaminhada mais ou menos assim:

1)      Com custo operacional reduzido, a Prefeitura arcaria com a organização e a fiscalização através da guarda municipal. O mesmo grupo destinado para segurança das pessoas naquela região.

2)      Um cartão, tipo relógio com ponteiros plásticos, anual permitiria ao veículo uma hora de estacionamento. Não se pagaria para estacionar, apenas a taxa anual do cartão.   

3)      A venda, a divulgação e a conscientização dos usuários ficariam por conta dos comerciantes, sem remuneração. 

4)      A não visibilidade do cartão, a tentativa de fraude ou a ultrapassagem do tempo limite sofreriam com a retirada do veículo, via guincho na forma da lei. Não haveria multa, recursos etc..

Enfim, é uma proposta. Outras poderiam aparecer na medida em que as cabeças pensantes da cidade buscassem mais soluções.

Eu sonho com uma cidade que tenha prefeito e vereadores trabalhando sempre para o bem comum, de acordo com as propostas eleitorais. Sonho, também, com um povo, nas suas ruas e nos seus bairros, discutindo e sugerindo idéias factíveis para melhorar o dia a dia de todos nós. Sonho meu!